Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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quarta-feira, junho 28, 2006

Um olhar sobre a televisão 2


Todos os anos, os canais de televisão quer em sinal aberto, quer por cabo, propõem novidades no que concerne a programação. Muitos dos programas de entretenimento, nomeadamente de ficção, são comprados no mercado americano. Portugal não foge à regra, apesar de os canais privados como a TVI ou a SIC terem reforçado a emissão de conteúdos ficcionais de origem nacional. Aliás, desde o ano 2000 que a TVI, sob a liderança de José Eduardo Moniz, vai apostando em telenovelas “made in Portugal”.

Não será mentira afirmar que a qualidade desses programas é fraca comparada com as televisões americana e brasileira. Estas últimas duas beneficiam de uma experiência maior, bem como de orçamentos superiores. Com os anos, verifica-se que o canal português aperfeiçoou a qualidade dos programas de ficção, em diversos aspectos. Apesar de não acompanhar nenhum desses programas por não me identificar com nenhum deles, aprecio e reconheço que esta aposta nacional permite o desenvolvimento de todo uma indústria televisiva nacional e, num futuro próximo, de uma indústria cinematográfica com grande potencial.

A SIC está definitivamente a passar um mau bocado. A contratação de Francisco Penim como Director de Programas revela ser um fracasso. Teria sido melhor ficar na programação da SIC por cabo, nomeadamente a SIC Radical – mas compreende-se o desejo de vencer no mundo implacável da televisão. A Teresa Guilherme e a sua produtora tentam dar um novo fôlego com séries portuguesas. Porém, o formato está gasto. Basta ver a RTP Memória para compreender o porquê desta afirmação.

Um pequeno lamento em relação à queda de popularidade do programa Herman SIC. A culpa é do apresentador que tornou um óptimo programa num autêntico desfile de “freaks”. Penso que chegou a altura de os outros canais apostarem num formato parecido. A RTP dispõe de dois grandes apresentadores como Jorge Gabriel ou Carlos Malato (com preferência para o segundo). Jay Leno continua a ser a grande referência e fonte de inspiração para este tipo de “talk show”.

A verdadeira aposta conseguida nas produções portuguesas vai para os programas de carácter informativo. Todos os canais, inclusive os do CABO, têm programas de informação com qualidade. Nos canais em sinal aberto, destaco “prós e contras” da RTP e algumas entrevistas no “Grande Entrevista”, apresentado por Judite de Sousa. Os momentos “Marcelo Rebelo de Sousa” não têm o mesmo fulgor do passado, mas continuam interessantes. De forma geral, os telejornais não correspondem àquilo que considero importante num jornal noticioso. Muito tempo de telejornal, mas pouco tempo para verdadeiras notícias. A inclusão de reportagens não é negativa, se não for mais justifica os dinheiros gastos na realização das mesmas.

A verdadeira informação encontra-se na SIC Notícias e na RTP N. Desde a revista de imprensa, na manhã, aos programas de debate como a “Quadratura do Círculo”, a informação em contínuo não aborrece o telespectador. É de louvar o “Estado da Arte”, com o comentador Paulo Portas. Uma nota: mais do que um comentário político, existe um objectivo subliminar em converter os telespectadores para os ideais de Direita, pelo menos os seus.

A ficção americana é de longe o melhor que se pode ver para se sentir transportado para um outro mundo. Para além do cinema, que é uma óbvia receita para o sucesso, as séries televisivas deste ano foram de uma surpresa muito agradável. Falo em surpresa porque o conceito das séries de acção – em que se fundamentam principalmente os argumentos – estava ultrapassado. Séries como 24, Lost, Dr. House mostram uma nova forma de realização e de abordagens de temas recorrentes. De todos, o meu preferido vai para o Lost. Há muito que não via algo de tão cativante e empolgante. A ligação entre os episódios, o recurso estratégico aos “flashbacks” na caracterização das personagens, a própria especulação que cria com os momentos de discussão entre os meus amigos são pequenos exemplos entre muitos que mostram a novidade que esta série trouxe no panorama televisivo americano e, claro, mundial.

