Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

A minha foto
Nome:
Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal

segunda-feira, março 31, 2008

Se um canal de televisão do continente (nem que fosse do cabo) levasse o tempo que a RTP Açores está a levar para a sua reestruturação ou tinha encerrado ou o seu director despedido.

domingo, março 30, 2008


O poeta Manuel Alegre esteve nos Açores para o lançamento do belíssimo livro intitulado Escrito no Mar, no qual colaborou com poemas, por sua vez, ilustrados com fotografias de Jorge de Barros. No seu discurso, Alegre enalteceu o serviço público de saúde açoriano e elogiou Carlos César, dizendo que nos Açores existe um socialismo que deve servir de inspiração aos socialistas do continente.



Enquanto poeta, Alegre é impressionante, irrepreensível e unificador. Enquanto político de pertença socialista, Alegre provoca discordâncias e alguma surpresa consternante. Os Açores socialista de César podem parecer melhor do que o continente socialista de Sócrates. Contudo, a realidade é outra; pelo menos na minha acepção de realidade. Os Açores ainda são muito pobres, díspares, centralizados e pouco dados à libertação individual. Isso, Manuel Alegre não deve ter visto. No meio da paisagem rude e majestosa do Pico, Alegre “encontrou” poemas escondidos nas entranhas do basalto negro, mas não viu que o socialismo de César fez com que o açoriano deixasse de ser uno para se subdividir em dois: o açoriano e o micaelense.



Perante a ruptura disfarçada que Manuel Alegre assumiu para com o Partido Socialista – desde a sua candidatura à presidência da república até à sua luta contra as políticas de saúde empreendidas pelo actual governo –, com os recentes elogios ao governo açoriano, interrogo-me sobre os desígnios socialistas que o deputado-poeta defende, as reformas políticas do governo de Sócrates e o futuro do Partido Socialista. Qual deles toma as melhores decisões para o país? Qual deles é o melhor socialismo para o século XXI?



Sendo de Direita, esta análise será sempre facciosa. À partida, para mim, o socialismo não deixa de ser um equívoco, porque nasce de uma base utópica, com a premissa de que as pessoas aspiram a serem iguais e que o Estado é o único garante dessa aspiração. O problema do socialismo, e da Esquerda em geral, é de ter medo do liberalismo. E aqui trata-se do liberalismo económico e não dos costumes e valores. Nesta segunda vertente, os partidos de Esquerda são bastante liberais, porque se abordarmos este conceito literalmente, liberal é quem, por exemplo, defenda a liberalização do aborto ou das drogas chamadas leves. Vemos que abraçam a liberdade dos costumes, mas, na liberdade económica, já se distanciam e até a ligam ao capitalismo americano pintando-a como uma selva, onde é cada um por si e onde o mais fraco é sempre prejudicado. Esta é uma visão estereotipada que conquista muitos seguidores. Mas, pelo contrário, o liberalismo implica uma intervenção cuidada do Estado que trata de arbitrar as regras, criando normas, impedir monopólios, permitindo que o mercado funcione livremente. O socialismo, segundo Sócrates, percebeu esta possibilidade e esta obrigatoriedade no mundo globalizado de hoje. Porém, não foi capaz de se libertar da sua raiz socialista, pois implicava uma cisão com o partido. Este socialismo de centro-direita acabou defraudar as expectativas dos socialistas e deturpar o conceito liberal, denegrindo a ideologia dos partidos da Direita portuguesa.



É interessante reparar que nas reformas empreendidas, o governo socialista teve sempre problemas de consciência social e só se sentiu menos culpado quando atribuiu “pequenas esmolas” às classes mais desfavorecidas. Medidas como os complementos de reforma e os apoios à natalidade serviram para dizer à Esquerda que continuava a ser um governo socialista, mas, na verdade, não resolvem a questão da pobreza e das diferenças entre as classes. Este é o primeiro erro que o socialismo do século XXI comete. O dinheiro não resolve tudo, sobretudo se for às pinguinhas. O segundo erro do socialismo do século XXI está nos ideais de Manuel Alegre. Defende um Estado muito presencial em vários sectores de actividade e da vida das pessoas. Mas esta questão, reconheço, é ainda muito subjectiva em Portugal. Antes de mais, é preciso redefinir o papel do Estado na sociedade. Ao dizer que se estivesse no poder desmantelava o Estado em seis meses, Luís Filipe Menezes assustou as pessoas e aniquilou o debate que falta para reequacionar as ideologias políticas dominantes.



