Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal

sexta-feira, abril 25, 2014

Despertar a Praia da Vitória




            Nos últimos tempos, a Praia da Vitória tem sido sinónima de desemprego, de angústia e de incerteza quanto ao futuro. Não se trata somente do problema da Base das Lajes – o assunto com mais cobertura mediática -, é também a crise que assolou o país, é ainda a situação de estagnação económica da Região. Tudo somado resultou neste momento de limbo e de desesperança nos praienses. Só a criatividade e a capacidade de resiliência podem impedir este trágico plano inclinado.

            O executivo camarário, na pessoa do seu Presidente, tem tido uma aparente pró-atividade na tentativa de combater o flagelo do desemprego e a paralisação económica do concelho. Não faltam conferências de imprensa onde anuncia novos investimentos e novos mercados para onde exportar os produtos regionais. Tudo isto é positivo, não fosse o problema de estes anúncios ou não produzir efeitos ou tardarem a produzi-los, pois não se pode afirmar que algo de concreto tenha realmente acontecido. 

            Aliás, das poucas coisas positivas que ocorreram foram o anúncio da deslocalização de certos serviços camarários para o centro da cidade e a abertura do trânsito na Praça Ornelas da Câmara com o intuito de dinamizar o centro histórico. Estas foram bandeiras do PSD durante a campanha eleitoral para as autárquicas. O tempo veio a dar-lhe razão.

Outra iniciativa positiva é de este ano a Praia da Vitória ter concorrido novamente à Bandeira Azul (parece cinismo, mas não é). Para quem defende aguerridamente as virtudes da certificação de qualidade, a falha do ano passado é para nunca mais repetir. 

Na verdade, são pequenas iniciativas como estas que podem trazer algo de positivo para o concelho por causa dos seus efeitos imediatos. As outras grandes medidas não deixam de ser importantes, mas precisam de tempo e, sobretudo, dependem de fatores externos. E a Praia da Vitória já não pode esperar mais.

            A Praia da Vitória viveu um tempo de euforia na construção de infraestruturas, mas cujo retorno é, nalguns casos, mais do que discutível. A Câmara ostenta com orgulho o título de campeão da execução dos fundos comunitários, mas os seus efeitos reprodutivos deixam muito a desejar. O caso mais paradigmático parece-me a Academia da Juventude, cujo potencial ainda está por aproveitar na sua plenitude. Aliás, esta crítica assenta que nem uma luva ao Governo Regional que também se vangloria de ter tirado bom proveito do dinheiro da Europa, mas que não impediu que os Açores se mantivessem na cauda do país em indicadores cruciais relativos ao desenvolvimento.

Os próximos anos servirão para pagar a dívida contraída pela câmara e ponderar uma nova forma de gestão do concelho e um novo paradigma para o aproveitamento dos seus recursos humanos, naturais e, claro, logísticos.

            Esta situação reflete bem um país que primeiro erigiu edifícios e infraestruturas grandiosos e só depois é que pensou no que iria fazer com eles. É preciso deixar de olhar para o céu e olhar para o chão que é pisado pelas pessoas. 

Está na moda pensar nas pessoas, mas se essa moda tivesse pegado há dez anos, não estaríamos na situação em que nos encontramos.

domingo, abril 13, 2014

Looking for a job


Sempre desconfiei das jotas. Lamento. Um partido político deve ser abrangente: não precisa de uma secção especial para jovens, para trabalhadores ou, pior, para mulheres. Qualquer partido que se preze é formado por pessoas de todas as faixas etárias, com os currículos  mais variados, vivências diversificadas e ambições de todo o género. Enquanto alguns elogiam o dinamismo das jotas, eu suspiro: nos tempos que correm, quanto mais se ouve falar delas, mais se percebe o desespero da juventude e da sua falta de esperança.

Como é que um adolescente ou um jovem adulto  tem já uma ideologia formada, uma pensamento político estruturado para afirmar com toda a certeza que se revê num determinado partido de Esquerda ou de Direita? A juventude faz falta à sociedade civil, não aos partidos políticos. 
 
A atividade política sempre se pautou pela guerra pelo poder, pelas manigâncias das alas, pela promoção individual a coberto de declarações pomposas sobre o interesse comum. Não sejamos ingénuos, muito menos hipócritas. A política é um combate de lama sobre um lençol de seda. 
 
Contudo, a política é essencial para a vitalidade de uma democracia que ser quer livre e esclarecida. Os partidos políticos continuam a ser um dos pilares da democracia. E a democracia ainda se mantém como o melhor regime político. Assumo-o: não gosto de jotas, mas aprecio e valorizo muito a política e os partidos.
 
Perguntem aos jovens que se iniciaram nas jotas e que agora são estrelas dos seus partidos se já estiveram inscritos num centro de emprego; se já mandaram currículos para empresas; se alguma vez foram a entrevistas, para além daquelas em que criticam os adversários e bajulam o líder. Perguntem-lhes se já sentiram na pele a angústia da precariedade. Como Portugal já tem quarenta anos de democracia e, consequentemente, atividade partidária, assistimos ao ingresso dos filhos de políticos, numa espécie de aristocratização da política, onde impera a casta e o nepotismo. As jotas puseram-se a jeito ao longo dos anos. Por mais que se queiram associar a iniciativas nobres, já ninguém acredita. Cheira a oportunismo bafiento.
 
Às jotas é dado todo o direito de se pronunciar sobre políticas para a juventude e as chamadas questões fraturantes. Mas ai daquele que se atreva a falar de temas de política geral ou que extrapole o seu raio de ação. Leva logo uma advertência dos mais velhos: "põe-te no teu lugar". 
 