Com maior ou menor intensidade, pelas boas ou más razões, a televisão faz parte da vida de todos nós. Gostos não se discutem, como tal, a expressão “tele-lixo” não tem razão de existir. Não concordo com aquilo que acabei de escrever, mas, nesse ponto, a minha opinião de nada vale.

Destaque da semana


A demissão do Primeiro-Ministro timorense, Mari Alkatari, provoca violência nas ruas de Díli.

E porque não rever a Constituição timorense depois de novas eleições?

terça-feira, junho 27, 2006

Na minha biblioteca

segunda-feira, junho 26, 2006

Como ser um bom professor


Nesta crónica, não pretendo dar dicas ou conselhos sobre como ser um bom professor, pois não tenho sabedoria, nem autoridade moral para tal. Inspiro-me numa reportagem que serviu de capa à revista Visão, publicada na semana passada. Depois de tantas polémicas entre a Ministra da Educação e os professores, uma coisa ficou certa: uma escola serve para ensinar e, por mais que se diga mal dos professores, sem eles não há aprendizagem. A questão é: que tipo de ensino queremos e que tipo de professores servem para cumprir esse objectivo?

Na reportagem da revista em questão, tenta-se determinar quais as qualidades de um bom docente, questionando pedagogos, alunos e pais. Nos testemunhos dados, as opiniões divergem relativamente ao perfil de um bom professor. Alguns dão primazia para o domínio da matéria que ensina e da capacidade em transmiti-la, outros falam no lado das relações humanas entre docentes e alunos. É óbvio que não se trata de um estudo estatístico rigoroso, no entanto, verificamos que estas posições reflectem duas formas diferentes de encarar o estatuto de professor na escola e na sociedade. Ter vocação para ensinar não é para todos, evidentemente. Mas, nos últimos anos, a sociedade tem exigido que os professores não só ensinem como sejam psicólogos e assistentes sociais. As últimas reformas educativas reflectem esse espírito de relações humanas. Não sendo de todo negativo, estas reformas têm sido efectuadas em detrimento do verdadeiro objectivo da escola, a saber, a transmissão de conhecimentos. Porém, a dúvida reside em saber se este é o caminho certo. Se o é, não se percebe então a razão de existir cursos superiores em psicologia e em acção social. Na verdade, os professores não têm formação especial nesses domínios. Todas as diligências no âmbito relacional são tomadas com base na maturidade dos docentes e nas suas experiências pessoais, o que é sempre perigoso. Problemas como a violência doméstica ou a pobreza não podem ser tratados levemente, pois as consequências podem ser dramáticas.

Tem-se falado muito numa maior responsabilização dos pais no processo educativo dos filhos. Contudo, é preciso reconhecer que quando o país exige aos seus cidadãos maior produtividade para fazer face à crise económica, estes acabam por não ter tempo para acompanhar convenientemente a vida dos filhos. É um pau de dois bicos que o governo tenta resolver alargando as competências dos professores, nomeadamente ao prolongar o acompanhamento dos alunos em horário extracurricular.

Voltando à revista. Uma parte interessante da reportagem consiste no testemunho de alunos sobre os professores que os marcaram. Muitos se referem a professores exigentes, mas “apaixonados”. Professores apaixonados pelo que ensinam conseguem estimular os alunos, mas não aceitam estudantes que não se empenhem e não demonstrem vontade de aprender. Numa só palavra: trabalho. Só a exigência do trabalho permite vencer na escola, como na vida. Se a escola é o primeiro meio de um indivíduo contactar com a sociedade, que o seja mas de forma integrante e exigente. A empatia que o docente cria com os alunos nasce frequentemente de momentos mais descontraídos na sala de aula e por vezes de conversas que nada têm a ver propriamente com as aulas. É uma estratégia para chegar perto dos alunos. Contudo, não é forçosamente a forma ideal de controlar uma turma. Alguns jovens só se deparam com um sistema de regras e uma figura de autoridade dentro da escola, porque em casa os pais ou se demitiram das suas responsabilidades, ou simplesmente não existem. Por mais que se reforcem os poderes dos professores, se estes não os conseguem exercer, nada feito. Se cada escola, cada turma, cada aluno deve ser visto caso a caso, de uma forma geral, o domínio dos saberes e uma boa preparação das aulas permitem muitas vezes ao professor atenuar a indisciplina. Ao perguntarmos a pessoas mais velhas quais os professores que lhes ficam na memória pelas boas razões, estas falam sobretudo acerca daqueles professores com quem aprenderam algo. Falam, por exemplo, daqueles que conseguiram incutir o gosto pelos livros, pelas ciências, etc. Com tudo isto, o que quero dizer é que ser-se professor não se resume a um concurso de “mister” ou “miss” simpatia.