Em tempos de crise e de incertezas quanto ao futuro, é óbvio que o primeiro a defender que o Estado tome conta de tudo terá a simpatia de todos. Agora, não se pode ter os dois: impostos baixos com um Estado-providência.

domingo, março 23, 2008

O dia dos antiamericanos


O tema central da semana passada foi a comemoração da Cimeira das Lajes e dos 5 anos da invasão do Iraque. Pouco depois, a comunicação social, nomeadamente a televisão, caiu em si e deixou de falar em aniversário para simplesmente relembrar datas e fazer o balanço da guerra e dos resultados obtidos até agora. Mas dessa semana há um detalhe que ninguém se lembrou de evocar e que define claramente uma filosofia que acompanhou toda a governação Bush, desde o 11 de Setembro. O dia da Cimeira das Lajes tornou-se o dia dos antiamericanos. Há dia para tudo, e agora há o dia para aqueles que se dizem anti Bush, mas cujo ódio, na verdade, vai para além de um presidente para se estender a todo um país, uma cultura e um povo.



A guerra do Iraque dividiu opiniões no antes, durante e depois consumação. Sempre defendi a tese da Administração Bush, acerca da luta contra o terrorismo global e o pressuposto de que é preciso atacar um país, de forma preventiva, que sirva de refúgio a terroristas ou que nitidamente maltrate o seu povo, sendo as ditaduras o corolário destas situações. Por mim, só o facto de Saddam Hussein existir dava amplamente razão à intenção do governo norte-americano invadir o país e tirá-lo do país. O período a seguir à guerra, propriamente dita, e que se prolongue até agora – que é o da dita ocupação, pacificação e democratização por parte dos militares e civis americanos – é, de facto, problemático. Porém, não é difícil reparar que esse período não foi suficientemente preparado, que houve erros de estratégia flagrantes e outros menos evidentes que só agora, com uma análise mais recuada e madura, permite identificar e resolver. Contudo, no meio das manifestações “pacíficas” contra a invasão do Iraque, surgem vozes de individualidades políticas ou de intelectuais de renome que aproveitam para, tal como numa terapia de grupo, dilatar as suas queixas até à própria estrutura política, económica e cultural dos Estados Unidos, que vão para lá do nosso tempo, defendendo que se o mundo está mal a culpa toda é da América.



Desde os pacifistas, altermundialistas, esquerdistas anti globalização, comunistas e amigos dos verdes, pró-palestinianos, antisemitas, antisionistas e socialistas reconvertidos, como Mário Soares, este aglomerado de pessoas identificou o cancro do planeta. Para eles, o mundo pós-11 de Setembro está mais inseguro e a culpa não é da Al-Qaeda, mas sim da América que sofreu o maior atentado terrorista de sempre e ousou responder. Por que razão o ódio legítimo a Bin Laden se transformou em ódio ao Presidente dos Estados Unidos?



Antes de mais, há um equívoco grave – encarado como uma verdade absoluta – que é preciso desmistificar. O mundo tornou-se mais inseguro porque houve o 11 de Setembro. A Al-Qaeda cresceu não porque o Iraque foi invadido, mas porque os ressabiados anti americanos e fundamentalistas islâmicos encontraram naquele grupo terrorista uma forma de divulgar e legitimar as suas intenções. Mas o que está por detrás desse ódio?



Aos olhos destas pessoas, a América é culpada de tudo: pelas alterações climáticas por não ter assinado o Protocolo de Quioto, apesar de ser um dos país que mais contribuiu para o progresso da Humanidade; por combater o terrorismo quando no passado o fomentou; por ter criado monstros como Saddam e Bin Laden e agora persegui-los; por não ter cultura mas ao mesmo tempo inundar o mundo com a sua cultura; por ser a pátria do capitalismo que tanto enriquece pessoas como as torna pobres. Em suma, querem julgar a América, levar George W Bush ao Tribunal Penal Internacional por terem cometido crimes contra Humanidade. Tal pena que nenhum país, nem nenhum povo tenha legitimidade para proclamar tal sentença. De crimes contra a Humanidade a Europa tem, na sua História, episódios completos. O facto de querer aprender com o passado não deve tornar os pacifistas uns idiotas, pois conflitos de todo o género continuam e, por vezes, para haver paz é preciso fazer a guerra.



