Uma semana negra para César (texto para a imprensa)
Carlos César esteve em Lisboa numa audiência com o Presidente da República, Cavaco Silva. À saída do encontro, o presidente do governo regional tecia considerações sobre a reunião e, para satisfação dos jornalistas, lá foi dando palpites sobre a sua recandidatura para as próximas eleições de 2008. Obviamente, é o candidato natural do PS e as probabilidades de ser reconduzido no cargo são muito altas. O sorriso tímido que exibia frente às câmaras escondia a verdadeira ambição de poder que se apoderou dele e que o cega perante as verdadeiras dificuldades e os verdadeiros desafios que os Açores estão para enfrentar.
Nessa mesma semana, no arquipélago que dirige, a imprensa regional dava conta da insatisfação, crítica e até revolta por parte de diversas personalidades ou associações açorianas relativamente ao desempenho do governo regional. Sobre isso, não houve perguntas e o presidente não se pronunciou. Será que se chegou ao ponto de num mesmo espaço haver duas realidades: a visão socialista cor-de-rosa dos Açores e a outra realidade cor cinza dos açorianos? Vamos aos factos e às controvérsias.
O executivo regional criou um inquérito com vista à avaliação do desempenho dos funcionários públicos. Se à partida a ideia é boa, na prática o inquérito constitui uma autêntica autorização de "caça à bruxa" do funcionário público por parte dos utentes. A polémica em torno da Directora Regional da Saúde continua e, com a publicação de um despacho com dois anos de atraso e assinado num Domingo atribuindo-lhe (ilegalmente) uma casa, toma contornos absolutamente escandalosos. Lá longe do palácio de Santana, nas Flores, empresários ligados ao sector do turismo queixam-se pelo facto do governo lançar a construção de um novo hotel para a ilha. Havendo já duas unidades hoteleiras e com dificuldades em ter lotação satisfatória, uma terceira unidade só iria, segundo estes, dificultar os negócios. Mais uma vez, a iniciativa privada é abafada. Ainda para mais quando se sabe que uma agência de turismo teve de cancelar dezenas de reservas para as Flores no Verão porque não há avião disponível para levar os turistas até lá. Em São Jorge, os empresários das cooperativas queixam-se de uma iniciativa do governo que os obriga a integrar numa espécie de "cartel" do sector, supostamente para criar um novo modelo de transformação e comercialização do queijo de São Jorge. Pelos vistos, os únicos prejudicados desta deliberação são os próprios produtores do lacticínio. Na Terceira, um mistério paira em torno da autarquia de Angra. Até há quem diga que os socialistas já decidiram em que data o presidente deva ser substituído. Mas isso ainda é segredo. Na mesma ilha, o PSD Açores deu uma conferência de imprensa em que considera perigosa a política centralista do governo da República, com a complacência do governo regional, que consiste em concentrar instituições administrativas para São Miguel em detrimento da Terceira ou até do Faial. A perda de poder e de serviços noutras ilhas " [fere] todos os princípios do desenvolvimento harmonioso e da distribuição de serviços públicos" na região. É preciso acrescentar que este tipo de políticas favorece o desequilíbrio populacional. Numa futura visita oficial do executivo açoriano à ilha do bravo, será interessante ver como os terceirenses o receberão. Por fim, porque se com as pessoas as coisas não correm bem, com os números também parece que não vá lá. Na imprensa regional diária lê-se que "a taxa média de inflação nos Açores em Março deste ano era de 3,7%, enquanto que no mesmo mês em 2006 era de 2,9%. Os açorianos pagam cada vez mais por aquilo que compram mas continuam a receber o mesmo no final do mês."
A permanência prolongada no poder cega as pessoas. O arquipélago dos Açores socialista é sedutor. O arquipélago dos açorianos já não é tão convidativo. Por isso é que há quem prefira o mundo virtual.
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