Nestas últimas semanas, o debate que incide sobre a classe docente tem sido altamente positivo. Por mais que se acuse a Ministra da Educação de querer desprestigiar o estatuto dos professores com as novas medidas anunciadas, ninguém pode negar a importância desta profissão na sociedade, no passado, no presente e no futuro. Neste tema, como em nenhum outro, por estar directa ou indirectamente envolvidos, todos têm algo a dizer. Quando este governo aposta no choque tecnológico, só reforça a ideia de que, sem professores, um país não se pode desenvolver. Por mais que haja novas tecnologias, estas não passam de meros instrumentos para chegar ao conhecimento. A figura humana como transmissora directa do saber, representada pelo professor, ainda se mantém e se manterá por muito tempo.

Respondendo àqueles que ainda têm dúvidas sobre a real competência dos professores no processo de ensino-aprendizagem, não será de todo impertinente reparar que os grandes intelectuais, artistas e até políticos tiveram pais cuja profissão era a de professor. Por isso, em vez de imitar um vizinho que comprou um novo ecrã plasma ou um carro novo, seria mais útil imitar o professor que inscreveu o seu filho no conservatório de música ou a filha no ballet.

quarta-feira, junho 21, 2006

Um olhar sobre a televisão


O verão começou e a televisão, a melhor amiga de muitos habitantes da Terra – incluindo a minha pessoa – fará uma pausa na sua programação dita de “excelência”.
Nada melhor para fazer um balanço daquilo que os diversos canais de televisão, em sinal aberto e por cabo, propuseram ao longo do ano.

Em breve, será apresentada uma visão pessoal acerca do assunto. Por enquanto, adianto que a ficção americana vence para melhor programa televisivo. A programação portuguesa destaca-se pelos seus programas de índole informativa.

Na minha biblioteca

Destaque da semana


Cimeira União Europeia - Estados Unidos da América
O eixo transatlântico (re)unido?

segunda-feira, junho 19, 2006

São os pobres livres?


Afinal, o que é a liberdade? Em princípio, todos aqueles e aquelas que me lêem são livres. Mas serão livres da mesma forma? E, se olharmos para um globo, esta pergunta ainda se torna mais perturbante. Mas uma observação se pode fazer: quanto mais desenvolvido é um país, mais existe liberdade. No entanto, a pobreza encontra-se em todo o lado. Por isso, é sempre chocante ver situações de pobreza nos países mais ricos do mundo. Quem depende de outros para poder sobreviver não se pode considerar livre. Muitos dos conflitos a que assistimos pelo mundo fora resultam em grande parte de situações de extrema pobreza aliada à exploração por parte de governantes sem escrúpulos sobre os seus povos. Nestes casos, como fazer chegar a liberdade a estas nações?

Timor não é um estado falhado como alguns analistas o diagnosticam. Não o será porque simplesmente tem sorte. Tem sorte em estar rodeado pela Austrália e apadrinhado por Portugal. Apesar de possuir instituições democráticas recentes e, em consequência, fracas, as principais figuras do país são pessoas credíveis. O mal do actual conflito reside na extrema pobreza em que por lá se vive e das dificuldades em alinhar um rumo para o progresso. O contrato entre Timor e Austrália para a exploração do petróleo será a alavanca para o desenvolvimento da nova nação do século XXI, mas é preciso reconhecer que ela não está minimamente preparada para saber usufruir desta oportunidade. A corrupção espreita pelos corredores do parlamente e de alguns ministérios. Servir o país passará para segunda prioridade depois de servir os interesses pessoais. As Nações Unidas, se querem manter a credibilidade que ganharam com a independência de Timor, devem voltar para lá e ajudar as instituições democráticas timorenses. Sem liberdade não há desenvolvimento, mas sem desenvolvimento não há liberdade. Só um Estado de Direito forte garante esta possibilidade.

