Despertar a Praia da Vitória
Nos últimos tempos, a Praia da
Vitória tem sido sinónima de desemprego, de angústia e de incerteza quanto ao futuro.
Não se trata somente do problema da Base das Lajes – o assunto com mais
cobertura mediática -, é também a crise que assolou o país, é ainda a situação
de estagnação económica da Região. Tudo somado resultou neste momento de limbo
e de desesperança nos praienses. Só a criatividade e a capacidade de
resiliência podem impedir este trágico plano inclinado.
O executivo camarário, na pessoa do
seu Presidente, tem tido uma aparente pró-atividade na tentativa de combater o
flagelo do desemprego e a paralisação económica do concelho. Não faltam
conferências de imprensa onde anuncia novos investimentos e novos mercados para
onde exportar os produtos regionais. Tudo isto é positivo, não fosse o problema
de estes anúncios ou não produzir efeitos ou tardarem a produzi-los, pois não
se pode afirmar que algo de concreto tenha realmente acontecido.
Aliás, das poucas coisas positivas que
ocorreram foram o anúncio da deslocalização de certos serviços camarários para
o centro da cidade e a abertura do trânsito na Praça Ornelas da Câmara com o
intuito de dinamizar o centro histórico. Estas foram bandeiras do PSD durante a
campanha eleitoral para as autárquicas. O tempo veio a dar-lhe razão.
Outra
iniciativa positiva é de este ano a Praia da Vitória ter concorrido novamente à
Bandeira Azul (parece cinismo, mas não é). Para quem defende aguerridamente as
virtudes da certificação de qualidade, a falha do ano passado é para nunca mais
repetir.
Na
verdade, são pequenas iniciativas como estas que podem trazer algo de positivo
para o concelho por causa dos seus efeitos imediatos. As outras grandes medidas
não deixam de ser importantes, mas precisam de tempo e, sobretudo, dependem de
fatores externos. E a Praia da Vitória já não pode esperar mais.
A Praia da Vitória viveu um tempo de
euforia na construção de infraestruturas, mas cujo retorno é, nalguns casos, mais
do que discutível. A Câmara ostenta com orgulho o título de campeão da execução
dos fundos comunitários, mas os seus efeitos reprodutivos deixam muito a
desejar. O caso mais paradigmático parece-me a Academia da Juventude, cujo
potencial ainda está por aproveitar na sua plenitude. Aliás, esta crítica
assenta que nem uma luva ao Governo Regional que também se vangloria de ter tirado
bom proveito do dinheiro da Europa, mas que não impediu que os Açores se
mantivessem na cauda do país em indicadores cruciais relativos ao desenvolvimento.
Os
próximos anos servirão para pagar a dívida contraída pela câmara e ponderar uma
nova forma de gestão do concelho e um novo paradigma para o aproveitamento dos
seus recursos humanos, naturais e, claro, logísticos.
Esta situação reflete bem um país
que primeiro erigiu edifícios e infraestruturas grandiosos e só depois é que pensou
no que iria fazer com eles. É preciso deixar de olhar para o céu e olhar para o
chão que é pisado pelas pessoas.
Está
na moda pensar nas pessoas, mas se essa moda tivesse pegado há dez anos, não
estaríamos na situação em que nos encontramos.