Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal

domingo, maio 25, 2014

O império contra-ataca





1. Logo à partida, desconfiei da reativação do Conselho de Ilha de São Miguel. A realidade mostra-nos que a principal ilha dos Açores nunca foi prejudicada por não ter Conselho de Ilha. Atrever-me-ia a dizer que, antes pelo contrário, até beneficiou dessa ausência. Contudo, a conclusão da primeira reunião após uma década de inatividade é deveras reveladora: os conselheiros de São Miguel sentem que a sua terra é vítima de discriminação! Se não fosse a credibilidade de alguns dos seus membros, diria que essa declaração é uma piada de mau gosto.

            E que tal perguntar ao Presidente desse Conselho, Noé Rodrigues, se não acha que a sua lengalenga sobre o principal motor da economia não é muito parecida com o que se diz da Alemanha e se concorda com as repercussões resultantes desse discurso nos países mais periféricos como, por exemplo, Portugal. 

            Nenhum açoriano precisa de ser especialista em economia para concluir que São Miguel, por razões demográficas e geográficas, é a ilha que mais gera riqueza na Região (vide Ribeira Grande). Pelas mesmas razões, quer através dos fundos da República, quer pelos fundos comunitários, São Miguel é a ilha que mais dinheiro tem recebido, porque a proporcionalidade sempre existiu. Por isso, não se compreende a exigência de “equidade na distribuição de verbas”. 

            Na verdade, a entidade que tratou da gestão da maior parte desses fundos foi o Governo Regional dos Açores e aqui, sim, podemos questionar a pertinência na aplicação dos mesmos por todo o arquipélago. Não é difícil perceber que muitos milhões foram simplesmente desperdiçados por erros de estratégia por parte dos governantes açorianos e que, ao invés de atenuar as assimetrias regionais, aumentaram-nas. 

            Por uma questão de honestidade intelectual, na sua reunião inaugural, Noé Rodrigues e os seus conselheiros deveriam ter-se debruçado unicamente sobre São Miguel, dos Mosteiros ao Nordeste, tentando perceber por que razão a ilha maior tem tantas disparidades internas nas vertentes económicas e sociais. 

            Os açorianos já perceberam que os Açores são oito ilhas e São Miguel. Não precisam de estar sempre a bater no ceguinho. 

2. O que se passa com a Secretaria Regional da Educação?

            Afinal, quem manda na Secretaria Regional da Educação? A Diretora? O Chefe de Gabinete? O líder comunista? 

            A preocupação da tutela deveria focar-se no combate ao insucesso e ao abandono escolares. Tudo o resto são questiúnculas, mas, infelizmente, assemelham-se cada vez mais às areias movediças: engolem tudo à sua volta.

            Concurso dos professores contratados; encerramento de primeiros e terceiros ciclos na Ilha Terceira; suposto apoio a uma escola privada com duas turmas; paragem misteriosa na construção da nova Escola Profissional da Praia da Vitória. Os casos amontoam-se. 

A autoridade de quem manda está seriamente posta em causa.

domingo, maio 18, 2014

Paranoia sobre a Base das Lajes




1. Desde o início da crise da Base, provocada pela redução do contingente militar Americano, que se percebeu que é preciso alguma contenção por parte dos responsáveis políticos nas declarações que saem a público. 

Como se verificou com a recente “notícia” do jornal Público sobre o alegado interesse dos americanos na Base de Beja- e rapidamente desmentida -, a reação “a quente” dos políticos açorianos foi precipitada e, mais, demonstra algum desconforto nas relações institucionais entre a República e o Governo Regional, pois não se entende como não exista um canal privilegiado de comunicação entre os dois órgãos, por forma a que estas situações possam ser devidamente esclarecidas, sem recorrer às “queixinhas” por via da Comunicação Social. 

Com este tipo de iniciativas, o prejuízo causado aos trabalhadores portugueses da Base é pior do que os possíveis ganhos políticos. A demagogia não pode ser feita à custa da angústia das pessoas.