Aprender com os erros é disso que se trata. Não se trata aqui de branquear ou legitimar todas as decisões políticas da actual administração americana. Os erros foram cometidos, identificados, divulgados e condenados ou por instâncias superiores como os tribunais ou pela opinião pública americana e mundial; há todo um trabalho jornalístico, académico e militar que aborda amplamente o assunto. Retirar do Iraque sem contrapartidas é que é uma irresponsabilidade criminosa. O mal está feito, há que corrigi-lo.



Teria sido demasiado fácil para George Bush acusar o Pentágono e seu Secretário da Defesa por o ter enganado sobre as armas de destruição massiva ou a relação entre Saddam Hussein e a Al-Qaeda como agora o fazem Durão Barroso, José Maria Aznar e Tony Blair.



Gozar com as calinadas do presidente americano tornou-se o desporto favorito de alguns, mas quando o presidente iraniano proclama o ódio a Israel e a sua destruição, nenhum destes pseudo pacifistas se ergue a exigir desculpas.

Quando lhe são colocadas perguntas incómodas, a última moda dos governantes políticos é agora de acusar a oposição de "oportunismo político".
Depois de frases como "não se deve perder tempo com o que correu mal", o Governo não gosta de quem ache que tenha culpa do desaire em que o país se encontra.

sábado, março 22, 2008

Não quero estragar a festa daqueles que, de repente, encontraram no Porto a sua nova heroína dos "Morangos com Açúcar", versão Hardcore, mas, em Portugal, a Lei permite que se filme alguém a ser agredido sem que não lhe aconteça nada?
Acho que o Processo Disciplinar - se houver um com rigor - deva envolver todos os alunos daquela turma.
Se a polícia aparecer naquela escola do Porto para averiguar melhor o caso, acho que ninguém levará a mal.

terça-feira, março 18, 2008

Há comemorações que valem a pena


1948/2008


No Verão, estarei lá a comemorar


“Em 1948, Richard e Maurice McDonald tinham um pequeno restaurante drive-in em São Bernardino, a cerca de 100 quilómetros de Los Angeles. Cansados com a estafa de ter um restaurante normal e de aturar o barulho e os furtos dos adolescentes problemáticos, decidiram racionalizar o trabalho copiando as linhas de montagem das fábricas.



Os irmãos McDonad retiraram dois terços dos pratos da ementa e concentraram-se unicamente em hambúrgueres. Acabaram com os talheres e com as carshops, obrigando os clientes a ir buscar a comida. Mas o mais importante foi terem copiado a receita de Henry Ford, confeccionando os pratos uma linha de montagem. Uma pessoa cozinhava o hambúrguer, outra preparava o pão e os condimentos, outro fritava as batatas fritas e uma outra fazia os batidos. O resultado foi uma economia de escala culinária e comida e barata para os clientes. As jovens famílias de californianos adoravam lá ir, mas o MacDonald’s podia ter ficado um segredo de Estado se não fosse o homem que vendia as máquinas de batidos à McDonald’s. Era um vendedor de Ilinois chamado Ray Krock e convenceu os irmãos a franchisar o nome McDonald’s e o sistema por eles inventado no país inteiro.”
Oil, de Matthew Yeomans

domingo, março 16, 2008

Escola nova, problemas antigos


Visitar um museu é como viajar no tempo e no espaço. Revive-se, de certa forma, tempos antigos; conhecem-se civilizações, culturas e tendências artísticas que marcaram indelevelmente a Humanidade. É imprescindível entender o passado para nos conhecermos a nós próprios e perceber quais os caminhos que os Homens traçaram até aos nossos dias com reconhecidos erros e injustiças, mas também virtudes e glórias. A perfeição não é um estado; é uma jornada.

