Turismo de imitação
Esta semana, a Terceira inaugurou uma nova rota aérea com a Holanda. Momento de júbilo para as autoridades regionais e para os empresários locais ligados aos sectores do turismo e diversão. No entanto, no meio desta alegria, há sempre vozes dissonantes nas quais me incluo. Há tempos, escrevi que a Terceira limitava-se a querer o que São Miguel tinha. Pelos vistos, esta ideia persiste e agora já se alargou para a estratégia de captação de turistas. Mais uma esmola do governo para calar os terceirenses.
Não é que a ilha não tenha condições para os receber. Aliás, a cidade de Angra oferece um potencial diferente, visto estar integrada na lista das cidades patrimónios mundiais da UNESCO. Mas que estes turistas não vêm na melhor altura, lá temos de o reconhecer. A cidade encontra-se votada ao abandono, como o foi reconhecido por várias personalidades ligadas à requalificação urbana. Mesmo não tendo nenhuma qualificação na área, é fácil andar pelas ruas de Angra e observar uma degradação visível a olho nu, que entristece qualquer cidadão atento. Não há dinheiro dizem os responsáveis da câmara. Disso não há dúvidas. Mas deve haver prioridades. Pelo menos, a manutenção dos espaços e monumentos deve ser encarada como prioridade número um. E a outra deve incidir sobre uma maior pressão junto do governo regional para que este apoie Angra com mais veemência. Sem sombra de qualquer dúvida, o potencial paisagístico da ilha é bastante reduzido se comparado com outras ilhas do arquipélago. O que importa então é a diferença que a Terceira pode fazer. Os aspectos culturais e históricos são as mais-valias que devem ser exploradas ao máximo.
A estratégia do actual governo tem pontos muito positivos. Como nos governos de Mota Amaral se partia do nada em termos de perspectiva para o desenvolvimento turístico dos Açores, não foi difícil para Carlos César obter vitórias importantes nessa vertente económica. No entanto, este tipo de progresso delineado é desigual e até prejudicial para as ilhas mais pequenas. A aposta no turismo vai sobretudo para a ilha de São Miguel. Não é totalmente errado. Porém, verifica-se que a ilha verde tem concentrado para si muitas das características culturais e tradicionais de outras ilhas, fazendo parecer aos turistas que o resto do arquipélago não interessa ou até é despovoado. A melhor forma para conhecer os Açores e ter uma verdadeira noção do que significa insularidade é no chamado triângulo do grupo central. Aqui, a culpa não pode recair toda no governo. As associações empresarias e as câmaras municipais das ilhas do Faial, Pico e São Jorge pecam por não ter uma perspectiva única e mais ambiciosa em termos de captação de turistas. Criar roteiros turísticos com duração entre 8 a 10 dias com visitas às três ilhas e com a exploração do potencial de cada uma delas daria umas férias de sonho para qualquer pessoa, adaptando sempre os programas às possibilidades económicas dos visitantes. O verdadeiro Whale Watching situa-se no triângulo. Todavia, os empresários micaelenses não dão hipóteses e apoderam-se do melhor das outras ilhas adaptando-o para a sua. Talvez tenha chegado o momento dos empresários das outras ilhas fazerem o mesmo, senão em breve haverá touradas nas redondezas de Ponta Delgada! Não é que seja mau, mas de falsificações estamos nós fartos.
Então, se tudo é para São Miguel como conseguir fazer a diferença? As câmaras municipais e agências de viagens gastam muito dinheiro em feiras nacionais e internacionais de turismo. Provavelmente, o melhor será o de promover as outras ilhas também nos hotéis e nas delegações de turismo de São Miguel. Os turistas têm o direito de saber que este é o arquipélago dos Açores e não de São Miguel.
PS – Para os mais incautos: como estão os estudos acerca da viabilidade ou não da rota entre a Terceira e o Porto? Esta ilha parece-se cada vez mais com Cuba; é mais fácil vir do estrangeiro para cá do que os seus residentes saírem.
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