Tratando-se de uma situação que envolve negociações diplomáticas entre dois países, não faz sentido especular nem criar cenários sobre as possíveis valências ou alternativas à Base. Os Açores têm de ser ouvidos em todas as negociações que estão a decorrer, mas o Governo Regional, para se dar ao respeito, tem de se comportar ao nível do seu estatuto. E a paranoia, neste caso, é má conselheira.

O concelho da Praia e a Ilha Terceira não podem continuar a alimentar ilusões relativamente a presença militar americana. Esta é a lição que devemos tirar dos acontecimentos dos últimos anos. Como tal, não podemos exigir que os políticos encontrem alternativas à base e querer, em simultâneo, que as coisas fiquem como dantes. 

É importante que o Governo Regional em parceria com a Câmara Municipal da Praia da Vitória e os agentes económicos possam encontrar alternativas à presença americana com o intuito de dinamizar a economia do concelho. Especular ou reagir a boatos não é o que se espera de quem nos representa.

2. A nova Administração da SATA

Deve ser a primeira vez que um novo Conselho de Administração da SATA toma posse ensombrado pela desconfiança e pela dúvida.

            Desconfiança devido à forma pouco clara como o anterior presidente da SATA apresentou a sua demissão e dúvida relativamente à estratégia a seguir por esta nova administração.

            Era bom que o novo executivo adotasse um rumo diferente do seu antecessor e, deste modo, atendesse às já recorrentes reclamações por parte das empresas e dos açorianos. 

No que respeita à Terceira, a nova administração deveria optar por uma maior frequência nas ligações diretas com a América do Norte, nomeadamente nos seus períodos festivos, como são o Carnaval e as principais festas dos dois concelhos. 

            Mais uma vez, não é aceitável que a SATA Internacional intensifique as suas operações entre São Miguel e as Américas, mas não crie um maior número de ligações a partir da Terceira.

sábado, maio 10, 2014

Cartão amarelo para Vasco Cordeiro




Sempre me fez confusão misturar a gíria futebolística com a oratória política. No entanto, vou tentar demonstrar como a declaração de Berto Messias (a de que os açorianos deviam mostrar um cartão vermelho a Passos Coelho) é tão absurda como achar que a crise termina no dia seguinte à saída da Troika.

            Por óbvias razões, não disponho da mesma cobertura mediática que o líder parlamentar do PS, Berto Messias. Contudo, aproveitando a indignação do deputado, vou fingir que os açorianos são uma cambada de atoleimados e pedir-lhes para que nas próximas eleições europeias deem um cartão amarelo, mas desta feita, ao Governo Regional dos Açores.

            António Guterres, enquanto Primeiro-ministro, cometeu a insensatez de se demitir devido ao mau resultado do PS nas eleições autárquicas de 2001. Abriu um precedente grave, porque uma democracia madura não mistura as consequências resultantes de umas eleições, muito menos as transforma em referendo. A não ser na ótica dos partidos mais radicais, ou então na de Berto Messias.

Fica mal a um político supostamente responsável acusar os outros de fazer politiquice e vir depois atiçar as pessoas para que sancionem nas eleições europeias um governo ou uma determinada política. O sufrágio deste mês de maio tem o simples propósito de eleger deputados europeus - no qual faz todo o sentido discutir, isto sim, a Europa e o seu desígnio. Tudo o resto não passa de um embuste, porque, na verdade, mesmo que o PSD e o CDS percam estas eleições, Passos Coelho não se demitirá. E ainda bem.

Depois do sacrifício dos portugueses, sabendo nós que, independentemente da saída “limpa” do Programa de Assistência Financeira, a Europa e os mercados manter-se-ão vigilantes em relação a Portugal, pergunto: faz sentido despoletar uma crise política neste preciso momento? 

