Retirar do Iraque? Nem pensar!
O desalento do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista relativamente à escolha do novo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, demonstra bem o espírito antiamericano radical desses partidos. Quando temos mensagens do Fórum islâmico e os partidos da extrema-esquerda que lamentam a saída de Freitas do Amaral do cargo tudo está dito. A diplomacia portuguesa encontrava-se numa encruzilhada de que tinha de sair antes que Portugal assumisse a presidência europeia em 2007. Concordar com as políticas centrais dos Estados Unidos não é seguidismo. Significa discernir de qual os males o pior. Não obstante haver razões fundamentadas para não concordar com determinadas acções dos americanos, a situação precária em que se encontra o Iraque e até o Afeganistão obriga a que haja uma nova concertação internacional para acabar com a insurreições de carácter terrorista e devolver a tal esperança às populações.
O que seria dos iraquianos se, de facto, as tropas internacionais se retirassem sem mais nem menos, como os comunistas e os bloquistas o exigem? Como se sabe, a Al Qaeda é a principal responsável pela maioria dos atentados perpetrados em solo iraquiano e pelo clima de medo que por lá se vive. Zawahiri, braço direito de Bin Laden e ideólogo principal da rede terrorista, enviou uma directiva ao falecido Zarqawi com o conceito estratégico a desenvolver na sequência da retirada das tropas internacionais. Nela, parte-se do princípio que a retirada permitirá à rede terrorista expandir-se no território. Assim, os objectivos subsequentes seriam os de atacar todas as instalações das empresas estrangeiras contratadas para a reconstrução e “infra-estruturas de apoio de vida e críticas para os trabalhos que efectuam, como centrais produtoras e distribuidoras de energia eléctrica, oleodutos, pontes, hospitais e instalações e equipamentos aéreos”. Em suma, pretendem tornar o Iraque num novo Afeganistão da era talibã.
Voltando aos argumentos a favor e contra a guerra do Iraque. Actualmente, sabe-se que não há armas de destruição em massa, nem supostas ligações entre Saddam Hussein e a Al Qaeda. Fundamentando o desastre da intervenção norte-americana, os cépticos de Esquerda recorrem à teoria da conspiração. Deste modo, a verdadeira e secreta vontade dos americanos seria a de ficar com o controlo dos poços de petróleo. Para acabar de vez com esta ideia tonta, é importante referir que, se fosse verdade, teria sido mais simples colocar um novo ditador no poder apoiante dos Estados Unidos do que fomentar a democracia. Mas tal não aconteceu, como acontecera no passado noutras regiões do mundo, porque, depois do 11 de Setembro, o Ocidente percebeu que o que se passa noutras regiões do globo pode interferir directamente “dentro de portas”. Se a democracia é o único caminho para pacificar os países do Médio Oriente, essa é outra questão. Para o bem, mas sobretudo para o mal, pacificar a região tornou-se um desígnio internacional no qual todos os países democráticos devem participar. Já não se trata de uma acção unilateral, pois os americanos acabaram por “engolir o sapo”; trata-se de uma acção multilateral que, se não for bem sucedida, afectará a vida de todos nós.
Se aqui se defende que a retirada das tropas no Iraque é impensável, a sua permanência também constitui parte do problema. Segundo os generais responsáveis pela conduta da guerra no Iraque, “a presença das tropas americanas alimenta a insurreição, provoca uma dependência indesejável da América, por parte da forças iraquianas em formação, e incentiva os terroristas no Médio Oriente.” Não deixando de concordar com esta afirmação, a retirada não deverá ser efectuada enquanto o actual governo iraquiano não possuir forças militares e policiais que possam tomar conta da segurança do país. Como salientou o presidente americano, a vitória só será atingida quando “houver condições para passar a responsabilidade da segurança para as tropas iraquianas”. Nenhum país, nenhum governante gosta de ver os seus compatriotas, mesmo que militares, morrerem em zonas de guerra. O desgaste que a administração Bush sofre com as perdas humanas nesse conflito tem-na abalado violentamente. Perante a pressão da opinião pública, seria politicamente mais fácil sucumbir à demagogia populista. Porém, não se pode pensar a curto-prazo. A permanência no Iraque será por mais alguns anos até as forças de segurança iraquianas se tornarem totalmente autónomas.
No belíssimo livro de Anthony Beevor, Paris – Após a libertação 1944 – 1949, vemos que a presença americana na capital francesa acabou por azedar as relações entre os dois países. O antiamericanismo ocidental nasce a partir desta altura. França, Iraque. Dois países, duas situações e épocas diferentes. No entanto, naquela altura, tentava-se reconstruir a França após a guerra com o plano Marshall. A presença americana foi determinante no sucesso deste empreendimento. No Iraque actual, o mesmo acontece. Serão precisos mais alguns anos até a situação estabilizar verdadeiramente. Apoiar os Estados Unidos no Iraque não significa impreterivelmente colocar tropas no país. A formação de magistrados iraquianos em Portugal é um dos exemplos daquilo que a comunidade internacional pode fazer para ajudar não os americanos, mas sim os iraquianos.
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