Os países livres com democracias estabelecidas e sustentadas têm o dever de apoiar os países em desenvolvimento e os Estados considerados falhados. Não se trata de um dever moral – que também o é –, mas um dever preventivo contra as ameaças que o terrorismo trouxe no princípio deste século. Com esta afirmação, não se pretende apoiar guerras preventivas; trata-se de criar condições para que as populações possam aceder a comida, cuidados de saúde, acesso à educação, o que tudo somado dará a liberdade concretizada por um regime político: o democrático. Para muitos países situados em África ou na Ásia, a “Casa da Liberdade” deve ser começada por baixo e não pela substituição dos seus governantes. A globalização tem, nesses aspecto, um papel positivo. O estabelecimento do comércio livre permite a abertura à exportação e também dos nossos mercados aos bens dos países pobres. Por isso, é injusto o apoio que a União Europeia, por intermédio da PAC, dá aos seus agricultores. Para exemplificar o ridículo: segundo o Human Development Report 2003, no ano 2000, uma vaca europeia recebia 913 dólares em subsídio agrícola enquanto que uma pessoa africana recebia oito. Não se pode pregar o bom do comércio livre e, ao mesmo tempo, estabelecer medidas proteccionistas relativamente ao que é produzido fora. O perdão de dívidas bem como o aumento do auxílio monetário é outro passo a ser dado pelos países ricos. Todo o apoio que a Comunidade Internacional possa dar na fiscalização do uso correcto dos dinheiros é bem-vindo.

Para os países em desenvolvimento é mais do nunca necessário muito estadismo, isto é, uma presença “omnipresente” do Estado. No entanto, não é preciso um Estado grande, mas sim um Estado forte e eficaz. A máxima que diz que se deve ensinar um pobre a pescar, em vez de lhe dar o peixe continua actual e pertinente.

quinta-feira, junho 15, 2006

Destaque da semana


Visita surpresa do presidente norte-americano ao Iraque.
Ver "olhos nos olhos".

terça-feira, junho 13, 2006

Um outro mundo


domingo, junho 11, 2006

Sobre escravas, barcos e professores


As escravas do século XXI

O espectáculo desportivo mais mediático do mundo começou. O mundial de futebol que decorre na Alemanha reaviva os nacionalismos mas de forma positiva e divertida. Cânticos guerreiros, pinturas nas caras e bandeiras no ar animam os cidadãos do mundo inteiro, sobretudo os das nações envolvidas nas competições. A Alemanha fornece toda uma amálgama de divertimentos como ecrãs nas praças principais das suas cidades; os negócios de restauração a comida e muita bebida para os eufóricos do futebol. Sendo um desporto de carácter machista, neste mundial a novidade vai para os negócios do sexo.

Com a benevolência do governo, abriram dezenas de casas de prostituição no país. Nada de mal, cada um sabe de si. No entanto, não se poderá dizer o mesmo das mulheres que prestam os seus serviços. Não existe um número oficial, mas muitas mulheres oriundas dos países do leste europeu ou do sul da América são autênticas vítimas de exploração sexual. No século XXI, este é um dos negócios mais obscuro, perigoso e nojento a que podemos assistir, pois estas mulheres estão por todo o lado, até em regiões mais recônditas de Portugal.

