Um presidente em apuros
A cidade de Angra do Heroísmo deve ter sido das únicas cidades do mundo em que fogo de artifício começou uns bons minutos antes da meia-noite. Podia tratar-se de uma falha técnica, de um erro de timing, mas quando sabemos que 2007 foi um “annus horribilis” para a presidência camarária, chegamos à conclusão que o verdadeiro objectivo foi o de despachar o ano que findou com esperanças de que 2008 seja bem melhor para a Câmara Municipal de Angra, nomeadamente para o seu presidente.
Como prova desse desejo imperioso de mudança, o Presidente da Câmara de Angra, José Pedro Cardoso, deu uma entrevista bastante honesta mas pouco recomendável para um político que pretende continuar nos desígnios de uma Câmara. Ao fazer o balanço dos seus dois primeiros anos de mandato, José Pedro Cardoso praticamente desculpou-se pelo facto de Angra se encontrar num regime de autogestão, sem apresentar obras significativas, nem novidades em termos de políticas para fazer progredir a cidade. Aliás, ao fim destes anos todos, só agora é que a edilidade vai pensar em como capitalizar o potencial turístico da cidade enquanto Património Mundial da UNESCO. Se olharmos para o centro da cidade, para os prédios devolutos, para aqueles edifícios que vão sendo roídos aos poucos pelas térmitas e cujos preços no mercado imobiliário não valem nem metade do que é pedido, é de reconhecer que há um enorme trabalho a fazer para que Angra não só seja um atractivo turístico como também não perca o seu estatuto no seio da UNESCO.
A cidade de Angra, tal como as outras, tem imensas dívidas que estão a ser pagas aos poucos. É óbvio que uma câmara endividada é um mau exemplo para a sociedade e prejudica o desenvolvimento local. No entanto, ser-se eleito mediante promessas eleitorais que não são cumpridas, actuando como um mero gestor, sem carisma, que não transmite uma ideia forte de liderança aos seus munícipes, só pode resultar num fracasso político que será penalizado nas próximas eleições autárquicas. Se não fosse assim, então para que serviria um presidente de câmara?
Enquanto pessoa, José Pedro Cardoso tem o mérito de ser frontal e humilde ao reconhecer que as coisas não lhe estão a correr de feição, valendo-lhe assim uma certa empatia por parte das pessoas. Mas na vida política, há “tubarões” sempre à espera de deslizes como esses para preparar a sua sucessão.
Há uns meses atrás, escrevi que haveria a possibilidade de ocorrer uma espécie de golpe palaciano em Angra, por causa de um deputado socialista que, de certa forma, tinha retirado a confiança política ao presidente. Enganei-me; o presidente mantém-se no lugar. Contudo, o que está a acontecer leva a imaginação a pensar o pior. Deixar a câmara neste impasse político, fará com que a reeleição se torne difícil, daí o PS estar a preparar-se, nos bastidores, para uma sucessão forçada. Nas próximas eleições autárquicas, o PSD/Açores tem uma oportunidade de ouro para conquistar esse lugar há muito perdido. Dependerá de quem for escolhido para representar o partido. Não há dúvidas de que o candidato laranja terá de ser alguém que simbolize a ruptura com os padrões políticos em todos os sentidos. Só uma “lufada de ar fresco” poderá acabar com o marasmo em que Angra se encontra.
No entretanto e bem distante destes problemas locais, Carlos César fará esta semana, em Angra, o anúncio oficial da sua recandidatura ao cargo de Presidente de Governo Regional. Será interessante ver a aclamação dos seus súbditos terceirenses, uns com a esperança de se manter no lugar atribuído, outros sonhando com uma futura promoção pela sua devoção ao partido socialista. No meio, talvez apareça um potencial candidato a candidato do PS para a câmara para o respectivo beija-mão. Mas isso está no silêncio dos deuses do Palácio de Sant’Ana.
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