Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, abril 13, 2008

Maldita insularidade




Nada melhor do que uma boa tempestade para a comunicação social do continente falar dos Açores. É este o fado destas ilhas. Habituados, sim; conformados, nunca. O governo regional gastou uns milhares de euros ao patrocinar uma telenovela da TVI. No entanto, só uma catástrofe ou uma ameaça climatérica é que põe os Açores nas páginas dos jornais e na boca dos pivots dos telejornais nacionais. Desta vez, tivemos concorrência. A Madeira foi fustigada pelo mau tempo que acabou por provocar bastantes estragos. Até nisso estamos a perder qualidades.


Para quem é do continente, a percepção de viver numa ilha pode até ter o seu lado exótico e atractivo, mas para quem é ilhéu a realidade apresenta-se de outra forma. Faltando-me palavras para exprimir sentimentos e sensações que a insularidade, por vezes, provoca, recorro à poesia de Álamo de Oliveira, nomeadamente a este verso: “(A vida está tão pesada ao ar livre)”. Muitos açorianos partiram da sua terra em busca de uma vida mais folgada, procurando-a muitas vezes noutro continente. Mas o factor económico é uma parte da explicação. Houve tempos em que viver no arquipélago era como pertencer a outro mundo. Um mundo parado no tempo, sem que nada acontecesse a não ser sobreviver e organizar procissões e promessas religiosas para que a natureza não castigasse o povo sofredor e incompreendido. Houve um tempo em que o próprio país e o seu líder deixaram de olhar para o povo açoriano, abandonando-o à sua sorte. Houve um tempo em que os jovens açorianos se sentiam sufocados neste “inferno verde” e, sedentos de aventura, partiam em busca do novo mundo porque queriam simplesmente pertencer ao mundo dos outros: o verdadeiro. Felizmente, os Açores já não estão tão isolados. O progresso chegou cá com o muito bom e o mau que acarreta. A insularidade, porém, mantém-se.


A globalização, aliada ao progresso tecnológico, permitiu aproximar os povos de todo o mundo tornando-os activos e actores das transformações, nesta era considerada pós-moderna. Todavia, esta aldeia global nem sempre se abriu para os Açores. Antes pelo contrário, perante um mundo mais aberto, de mais fácil acesso e inclusivo, os açorianos continuam elementos passivos, agarrados à sua televisão por cabo e à Internet de banda larga. O ecrã mostra o mundo aos ilhéus como o faziam no passado as cartas dos familiares emigrados ou os relatos de jornalistas como Alfredo de Mesquita maravilhado com a América do Norte. Quais são as vantagens de viver nos Açores? Mais do que antigamente, esta pergunta, na actualidade, tem toda a sua pertinência.


Para algumas pessoas, nalgumas ilhas, o progresso trouxe melhores condições de vida e mais cosmopolitismo. Nas ilhas mais recônditas, com menos população, provavelmente encaradas como menos prioritárias, as populações ainda vislumbram aqueles Açores antigos, que são recordados com nostalgia por aqueles que as visitam de passagem. A população envelhece e a juventude desaparece. Será este um processo irreversível? Qual é a viabilidade de todo um arquipélago em manter umas centenas de pessoas numa ilha?


Por mais dinheiro que se gaste em infra-estruturas, por mais incentivos que se dê às pessoas para não deixarem a sua terra ou para atrair forasteiros, se não houver qualidade de vida, nada feito. E qualidade de vida não significa obrigatoriamente construir uma melhor estrada ou uma marina. Qualidade de vida pode significar dar a oportunidade e condições às pessoas para contribuir activa e utilmente para a sociedade a partir da sua freguesia. Qualidade de vida pode significar deslocar-se ao continente e voltar à sua vila como se de um passeio se tratasse sem ter fazer poupanças, nem contrair empréstimos para concretizar a viagem. Qualidade de vida pode significar escolher entre exercer uma profissão numa grande cidade europeia ou exercê-la a partir do Atlântico, sem partir da sua região, sem deixar a família ou os amigos. Qualidade de vida é dar às pessoas a possibilidade de escolher, não é obrigá-las a partir.



Há quem defenda que qualquer ilhéu deveria ter direito a uma passagem aérea por ano de forma gratuita. Não vou tão longe, mas não compreendo a razão das tarifas da TV Cabo serem praticamente iguais às do continente e a Internet não ser gratuita na região, ou pelo menos nas ilhas menos populosas.

1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Identifico-me com o conteudo desta maldita insularidade. Há qu fazer alguma coisa por esta desertificação e envelhecimento da população. As sugestões deixadas poderiam cosntituir um principio.

10:59 da tarde  

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