Países como a Moldávia, a Albânia ou a Ucrânia deviam ter vergonha. O processo de emigração das suas cidadãs é dos mais violentos que só relembra o período de escravatura em África. As mulheres são completamente enganadas e levadas à força em carros até à fronteira e depois de barco até Itália, com a complacência das autoridades policiais. A corrupção está de tal modo enraizada que ninguém é inocente, nem mesmo o governo. A União Europeia deve pressionar esses países para que controlem melhor as suas fronteiras e investiguem os anúncios dos jornais que propõem casamentos com cidadãos da U.E. e trabalhos “honestos” e bem pagos. Mas também dentro da União Europeia é preciso controlar as casas de alterne ou de prostituição. Mais uma vez, o debate sobre a legalização da prostituição vem à baila. Como diz alguma Esquerda, as pessoas são livres de fazerem o que querem com o seu corpo. Acrescento: logo que não sejam obrigadas.

A tradição volta à linha

Como todos os anos, temos a polémica sobre o transporte marítimo de passageiros nos Açores durante o verão. Como diz a voz popular, é sempre a mesma treta, para não dizer algo mais vulgar. Será que vamos ter saudades do Golfinho Azul da Açorline? A Transmaçor não podia ter começado pior. Aliás, pior seria um acidente, umas vítimas mortais, com os Açores a abrirem os telejornais nacionais e estrangeiros. É que, com a pressão que é feita pelo governo regional e pelas cláusulas do contrato, é de recear que a empresa não cumpra todas as medidas de segurança obrigatórias para o transporte de passageiros.

O Secretário Regional da Economia reconheceu o óbvio: este negócio não atrai os empresários privados. Nalguns empreendimentos, como este, justifica-se o investimento público. Não se percebe então a razão da insistência do governo em realizar um concurso para que investidores privados assumam esta responsabilidade. Seria uma grande oportunidade para criar uma nova empresa pública que estabelecesse uma ligação marítima para as pessoas entre as ilhas do arquipélago. A União Europeia, no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio, pode perfeitamente apoiar esta iniciativa.

Sabendo que é um investimento muito avultado, não é concebível entregar este negócio a empresas privadas açorianas, daí a razão de o governo regional participar exclusiva e unilateralmente. A SATA é a menina de ouro do governo e bem podia alargar o seu sector de actividade a transportes marítimos de passageiros; fique aqui a sugestão.

A greve dos malditos

A proposta de greve por alguns sindicatos de professores marcada para o dia 14 de Junho, e em véspera de feriado, só serve para denegrir ainda mais a classe docente portuguesa. Após as acusações polémicas da Ministra da Educação, os sindicatos e professores estiveram, pelo menos, duas semanas no topo da agenda mediática nacional. Foi positivo porque se debateu as questões da educação em Portugal. A Ministra acabou por voltar atrás nas suas declarações, mesmo que não o tenha assumido. A proposta do novo estatuto de carreira dos docentes encontra-se ainda em fase de discussão pública. Não há razões sustentadas para a greve. Aos sindicatos cabe-lhes a missão de negociar exaustivamente cada uma das alíneas da proposta pelo ministério e não de protestar cada vez que se quer mudar o sistema educativo. Até agora, a opinião pública esteve ao lado dos professores, de tão inaceitáveis que são algumas das intenções do ministério. Todavia, com a greve, os docentes serão acusados outra vez de oportunistas preguiçosos. Mas, que seja claro, desprestigiar os professores só contribui para assassinar o ensino em Portugal e, consequentemente, condenar o futuro das próximas gerações.

domingo, junho 04, 2006

O preço da competitividade


A União Europeia (U.E.) confronta o modelo capitalista dos Estados Unidos com o seu modelo denominado de social e solidário. Não deixando ambas as perspectivas de serem economias de mercado, elas apresentam diferenças bem claras, sobretudo no âmbito das políticas sociais e de apoio aos trabalhadores. Obviamente, uma dúvida surge: qual é o melhor modelo num mundo globalizado como o de hoje? O americano ou o europeu?

