Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, março 25, 2007

Geração Web


Depois de uma tarde passada entre amigos pelas ruas da cidade, a Mariana entra de rompante em sua casa, cumprimenta rapidamente a mãe e desaparece no seu quarto. Porquê tanta pressa? A mãe já não se espanta. Cada vez que volta após uma saída, é sempre a mesma rotina. Com quinze anos, dizem que vive a fase do "esqueleto no armário", em que prefere a privacidade, a solidão e o secretismo, servindo o quarto de refúgio. De facto, a mãe não se preocupa. Nunca fora chamada à escola, a filha sempre tivera positivas, demonstrando até uma certa apetência para as ciências; os amigos eram educados e, pelo seu comportamento, não parecia que ela consumisse alguma droga.


Entretanto, no quarto, a Mariana deixara o Messenger ligado mas no estado "ausente" durante toda a tarde. Tinha "toques" de vários amigos que tinham tentado contactá-la. Agora, porém, a prioridade dela seria a de actualizar o seu blogue e o Hi5 com as fotografias tiradas do seu telemóvel e da sua máquina digital. O passeio fora óptimo. Entre o centro comercial, os jardins e as ruas, na desbunda com os amigos, principalmente com o seu novo namorado, Rui, muito haveria para dizer na expectativa de receber, mais tarde, os respectivos comentários. A dúvida consistia em determinar quais as fotos que colocaria online. Algumas não teriam proveito devido à má qualidade, outras seriam logicamente tratadas em photoshop, disfarçando as imperfeições da cara ou realçando os seus lindos olhos verdes.


A história da Mariana, se bem que fictícia, é a história da maior parte dos jovens e jovens adultos de hoje em dia, não só em Portugal como um pouco por todo o mundo. Esta geração que cresce e que mais tarde terá altas responsabilidades na condução do planeta representa o salto tecnológico que a Humanidade deu. Com ela, criou-se um mundo virtual que caminha cada vez mais para um mundo alternativo ao nosso mundo real. Haverá algum perigo? Não se sabe. Só o futuro o dirá. A globalização aproximou as pessoas. Hoje em dia é fácil comunicar com uma pessoa de outro país, de outro continente. As amizades, os amores já não têm como pré-requisito o contacto face to face com a outra pessoa. Basta um perfil bem elaborado, com alguma ficção à mistura, umas fotos engraçadas, algumas até picantes. As portas do mundo abrem-se e qualquer um dos mortais, com um pouco de imaginação, se torna um novo net-star.
A passividade que a televisão tem foi vencida pela interacção que a Internet dá. Estes jovens praticamente não vêem televisão, preferindo a Net. Muitos deles lutam pela singularidade, com roupas e penteados supostamente únicos. Os fenómenos de moda como as tatuagens ou piercings fazem furor nesta constante vontade em se distinguir do outro. Porém, os comportamentos mantêm-se iguais às outras gerações. A forma de o mostrar é que difere. Na verdade, estes jovens, apesar de serem de países diferentes – com as implicações culturais, religiosas e civilizacionais que isto acarreta –, acabam por ter um padrão de comportamento bastante igual na forma de viver a sua juventude. A Web social acaba por uniformizar em vez de diversificar. Claro que se torna mais fácil encontrar pessoas que partilhem dos mesmos gostos pessoais, musicais ou outros graças à Web do que quando se está confinado a um bairro ou uma cidade. No entanto, os rituais de socialização são os mesmos.


Analisando as coisas mais em profundidade, existe uma relação entre o fenómeno televisivo "big brother" e o uso da Internet que actualmente os jovens fazem. No primeiro caso, provou-se que a exposição íntima de uma pessoa para desconhecidos, as conversas triviais desinteressantes, encenados numa espécie de "voyeurismo" colectivo têm sucesso. No segundo, aplicaram-se as regras do primeiro numa escala global, permitindo que todos tivessem os famosos quinze minutos de fama.


Os pais, em geral, pouco percebem de informática, quanto mais de Internet. Alguns tentam controlar as horas passadas em frente ao computador, outros encetam pelo diálogo para conhecer melhor os hábitos dos filhos, mas a maior parte não se apercebe da vida paralela que os teenagers criam a partir do seu quarto.


Nos jogos interactivos, nas conversações online, a Mariana que a mãe conhece pode não ser a mesma Mariana da Web.

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