Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, fevereiro 24, 2013

Os açorianos são um povo violento?




De tão distraídos que andamos com a “Grândola” que quase nos esquecemos que nos Açores as coisas não andam nada bem. E não me refiro à crise económica nem ao desemprego; refiro-me à criminalidade e ao sentimento de insegurança cada vez mais elevados, mas praticamente ignorados pelas nossas autoridades políticas. 

            Nos mais recentes dados fornecidos pela APAV, os Açores colocam-se nos lugares cimeiros no que concerne a violência sobre crianças e idosos. Todas as semanas vão surgindo notícias de crimes e furtos ligados ao tráfico e consumo de drogas, violência doméstica e negligência parental de carácter grave. Sei que a imprensa regional não gosta de pôr estes horrores nas suas páginas, mas, como o meio é pequeno, as pessoas comentam e, infelizmente, acaba por haver versões dos acontecimentos deturpados que denigrem a honra de certas pessoas. Não obstante, o essencial mantém-se: nos Açores, a violência tem contornos muito específicos que obrigam a uma profunda reflexão. 

            A crise não ajuda mas ela não é também o único fator que explica a razão de tanta criminalidade num meio tão pequeno como a Região. Há, de certeza, fatores sociais, mas há também fatores culturais que explicam parte dessa violência intimamente ligada à pobreza. 

            É verdade que a segurança dos cidadãos é da responsabilidade da República, mas o que tem a dizer o nosso Governo Regional, cujo primeiro dever é zelar pelo bem-estar dos açorianos? Como vão as políticas de apoio social e de inserção promovidos pelo atual Governo? Como vão as políticas relativas à toxicodependência, nomeadamente o fornecimento da metadona que agora até é feito praticamente a domicílio e onde mães vão acompanhadas das suas filhas tomar a “meta”, como se fosse a coisa mais natural do mundo? 

            Onde estão os valores da fraternidade e do respeito pelos mais velhos, pelas autoridades e pela hierarquia social? Existe solidariedade para além da que existe pontualmente nos dias de recolha do Banco Alimentar? Será que a justiça deixa de existir quando nos incomoda? Serão o egoísmo, o imediatismo e a superficialidade os novos mandamentos do ser humano?

            É preciso lançar este debate, pois as reformas de que Portugal e os Açores precisam não podem ser só económicas; devem ser civilizacionais.

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Uma imperial aos 16 anos, por favor

A nova lei sobre o consumo de álcool tem de ser chumbada pelo Presidente da República.

Não tem pés nem cabeça.

Sem rumo

O Governo da República fez tudo para acertar as contas: para lá do memorando e custe o que custar. A receita foi desastrosa. 

Eu como muitos outros ainda pensaram (com uma ingénua esperança) que este sacrifício teria,  no final, uma recompensa; ou o ajustamento teria sucesso, ou as entidades externas e os mercados iriam premiar Portugal pelo esforço (mesmo que secretamente reconhecesse que a estratégia adoptada para o reajustamento fora um desastre).

O que está a acontecer perante os números reais e as previsões relativamente aos principais indicadores económicos e sociais é que o país bateu no fundo apesar e sobretudo por causa das medidas de austeridade. 

As notícias relativas à reacção do Governo são muito preocupantes: o governo admite orçamento rectificativo, aplicando mais austeridade. Pelos vistos, não perceberam nada do que passou nos últimos dois anos. Nem vale a pena argumentar as razões de tão explicadas que já foram.

Outra notícia é de Bruxelas querer rever as metas pelo facto de as medidas aplicadas pesarem no crescimento económico do país. Isto é reconhecem que a austeridade imposta foi prejudicial ao país.

O Governo de Portugal abandona os seus cidadãos. Oxalá a Europa nos ajude.


quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Gli italiani sono stupidi?