Se os museus proporcionam aos seus visitantes um passeio pelo passado, a escola possibilita aos seus alunos uma viagem para o futuro. Em cada início de ano lectivo, há um sentimento de euforia que paira no ar. Novos professores, novos colegas de turma, futuros amigos ainda desconhecidos, primeiras paixões e tristezas amorosas. E, não esquecendo o mais importante: a aquisição de conhecimento. A escola é, na sua essência, propulsora do progresso, da emancipação e da liberdade. Por isso, Setembro é o mês mais esperançoso do ano. Se acrescentarmos a isso uma escola moderna, construída de raiz, com aquele cheiro inconfundível a novo, contemplada pelas novidades tecnológicas e pedagógicas, então, sim, a satisfação é total. Toda a comunidade devia ser convidada a partilhar este dia memorável que é o da abertura de uma nova escola. Excursões deviam ser organizadas para que os reformados, vítimas do atraso do seu tempo, pudessem ver, com alguma nostalgia à mistura, como a escola evoluiu, ficando mais bonita e acolhedora. Melhor do que inaugurar uma nova rota aérea para o turismo ou uma nova estrada, a abertura duma escola não merece um rancho folclórico na sua inauguração, mas sim uma orquestra sinfónica.

Contudo, nem tudo são rosas. A Escola Secundária Tomás de Borba, em São Carlos, era para abrir, abre, abriu, vai abrindo as suas portas. A abertura estava programada para Setembro de 2007, mas tornou-se impossível. Era para abrir em Janeiro de 2008, mas ainda não estava totalmente pronta. Entretanto, vai recebendo crianças e jovens, uma semana uns, na semana seguinte outros, misturando-os entre os trabalhadores das empresas construtoras que se apressam em cumprir um prazo do qual não se tem informação. Em Setembro deste ano, a escola não abrirá, pois já está aberta. Abriu no terceiro período. Melhor dizendo: abriu no final do segundo período. Para os alunos do terceiro ciclo e secundário, a escola abriu num sábado, dia para a entrega de notas. Não conheço pior forma de inaugurar uma nova escola. Para além dos problemas que uma nova escola pode induzir ao nível do seu funcionamento, do período de adaptação de que os seus intervenientes precisam e da respectiva necessidade em efectuar ajustamentos, os alunos e professores trazem consigo problemas que tinham na anterior escola.

Quando a Escola Tomás de Borba podia ser o símbolo de ruptura com os vícios das outras escolas, quando podia reflectir um novo espírito moderno e progressista, o momento escolhido para a sua abertura é o mais inoportuno, podendo deitar por terra toda a expectativa criada à sua volta.

Convém não esquecer os incómodos que a decisão política de a abrir ainda este ano acarretou na escola secundária de Angra. Sofrendo já problemas de lotação, o antigo liceu de Angra fez do lema “dois em um” o seu dia-a-dia. Com um número de alunos por turma superior ao recomendado, não houve espaço para pedagogias de sucesso; foi cumprir e aguentar. Com essa decisão política, quantos alunos do terceiro ciclo não foram prejudicados por estarem integrados em turmas com 30 elementos? Quantos alunos sentiram que a escola os abandonou porque a preocupação em manter a ordem superou a necessidade de os ajudar nos seus problemas? Quantos pais viram naquela escola a parte do problema e não da solução? Disso, ninguém saberá; foi cumprir e aguentar. Disso, em Setembro, ninguém se lembrará. Em pleno final de campanha eleitoral, haverá festa, pomposa inauguração e políticos sorridentes, confiantes de que o insucesso escolar só pode ser combatido com novas tecnologias e avaliação de professores.

A nova moda do “eduquês”, inventada nos gabinetes dos assessores, é a de comparar a escola a uma empresa. Mas os políticos esquecem-se – ou fazem por não se lembrar – de que, se nas empresas existe o conceito de atendimento personalizado, também na escola existe o conceito de ensino individualizado. Enquanto a escola pública não chegar a todas as camadas sociais sem perder qualidade e exigência, e não proporcionar a todos as mesmas oportunidades mas igualmente alternativas credíveis, não haverá verdadeiro sucesso nas escolas e muito menos futuro.

domingo, março 02, 2008

Sobre as eleições americanas


Durante a cerimónia de entrega dos Óscares, o mestre de cerimónia, Jon Stewart, ilustre apresentador de um programa de sátira sobre a política americana, declarou em tom de piada que o único momento em que o cinema mostra um negro ou uma mulher enquanto presidente dos Estados Unidos é quando um asteróide se abate sobre o planeta. Felizmente, não está prevista nenhuma catástrofe; a realidade misturou-se com a ficção e, pela primeira vez, o país mais poderoso do mundo terá ou uma mulher ou um negro como presidente.



