Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, abril 08, 2007

Política pura e dura


Esta semana, o país terá parado na expectativa de conhecer as verdadeiras habilitações académicas do Primeiro-ministro. Parece um segredo de Estado que, tal como o segredo de Fátima, terá sido desvendado com toda a pompa e circunstância. Pelos vistos, o futuro de José Sócrates, bem como o de Portugal, dependem de um diploma universitário. Será que o governo e seu chefe não têm mais que fazer em prol da Nação? Ou será que, pelo contrário, num golpe de malevolência política, o governo quer desviar as atenções das pessoas e da oposição relativamente à questão polémica da construção de um novo aeroporto?


A questão do currículo académico de José Sócrates tem de ser clarificada; disso não há dúvidas. Para quem frequentou o curso de engenharia, e pertença à ordem dos engenheiros, bem pode estranhar tamanho secretismo e o amontoado de dúvidas que pairam em relação ao currículo do Primeiro-ministro. Há quem defenda que talvez devesse suspender o mandato até as coisas estarem esclarecidas. Outros defendem que, se facto, faltou à verdade, deveria ser de certa forma castigado. Esta questiúncula, que em nada favorece a imagem dos políticos portugueses no estrangeiro, tem importância porque Portugal sempre gostou de cultivar os títulos académicos, tais como o de Dr. ou de Engenheiro. Já Prado Coelho contara que, numa conferência sobre literatura organizada em França, os membros franceses da organização se espantaram com o número elevado de congressistas portugueses que eram médicos versados em letras. Prado Coelho tivera de lhes explicar que em Portugal qualquer licenciado tem o título de doutor (Dr.), o que em França só se dá aos médicos (docteur). É o nosso provincianismo que também nos impede de tratar uns aos outros por você.


Se fôssemos rigorosos e, consequentemente, inflexíveis, José Sócrates já teria faltado à verdade quando aumentou os impostos, ao invés do que prometera em campanha eleitoral. E esta medida é que prejudica os portugueses e não o facto de ele ser ou não engenheiro. Mas a política pura e dura vive destes momentos, de jogadas de bastidores, das quezílias partidárias transformadas em novelas, mas que em pouco beneficiam o país. Não percebo a razão desta questão não ter sido clarificada logo no primeiro momento. Sócrates, que é conhecido por ser muito calculista, terá mesmo falhado? Terá mesmo desprezado – para o seu mal – esta questão que acabou por fazer da semana passada a pior desde que este governo tomou posse?


Uma coisa é certa, mais uma vez os reparos da oposição deixaram de ser assunto tratado na comunicação social com a devida importância que têm. A discussão legítima que se criou à volta do aeroporto da Ota deixou de ser debatida. A baixa de impostos sugerida pelo PSD foi esquecida. Os líderes dos outros partidos têm tido o cuidado de não falar acerca da polémica em volta do diploma de Sócrates para não serem rotulados de oportunistas demagógicos. Bem vistas as coisas, e com pouco de imaginação maquiavélica, poder-se-ia dizer que tudo não passou de uma estratégia do governo para desviar as atenções dos portugueses por forma a deixarem de questionar certas medidas políticas talvez inoportunas.


Em tempos, houve um político que defendeu que não haveria novo aeroporto enquanto houvesse listas de espera para operações médicas. Diria que simplesmente não deve haver aeroporto na Ota enquanto houver dúvidas acerca da sua localização. Depois da polémica em torno de Sócrates acabar, era bom para o país que tratassem das verdadeiras questões que interessam: relançamento da economia, diminuição do desemprego, educação e saúde. Mas não tarda nada, haverá outra polémica com outros protagonistas políticos e outros escândalos. Não fosse Portugal, parafraseando Shakespeare, um palco onde os actores se revezam no protagonismo e nas cenas da vida, neste caso política.

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