Medo da escola
Neste final de ano e início de férias para os milhares de alunos portugueses, duas notícias marcam indiscutivelmente as escolas açorianas e todos aqueles que lhes estão ligados. O primeiro caso trata de um aluno da escola secundária de Angra que praticou actos chocantes dentro do Santuário de Nossa Senhora da Conceição e que, depois de ter sido filmado, colocou a gravação na Internet. O segundo trata de um aluno com treze anos de idade que ameaçou uma professora e trouxe uma arma de fogo para dentro da escola, nos Arrifes.
A maior parte da comunicação social divulgou e condenou a primeira notícia, não se tratasse de um autêntico acto de sacrilégio numa terra altamente religiosa. Quanto à segunda, a RTP/Açores noticiou-a com muita cautela, pois trata-se de um acontecimento inédito e particularmente delicado. Contudo, quando a notícia foi divulgada na quinta-feira, tudo parecia bastante claro: depois da polícia, junto com os pais, terem sido chamados ao local, o miúdo em questão tinha sido suspenso até à instauração e conclusão do processo disciplinar que, ao contrário do resto da justiça portuguesa, foi bastante célere. A Secretaria da Educação condenou rapidamente o acto, alegando que o castigo seria exemplar. No dia seguinte, o telejornal abriu com a mesma notícia mas com novos desenvolvimentos. O processo tinha sido concluído e o aluno voltaria para a escola, sendo doravante acompanhado por psicólogos e assistentes sociais com apoios de todo o tipo. Fica por saber o que significa castigo exemplar. De repente, dei por mim a pensar que, na verdade, quem ameaçara com uma arma de fogo tinha sido a professora e que afinal a vítima era mesmo o aluno. Na peça, não houve referência à professora alvo da ameaça; nem sequer se sabe se vai ter algum apoio psicológico. Sabe-se é que a inspecção da Educação vai interrogá-la porque a escola tem um papel integrador e inclusivo, mesmo para futuros delinquentes e criminosos. A partir deste ponto, eis a questão que nos devemos colocar: ao saberem da consequência de tal acto, como reagirão os outros alunos?
Estas duas situações graves que envolvem jovens estudantes devem fazer-nos reflectir não só sobre as políticas educativas do governo regional, mas sobretudo sobre as políticas sociais que foram sendo criadas ao longo dos anos mas que, ao contrário do que era pretendido, permitiram que a desresponsabilização cívica e a pobreza nos Açores aumentassem e, consequentemente, a delinquência e a criminalidade fossem acompanhando esta tendência negativa com repercussões que só agora são evidentes. Neste caso, mais uma vez, a impunidade venceu. A desresponsabilização sobe mais um degrau na escada que conduzirá a sociedade à sua perdição.
Os governantes têm a obrigação de encarar os factos tal qual se apresentam e não de virar a cara como se nada tivesse a ver com eles. A escola não deve desempenhar todos os papéis a que a sociedade obriga. Até agora tem-se apostado no ensino especial para alunos com necessidades educativas especiais quando na verdade, no contexto em que nos integramos – a região mais pobre do país –, o centro de todas as atenções deveria ser a integração e o acompanhamento social dos alunos carenciados. Mas a minha perspectiva diverge em muito dos ideais socialistas, pois acredito na autoridade e nos castigos exemplares. Tendo em conta a sociedade que está sendo criada, temos de encarar a possibilidade de instituir um centro para acolher jovens problemáticos nos Açores com todos os recursos humanos e físicos para os acompanhar e não deixar que se percam nas teias da criminalidade. As próprias escolas precisam de mais psicólogos e sobretudo assistentes sociais para diagnosticar possíveis comportamentos desviantes antes que se concretizem em actos graves. Mas as políticas educativas empreendidas são as de fazer do professor pau para toda a obra como, neste caso, em criar o cargo de Professor-Tutor: dá-se um pouco mais no ordenado e tem-se alguém a debitar banalidades e lugares-comuns a um jovem que precisa de alguém verdadeiramente conhecedor em matérias de gestão de conflitos e problemáticas sociais. O problema fica por resolver, logo que as estatísticas ajudem a disfarçar o lado negro da sociedade. Veja-se o júbilo de Carlos César ao festejar os 10 anos de rendimento mínimo quando, na realidade, se alguma festa deveria haver teria de ser a do fim do rendimento mínimo.
Estas políticas reflectem a tendência marxista e “rousseauniana” de encarar o cidadão e a sociedade. Como se tem visto, quer queiramos quer não, tal como o comunismo, percebe-se aos poucos que a utopia dá lugar a um grande equívoco com efeitos desastrosos para as pessoas. A sociedade perde cada vez mais os valores essenciais a uma convivência saudável. Os governantes, lá de cima, dos seus gabinetes, inventam um mundo melhor , um mundo mais justo, mas não se esquecem de aumentar as vedações das suas casas e de se fechar em condomínios privados.
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