Como disse atrás, cada eleição tem um objetivo preciso. E uma democracia madura, no quadro da sua Constituição, não pode contribuir para a instabilidade de quem obteve um mandato para cumprir até ao fim. Não obstante essa premissa, provocar eleições antecipadas deitaria por terra todos estes anos de sacrifícios. 

Mas vamos partir do princípio de que sim, de que os açorianos são bem capazes de cair na artimanha do cartão vermelho. Já que as eleições europeias servem para avaliar o governo, avaliemos então o nosso governo: o de Vasco Cordeiro.

Nos Açores, está tudo bem? O emprego, a precariedade, a mobilidade, a pobreza? Todos os problemas da Região são da única e exclusiva responsabilidade de Passos Coelho? Nada a apontar ao Governo Regional? Parece-me que sim. E acredito que não faltam açorianos zangados com Vasco Cordeiro. Vamos então castigar os socialistas nestas eleições. Já agora, caros leitores, aproveite este sufrágio para mostrar cartão ao seu presidente de Junta de Freguesia ou ao edil da sua Câmara Municipal. 

Pois; só se quisermos transformar a Democracia numa palhaçada…

Por isso, tenho um problema de consciência. Acho exagerado apelar ao cartão vermelho. O Governo Regional tem muita coisa má, mas também alguma positiva. Por isso, peço um cartãozinho amarelo, nem que seja para tirar do cargo o atual líder do grupo parlamentar socialista. A seriedade agradece.

domingo, maio 04, 2014

"Nós não nos enganámos, fizemos de propósito"




            Esta frase é da autoria do deputado socialista, Francisco Coelho, e foi proferida aquando do debate parlamentar para justificar a dedução das horas extraordinárias no âmbito da remuneração complementar. Após veemente contestação dos trabalhadores da EDA e perante a pressão crescente de outros setores profissionais, o Governo Regional pretende reavaliar a norma considerada injusta por toda a gente, menos pelo PS. Fica mal a arrogância do deputado, como fica mal a forma errante como o Governo Regional tem conduzido os Açores.

            Nos últimos tempos, a prepotência do Governo Regional e do PS só tem resultado em trapalhadas monumentais, provocando tensões perfeitamente dispensáveis entre os trabalhadores da administração e das empresas públicas regionais. 

            Do malogrado concurso de professores à polémica sobre a remuneração complementar; da ilegalidade de um diploma à falta de bom senso de um artigo (para não dizer má-fé), o PS falha nos aspetos mais básicos da governação, e, perante as evidências, custa-lhe admitir o erro. Após quase duas décadas no poder, esta atitude de prepotência não é de estranhar. O que é estranho é o sentimento de orgulho ferido, de ressabiamento, cada vez mais patente nas declarações e nas atitudes de certos socialistas no momento de dar o dito por não dito. 

            Não deve ser fácil para o deputado histórico do PS, Francisco Coelho, engolir este sapo, mas este Governo vai perdendo qualquer pingo de credibilidade na sua relação institucional com a oposição e com os parceiros sociais, porque assemelha-se cada vez mais a uma agência de seguros: doravante, todos os intervenientes deverão ler com redobrada atenção qualquer proposta de lei apresentada pelo PS. O princípio da boa-fé morreu e o diabo esconde-se nos detalhes.

            Perante estes recorrentes ziguezagues, como pode o PS afirmar que os outros é que estão impreparados? Como pode o PS achar que tudo o que faz está certo e que os outros estão errados? Como pode o PS sujeitar-se a si e ao governo a este vexame que é o de afirmar que tem sempre razão e depois corrigir o erro, mas nunca admitir que se enganou? 

            Num momento crucial para o futuro dos Açores, os açorianos já não confiam na palavra do seu governo. A situação é tão dramática que se chegou a um ponto em que a receita de atirar dinheiro para resolver os problemas já não serve. Não deixa de ser extraordinário observar que quanto mais o governo apoia as pessoas e as empresas, mais aumentam o desemprego e a pobreza.