É óbvio que as eleições ainda não chegaram ao fim, por isso a afirmação anterior não passa de um palpite. Contudo, há sinais claros que mostram que uma mudança está em curso nos Estados Unidos.



Antes de mais, ao percorrer o historial das eleições americanas, vemos que, depois de dois mandatos seguidos, há a tendência, quase tradicional, em alternar para o partido que se encontra na oposição. Nesta perspectiva, as probabilidades dos Democratas ganharem são altas. Mas há mais conjunturas que reforçam a ideia da vitória do partido Democrata. Os Republicanos têm candidatos que nada trazem de novo. Digo-o à vontade porque se fosse americano seria Republicano – moderado, certo, porque a presença da componente religiosa no discurso político, que roça o fanatismo, como no candidato Mike Huckabee, é para mim inconcebível. Demasiado colados à actual administração de George Bush, John MacCain e Mike Huckabee colhem a insatisfação dos cidadãos em geral, o que fará com sejam também castigados nas urnas. Penso que é disso que se trata. Se, em 2004, os americanos ainda se reviam no discurso de firmeza e afirmação de George Bush, apesar dos graves erros cometidos, desta vez há uma grande desilusão à qual se soma uma crise económica que afecta o dia-a-dia das pessoas. Outro factor não somenos importante é que, ao contrário das eleições de 2004, os candidatos Democratas trazem algo de novo e esperançoso ao povo.



Por isso, é de prever que os Republicanos percam nas urnas. Daí a luta entre Hillary Clinton e Barack Obama ter esse mediatismo como se de uma final entre duas equipas rivais se tratasse. Aliás, para os Democratas e os americanos em geral, a escolha para a presidência dos Estados Unidos seria menos conflituosa se Barack Obama fosse branco ou se Hillary Clinton fosse homem. Ao contrário do que o nosso primeiro-ministro gosta de usar de forma exacerbada, este é um verdadeiro momento histórico para a Humanidade. Momento que prova a igualdade entre géneros e raças, onde já não há distinção de cores ou de sexos. Eis o conceito de igualdade de oportunidade aplicado sem hipocrisias ou falsidades, porque os candidatos têm realmente valor e experiência. Melhor do que fazer guerra para promover a democracia, este é um sinal que a América dá ao mundo; um sinal de respeito pela diferença, pela liberdade individual e pela emancipação das pessoas independentemente das suas origens.



Perante o impacto mediático destas primárias, a Esquerda europeia está ao rubro e a tendência é para apoiar Barack Obama. Sem grande substância, mas com muita convicção e uma oratória impressionante, Obama é o candidato que transmite uma imagem de esperança e de um mundo melhor. Só não se sabe bem é como vai tornar o mundo melhor. Esta ilusão dos europeus irá desmoronar-se quando os primeiros mísseis forem lançados, sob ordem do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Os americanos são muito pragmáticos e o futuro reserva-nos – sobretudo aos americanos – conflitos que irão pôr em causa a paz mundial, porque não se pense que a ascensão da China seja sempre pacífica, que o afastamento da Rússia seja inconsequente ou que o aumento do petróleo não tenha influência nas futuras operações militares.



No momento após o resultado das eleições americanas, os republicanos voltarão para a oposição e terão de fazer a tal caminhada pelo deserto. Depois de 8 anos na Casa Branca, considero que a Direita americana tem de voltar à oposição, discutir internamente os seus desígnios e a sua essência, em suma, reposicionar-se no mundo actual. E que essa discussão faça com que as questões teológicas e os preconceitos ideológicos deixem de ter uma influência tão forte e, muitas vezes, nociva nos debates políticos.



Contrariamente à Europa, acredito que só nos Estados Unidos o debate sobre a Direita possa ser feito de modo elevado, inovador e com qualidade. Então, a Direita, que é também minha, encontrará o seu Barack Obama.