Paraíso Perdido T2C23
Crescer numa creche
A DECO apresentou recentemente os resultados de um estudo efectuado sobre as creches e jardins-de-infância portugueses. As conclusões são preocupantes e por isso devem ser discutidas por todas as pessoas ligadas directa ou indirectamente a estas instituições.
Das conclusões tiradas, não me parece que a principal preocupação se deva centrar no facto de as crianças verem muita televisão nas creches. É indiscutível que para tudo é preciso moderação e que as crianças requerem actividades nas quais participem activamente e que as incitem à descoberta do seu meio, ao desenvolvimento da imaginação e à interacção com outras crianças e até adultos. É também óbvio que isto irá depender dos profissionais que trabalham com as crianças e das estratégias educativas que as instituições praticam. Agora, uma coisa é certa: só podemos louvar todos aqueles que partilham o dia-a-dia das nossas crianças; só podemos elogiar profissionais a quem confiamos os nossos filhos. Mas, como são profissionais, exigimos que os tratem e participam na sua educação da melhor forma. Aqui reside parte do problema.
A nossa sociedade obriga-nos a despender o dia todo no trabalho. Os pais têm pouco tempo para os filhos e quando estão com eles nem sempre o aproveitam da melhor forma. Esta é a nossa sociedade moderna. O mais aterrador nisto tudo é observar que o papel dos pais se resume praticamente à procriação e ao sustento dos filhos. A parte mais importante, que é constituída pela educação e pelos afectos, tornou-se da competência de instituições de educação, desde a creche até ao ensino secundário. Por outras palavras, é o Estado que toma conta das nossas crianças e o facto de se discutir nas escolas a introdução da disciplina de educação sexual e outras disciplinas que estejam relacionadas com os valores pelos quais as crianças e jovens se devem reger prova que não são os progenitores que se demitiram do seu papel; o Estado é que “raptou” as nossas crianças. O Estado decidiu que os pais não são capazes de educar os filhos da Nação e que só “Ele” sabe educar melhor do que qualquer cidadão. Os pais nem tempo têm para se aperceber disso.
Os países escandinavos conseguiram manter altos índices de produtividade sem diminuir o tempo de que os pais precisam para viver com os seus filhos. Talvez fosse bom que os nossos políticos fizessem lá visitas de estudo.
Aprender a ser pai
Não é fácil ser-se pai neste século XXI. Apesar de existir dezenas de revistas e centenas de livros publicados, programas radiofónicos, televisivos e cibernéticos sobre o tema, educar uma criança já não é como antigamente. De um autoritarismo muitas vezes violento se passou para uma permissividade perigosa. Alguém convenceu o mundo civilizado que a democracia também funcionava numa família onde todos podiam ser iguais em direitos e deveres.
Não se defende aqui o regresso aos castigos corporais e às humilhações psicológicas. Defende-se aqui o regresso dos pais à figura de autoridade, mas de forma construtiva e pró-activa. Não, as crianças e os jovens não se podem deitar quando querem, nem fazer sempre o que lhes apetece. Em casa, deve haver regras e rotinas instituídas pelos pais, explicadas aos filhos. As consequências do não acatamento dessas regras devem ser claras e imediatas e isto serve para todas as crianças mesmo que muito novas. Mas estarão os pais preparados para tal? Saberão os pais como se deve implementar todo este sistema?
Quantos casais passam por problemas, inclusive conjugais, por não saber como lidar com os filhos? Quantos filhos desenvolvem problemas psicológicos por causa da separação dos pais mas cuja triste razão do afastamento foi na verdade provocada, se bem que inconscientemente, pelos próprios filhos? Quantos jovens acham que os pais lhes devem tudo menos entrar no quarto e na sua vida pessoal? Quantos pais acham que o seu filho está a ir por maus caminhos mas não conseguem convencê-lo a retroceder? Quantos pais desesperam por pensar que estão a falhar na educação dos seus filhos?
Nunca os progenitores estiveram tão preocupados com as suas progenituras, mas nunca se sentiram tão desarmados perante um desafio que parece ultrapassar-lhes. Perante todos estes problemas, e com a intromissão de um Estado asfixiante, a demissão dos pais na educação dos seus filhos torna-se cada vez mais uma solução.
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