Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, junho 24, 2007

Balanço final de ano lectivo 2


Como reduzir o insucesso e abandono escolares em Portugal? Para acompanhar a globalização, um país desenvolvido como o nosso, que deixou de se socorrer da mão-de-obra barata para atrair o investimento estrangeiro, precisa agora de mão-de-obra altamente qualificada. A aposta nas novas tecnologias é certeira, mas não deve ser a única. Investigadores e cientistas são essenciais para encontrar soluções e respostas aos novos problemas e desafios do século XXI. Contudo, não podemos ter só engenheiros e não podemos viver só de serviços. É preciso responder também às exigências do dia-a-dia. Por isso, a formação de mecânicos, electricistas ou até carpinteiros, por exemplo, também pode ajudar o país a tornar-se mais competitivo e economicamente mais atractivo.



É óbvio que a instrução desempenha um papel fundamental para o bom progresso do país. O balanço está feito; os resultados, porém, não são alcançados. Segundo dados da OCDE, em 2004, a taxa de retenção e desistência do 9º ano estava na casa dos 13,1%. No 12º era de 48,7%. As reformas seguem-se, governo atrás de governo, mas os números assustam. Pelos vistos, a escola não interessa, não corresponde ao que a juventude deseja e expecta. Nos Estados Unidos 88% da população activa tem o 12º ano de escolaridade. Em Portugal, a percentagem é de 23. Até países como a Polónia ou a Hungria estão à nossa frente. Ter estudos é crucial para o sucesso pessoal e profissional de um indivíduo. Mas significa obrigatoriamente ter emprego? Em 2005, o número de pessoas licenciadas desempregadas inscritas no Instituto de Emprego e Formação profissional (em milhares de pessoas e não em percentagem) era de 29,7. Nem a nossa massa cinzenta sabemos aproveitar. Enquanto não houver um consenso alargado sobre o rumo a seguir e o país viver em funções de "modas" pedagógicas que alteram cada vez que muda o governo, não poderemos obter melhores resultados e, por consequência, não venceremos a guerra da globalização.



Tudo começa no Orçamento do Estado. Se não há dinheiro, não vale a pena. Se as reformas implicarem só medidas para poupar dinheiro, para "obrigar" os professores a ficarem na escola sem lhes dar tarefas proveitosas para os alunos não vale a pena. Gerir bem a educação é fundamental; mas debater o que se ensina nas escolas tornou-se decisivo.



Com a democratização do ensino, criou-se uma espécie de "apartheid escolar". O desejo político em encarar os alunos de forma igual criou injustiças sociais mais flagrantes, reduzindo a qualidade do que se ensina e o rigor com que se avalia. O experimentalismo deu lugar à mediocridade. A escola não conseguiu corrigir as desigualdades sociais, antes pelo contrário, acentuou-as. Filhos de pais com estudos apresentam uma alta taxa de sucesso escolar. Nos filhos de operários reina o insucesso. Onde há bairros sociais, ou guetos, as escolas das redondezas são consideradas problemáticas ou até de alto risco. Porquê? Alguém provou que se trata de uma questão genética? A expressão "Todos diferentes, todos iguais" devia ser banida do vocabulário português. Deve tratar-se de forma diferente quem é diferente. Mas deve dar-se a mesma oportunidade a todos. Para isso, com pragmatismo, deve-se apostar na heterogeneidade das turmas, para que os alunos com dificuldades não sejam metidos no mesmo saco, e numa autonomia mais alargada das escolas. É preciso alargar o acesso ao ensino profissional, bem como a oferta de cursos profissionais com base nas necessidades económicas locais e nacionais. É necessário abrir a escola às empresas para promover o ensino de utilidade prática, aumentando assim a empregabilidade dos alunos. Contudo, não se pode pensar só nos alunos medianos ou naqueles que não pretendem prolongar os seus estudos. A escola tem de saber igualmente explorar o potencial dos alunos com bom aproveitamento.



Depois de apetrechar as escolas com todas as novidades tecnológicas e com áreas de recreio que estimulem a prática variada de desporto e do convívio social, depois de reformular os currículos permitindo uma maior flexibilidade e liberdade por forma a adaptá-los em função das dificuldades dos alunos é que nos podemos dar ao luxo de pensar nos extras como o são a educação sexual ou a educação para a cidadania. O número de horas que um aluno passa na escola é irrelevante. Exemplo disso é a Finlândia em que o número de horas dispensadas para o ensino é muito reduzido e, no entanto, só 2,8% dos alunos com 15 anos não passam de ano.



Presentemente, com os meios que temos e com os actuais currículos, ampliar a escolaridade obrigatória para o 12º ano de escolaridade (ou até aos 18 anos) constituirá um autêntico crime social.

1 Comentários:

Blogger Carolina Almeida disse...

Olá. Gostei muito do blog, e deste post em especial.
É lamentável que a sociedade em geral e os pais / encarregados de educação em particular não exijam mais da Escola.
Penso por isso que falta também uma mudança de mentalidades.
Parabéns.
Cumprimentos.
Carolina Almeida

9:53 da tarde  

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