Por isso, emociono-me quando vejo grupos de jovem integrados em associações desportivas, culturais ou até religiosas. Claro que a política está sempre presente e também existe rivalidades, por vezes pouco sadias. Contudo, o objetivo é simples e genuíno, desde organizar concertos,  iniciativas de solidariedade social ou até campeonatos de futebol. A boa-vontade, o espírito de companheirismo e o lado voluntário, sempre com a pitada de irreverência e de bom humor.
 
Numa sociedade aberta como a nossa, ninguém fica impedido de debater a política e os atores políticos. Numa sociedade aberta como a nossa, a sociedade pode ser melhorada fora do âmbito partidário, sem o recurso a jogatanas ou à facilidade das cunhas. 
 
Não faltam pais a incentivarem os filhos a enveredar pelas jotas com o propósito de arranjar um tacho, de alcançar uma vida mais fácil. Nem me atrevo a culpá-los, pois compreendo perfeitamente as suas razões.  
 
Na ânsia de angariar novos talentos, é ver os partidos a tentar aliciar jovens dinâmicos a ingressar nas lides partidárias. Desde o convite como orador numa conferência a um lugar numa lista eleitoral, ao jovem é-lhe sugerido abrir um blogue para dar as suas ideias e, claro, "bater" no adversário. Por fim, é-lhe dada a grande oportunidade de conhecer o líder e até fica com o seu número de telemóvel. Chega a casa feliz, perante o orgulho dos pais: "tem lábia o rapaz. Há de ir longe!"

A minha visão é assumidamente enviesada. Mas estes exemplos não são fruto da minha imaginação, antes pelo contrário, refletem uma prática muito comum em Portugal.

domingo, abril 06, 2014

Já ninguém te pode ouvir, Serginho




            Na República, os sinais de recuperação estão aí. Mas até chegarem ao bolso dos portugueses vai uma grande distância. Nos Açores, segundo nos dizem, não há problema de défice, nem de dívida, mas o desemprego e a miséria alastram colocando a Região numa situação iminente de explosão social. 

O vice-presidente do Governo Regional pavoneia-se pelo Palácio dos Capitães Generais, elogiando as finanças da Região. O Presidente do Governo diz-se preocupado com as questões sociais. A realidade trata de mostrar como as iniciativas governamentais deixam muito a desejar e criam uma espécie miragem nas pessoas. É possível mantê-las ocupadas a auferir um “salário” sem, no entanto, contribuir para a dinamização da economia. A Região vive do que o exterior, nomeadamente a República, lhe dá. A discrepância entre aquilo que os Açores produzem e aquilo de que necessitam torna-se insustentável. Para reavivar a economia, o governo tem injetado capital como nunca, desde os programas de ocupação e formação, aos cheques chorudos para fomentar o empreendedorismo e para viabilizar empresas insolventes. Contudo, nas cidades, nas freguesias, nas ruas e nas famílias multiplicam-se os casos de pobreza extrema, de precariedade laboral, de desemprego duradouro, de emigração forçada e de falta de esperança. 

Não se pode acusar o executivo de nada fazer para combater este problema. Mas o problema reside precisamente aí. A forma como o Governo encara esse combate é que é errada. Despejar dinheiro em cima dos problemas não é a solução. Veja-se o caso da remuneração complementar. Até agora, nunca foi criticada porque era considerada justa pela maioria dos açorianos. O Governo decidiu alargar esse subsídio, criando uma fórmula de atribuição muito discutível e polémica, pois acabou por criar situações de injustiça, instigando até a inveja social. 

Que ninguém venha com a desculpa de que este governo começou agora e que por isso se lhe deve dar tempo para obter resultados. Este governo vem de há 17 anos. Quer no executivo, quer no Parlamento Regional, muitos dos seus protagonistas estão no poder há uma década ou mais. 

O sector agrícola continua com medo do futuro, apegado às quotas leiteiras e ao protecionismo comunitário. Idem para o sector das pescas, tão vulnerável aos malefícios da natureza. Os sectores do turismo e dos transportes aéreos e marítimos, tão promissores e nos quais se investiram milhões, estão débeis, ainda por definir. O sector da investigação e do conhecimento é uma incógnita e desolador, tendo em conta o laboratório natural que nos circunda. O setor educativo multiplica as desigualdades e a mediocridade, impossibilitando a formação de altos quadros técnicos e académicos, impossibilitando assim a alavanca social. A Ação Social perpetua a pobreza e a subsidiodependência sem criar reais oportunidades. 

No plano político, a autonomia ainda está por cumprir. A falta de “checks and balances” no escrutínio da maioria parlamentar permite-lhe brincar com o sistema. A fragilidade do jornalismo açoriano, causada pelo polvo chamado GACS que sufoca e condiciona a informação e quem a veicula. No plano geoestratégico, a autonomia também está por cumprir. Reclamamos que o mar é nosso, que as boas relações entre Portugal e os Estados Unidos advêm da existência dos Açores e da sua diáspora, mas, na realidade, não mandamos em nada. Lisboa manda; Bruxelas comanda. Nem um canal televisivo exclusivamente açoriano consegue este governo. 

A emancipação exige a tomada de riscos, o investimento calculado e a determinação. O Governo Regional só sabe pedinchar à República e lamentar a sua situação de insularidade. Quando é confrontado com os números negativos, refugia-se nas críticas às políticas de Passos Coelho, tentando desviar as atenções do essencial.

Por tudo isso é que já não se pode ouvir Sérgio Ávila e a cantiga das boas contas de merceeiro.