Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, abril 06, 2008

Não pedi para nascer


Um estudo realizado pelo Ministério Público e liderado pela procuradora-geral ajunta, Maria José Morgado, revela que o número de abusos sexuais a crianças triplicou em Portugal, no período entre 2002 e 2007. Se as novas tecnologias, como a Internet tem permitido a adultos, com tendências pedófilas, difundir pornografia infantil e entrar em contacto com jovens e crianças, não é de menosprezar o facto de muitas das vítimas terem um laço familiar com o agressor. Com este triste relatório e as recentes notícias sobre a violência nas escolas e o sentimento de insegurança que se vive nas ruas, a sociedade questiona-se sobre a importância da família e a mudança dos valores nos dias de hoje.


Este fenómeno não é um exclusivo de Portugal, mas concerne a maior parte dos países ocidentais, nomeadamente latinos. Perante tamanha insegurança, torna-se tentador culpar o Estado, os responsáveis políticos e os agentes da lei. Mais recentemente, o debate sobre esta questão incluiu como motivos a mudança da sociedade e o apagamento dos valores antigos onde a família tradicional era algo de fundamental. A diminuição do peso da igreja católica na sociedade portuguesa terá também contribuído para a ampliação deste problema. Problemas novos de ordem social, novas formas de pobreza e exclusão, com alguma promiscuidade à mistura, são factores determinantes a ter em conta.



O que levará certos adultos, e enquanto pais, a cometer crimes sexuais contra crianças? Mas a pergunta pode também ser feita àqueles que são desleixados relativamente aos seus filhos; àqueles que os deixam andar na rua até altas horas da noite sem saber do seu paradeiro; àqueles que não actuam perante um filho insolente ou mal comportado na escola. O que se passa na cabeça daqueles pais que recebem visitas ou telefonemas da Segurança Social ou da Polícia por causa do filho e, que ainda por cima, acham que ele tem razão? A vergonha terá mesmo desaparecido?



Todas as pessoas passam por dificuldades na sua relação com os outros elementos da família. Não há ricos ou pobres imunes a estas vicissitudes da vida. Aliás, os divórcios, cada vez mais frequentes, são a prova de que muitas das dificuldades podem não ser ultrapassadas. Numa sociedade tão individualista como nossa, quando as coisas correm mal, mais vale acabar com aquilo que parecia no início um conto de fadas do que prolongar o sofrimento, pois nem tudo tem remédio e a solução pode passar por um rompimento. Mas, quando se tem filhos, o laço fica para sempre, independentemente do caminho que se faz posteriormente. O amor familiar é algo que transcende a própria existência e as tradições de um povo. Muito se tem falado dessa ligação biológica entre uma mãe e a sua criança. Contudo, é de acreditar que algumas mães não a conseguem desenvolver porque o organismo pode não ter criado as substâncias químicas necessárias. Com o deciframento do código genético humano, alguns cientistas avançam a hipótese da existência do chamado gene do mal. Por outras palavras, as pessoas maldosas poderiam ter uma espécie de deformação genética que as tornariam violentas e criminosas. Alguns estudos de psiquiatria defendem que a pedofilia é uma doença incurável, fazendo com que a reabilitação dessas pessoas e a sua integração na sociedade seja impossível. Tudo isto pode constituir uma explicação para os problemas da sociedade actual e um contributo para a sua resolução. Mas sejamos sinceros: trata-se de uma ínfima parte. São casos isolados. Por isso, voltamos à mesma dúvida: por que razão alguns adultos têm filhos se não sabem cuidar deles? Por que é que os têm se são demasiado egoístas para não os colocar na sua primeira prioridade?


Algumas crianças são o reflexo do meio familiar a que pertencem. E algumas delas, ainda com tenra idade, já demonstram uma raiva impressionante, fruto da falta de amor e do abandono a que são votadas. As leis, por mais repressivas que sejam , nunca irão resolver esta situação. Das duas uma: ou se reduz a idade de indulto aos menores e se cria autênticas prisões para eles, ou se repensa nas políticas de apoio às famílias e de adopção com o objectivo de fortalecer os laços entre os membros e de reaprender o significado de uma família. Só assim se poderá, moralmente, pedir responsabilidades aos progenitores pelos actos dos filhos.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Ora bolas, agora complexos de culpa?
Nenhum pai (ou mãe) pediu a uma alma que "encarnace". As crianças nascem naturalmente e por acaso, mesmo que os pais não tenham intenção de se reproduzir. Aliás, sempre aconteceu e acontecerá nascerem crianças que não foram desejadas.

Zé da Burra o Alentejano

1:41 da tarde  
Blogger Carolina Almeida disse...

Caro anónimo, o problema é mesmo esse: que as crianças nascem por acaso, sem serem desejadas, quando as mães ainda mal deixaram de brincar com as bonecas e os rapazes ainda não deixaram a "idade do frango".

A educação para a sexualidade responsável é inexistente. A informação está acessível, mas por qualquer factor incompreensível, ela não atinge os objectivos desejados.

Por outro lado, desejo acrescentar um ponto que me parece preocupante: essas crianças votadas ao abandono, que já carregam tanta raiva, provavelmente serão pais tão negligentes como os seus foram. Ou seja, trata-se de uma bola de neve assustadora, que só pode ser combatida com uma mistura de afecto, educação e formação.

2:31 da tarde  

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