            Na Europa, instala-se o temor relativamente às eleições legislativas de Itália. O fantasma de Berlusconi paira no ar e as sondagens alimentam o medo de ele ganhar as eleições e tornar-se assim Primeiro-ministro de Itália; uma vez mais. A campanha jornalística contra “il cavaliere” está ao rubro, mas acredito que o alvo está errado. Afinal, em democracia, quem é que escolhe os seus governantes?
            Este é que é o verdadeiro problema. Toda a vida de Sílvio Berlusconi é do conhecimento público, mesmo a mais sinistra. Não há segredos para a opinião pública; e, se os há, só podem ser piores do que aqueles que conhecemos. Em abono da decência, o empresário italiano não deveria voltar à vida política. Mas legalmente pode. Assim sendo, a moral transformou-se numa questão irrelevante. Sabendo os problemas legais e criminais que Berlusconi enfrenta, sabendo o tipo de empresário que é, o cargo que pretende ocupar permite-lhe tornar-se inimputável e, por isso, intocável. Se os italianos não percebem isso, não vale a pena culpar Berlusconi. Se ele vencer, quem deverá lamentar o sucedido serão os próprios italianos.
            Aliás, o mesmo acontece em Portugal. A polémica sobre a recandidatura de políticos que já cumpriram três mandatos à frente de uma autarquia apresenta algumas semelhanças com o que acontece em Itália. A lei sobre a limitação de mandatos em eleições autárquicas e regionais faz todo o sentido e é salutar para a nossa democracia. No entanto, querer estendê-la a todo o país é, no meu ver, errado. Mesmo que se critique a lei por ser dúbia, ela nunca deveria impossibilitar alguém de concorrer a uma autarquia onde não tenha exercido nenhuma função política, mesmo que tenha completado três mandatos consecutivos noutro concelho. 
            Em democracia, não se pode infantilizar os eleitores, tirando-lhes quaisquer responsabilidades sobre os seus atos, para garantir supostamente transparência e renovação políticas. Os eleitores devem ser levados a confrontar estas situações, pensando pelas suas cabeças: se aquele político pode fazer tão bem ou melhor do que no concelho anterior; se, numa questão mais bairrista, há legitimidade moral para este candidato, não pertencendo ao concelho, o poder chefiar; se deve dar oportunidade a outros candidatos mais novos e com menos experiência política. Estas são algumas das questões que os munícipes devem equacionar, decidindo com base nas suas respostas e inclinações políticas. 
A democracia deve responsabilizar os eleitores. Nas boas e nas más decisões. Uma boa democracia só funciona com um povo informado, instruído, esclarecido mas sobretudo livre para fazer as escolhas que entender. 
Nota: saúdo a resposta de Maria Teresa Amaral e Hermano Oliveira, no artigo do dia 8 deste mês, publicado no DI. Não sendo detentor da verdade absoluta, estava à espera que refutassem o meu artigo com dados concretos sobre o programa Oportunidades: absentismo, casos de sucesso e de reintegração social. No entanto, não passou de um texto repleto de bons princípios, cuja realidade trata de demonstrar que nem tudo o que idealizamos se concretiza. 
O princípio de tratar diferente quem é diferente nem sempre resulta. O Ensino Especial é de facto uma medida acertada para quem realmente é diferente. No caso dos “OP”, a diferença tem que ver com a situação socioeconómica e/ou familiar do aluno. Assim, a estratégia passaria por criar igualdade de oportunidades e não diferenciação que acentua ainda mais a situação dos alunos já de si desigual face à restante sociedade. Por isso, a DRE, para criar um programa que respondesse realmente ao problema desses alunos, precisaria de uma equipa multidisciplinar, com assistentes sociais, psicólogos e IPSS habituados a lidar com famílias carenciadas ou problemáticas. E, sim, o ensino vocacional é mesmo indicado para alunos com pouca consideração pela escola. Mas para isso, é preciso dar condições às escolas e orientações precisas sobre o que se pretende.
Tirar os jovens da rua é louvável. Porém, trazer os problemas da rua para a escola não resolve nada: de um problema passa-se a ter dois.