Para começar, falar num só modelo europeu pode não ser rigorosamente verdade. Segundo um estudo académico da autoria de Peter A. Hall e David Soskice – Varieties of Capitalism: The Insitutional Foundation of Comparative Advantage, Oxford University Press – a Europa apresenta vários tipos de capitalismo democrático. Estes académicos identificam dois grandes tipos de capitalismo económico: a economia de mercado liberal e a economia de mercado coordenado. No primeiro modelo, inserem-se economias como as dos Estados Unidos, Inglaterra e Irlanda; no segundo, Alemanha, Holanda e os países escandinavos. Onde se inclui Portugal? Segundo estes autores, Portugal, tal como a França, a Espanha ou a Itália “ocupam posições ambíguas”. Qualificam estas economias de “mediterrânicas” por terem um vasto sector agrícola, com uma intervenção do Estado bastante alargada e de favorecerem a Dolce Vita – família, tempos livres, diversão. De facto, definir o modelo económico europeu como sendo único não é tarefa fácil. Os resultados das performances de cada modelo podem servir de base comparativa para saber qual o melhor.

Os americanos defendem pouca a intervenção do Estado, dando assim maior responsabilidade aos indivíduos pelos seus destinos. Os europeus preferem responsabilizar o Estado para que ninguém fique à margem do processo de integração social. Por isso, o peso do imposto federal nos Estados Unidos situa-se abaixo dos 30% e na Europa a média do peso dos impostos situa-se acima dos 40%. Se é verdade que existem grandes desigualdades na distribuição da riqueza na América, não será menos verdade que em muitos países da União Europeia, nomeadamente Portugal, ocorre a mesma situação. Quanto às oportunidades de trabalho, assunto que mais interessa neste período de deslocalizações de empresas e do aumento do desemprego. A economia de mercado liberal favorece a empregabilidade, enquanto que “a economia de mercado coordenado tem diferenças salariais menores e fornece mais assistência social aos desempregados”. A hipótese de conjugar estas duas modalidades é tentadora. Contudo, não parece exequível. Numa economia liberal é mais fácil despedir alguém do que a economia de mercado coordenado. A tentação da União Europeia em adoptar um modelo mais liberal é polémica, mas compreensível. Problemas como o aumento do desemprego a longo termo, ou a crise das Instituições de Segurança Social têm levado os governantes a tomarem medidas impopulares relativamente aos trabalhadores. Ao anunciar medidas que acabam com certos “direitos adquiridos” ou que reduzem o tempo da atribuição do subsídio de desemprego, certos países da U.E. provam que o actual modelo económico-social se encontra em declínio (não tendo, nem sequer, aguentado um século de vida). Como a concorrência entre os continentes – pois já não é entre países – é forte, pretende-se aumentar a produtividade. Mas esta medida tem um preço. Como as regras não são todas iguais para todos os países, e a U.E. não pode encetar por um estilo desonesto de concorrência, esta vê-se aos poucos obrigada a permitir que os países da União alterem os códigos de trabalho e os apoios estatais para atrair o investimento privado nacional e estrangeiro. Porém, os investidores privados não gostam de um “Estado-providência”, demasiado protector e intrometido. Mesmo se alguns governos europeus recusam o epíteto de liberais, as grandes reformas até agora efectuadas vão ao encontro dessas mesmas políticas tão odiadas. Quer-se mais produtividade? Segundo dados da OCDE, em 1999 os alemães trabalhavam “em média pouco mais de 1500 horas por ano. Nos Estados Unidos, 2000 horas por ano. Continuando com as estatísticas: “Nos Estados Unidos, quase três quartos da população em idade activa tinha emprego, a comparar com menos de dois terços dos alemães e franceses”.

Como se pode observar, mais produtividade implica menos direitos e regalias sociais. Não se pode ter tudo. Este é o problema fundamental dos países da União Europeia. Os dirigentes políticos recusam o espírito liberal da economia praticada no outro lado do Atlântico, mas legislam leis mais próximas desse mesmo liberalismo. Ou, então, recusam determinantemente efectuar reformas que se aproximem desse modelo e, em consequência, o país estagna, como é o caso da França.

Respondendo à dúvida inicial, o modelo americano parece ser o mais indicado para fazer face aos novos desafios que a globalização impõe. No entanto, a U.E., por culpa dos seus sindicatos e dos partidos de Esquerda, não está preparada para suportar o custo que essa mudança pode trazer. Sobra-lhe a utopia do modelo social europeu.