Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, março 02, 2008

Sobre as eleições americanas


Durante a cerimónia de entrega dos Óscares, o mestre de cerimónia, Jon Stewart, ilustre apresentador de um programa de sátira sobre a política americana, declarou em tom de piada que o único momento em que o cinema mostra um negro ou uma mulher enquanto presidente dos Estados Unidos é quando um asteróide se abate sobre o planeta. Felizmente, não está prevista nenhuma catástrofe; a realidade misturou-se com a ficção e, pela primeira vez, o país mais poderoso do mundo terá ou uma mulher ou um negro como presidente.



É óbvio que as eleições ainda não chegaram ao fim, por isso a afirmação anterior não passa de um palpite. Contudo, há sinais claros que mostram que uma mudança está em curso nos Estados Unidos.



Antes de mais, ao percorrer o historial das eleições americanas, vemos que, depois de dois mandatos seguidos, há a tendência, quase tradicional, em alternar para o partido que se encontra na oposição. Nesta perspectiva, as probabilidades dos Democratas ganharem são altas. Mas há mais conjunturas que reforçam a ideia da vitória do partido Democrata. Os Republicanos têm candidatos que nada trazem de novo. Digo-o à vontade porque se fosse americano seria Republicano – moderado, certo, porque a presença da componente religiosa no discurso político, que roça o fanatismo, como no candidato Mike Huckabee, é para mim inconcebível. Demasiado colados à actual administração de George Bush, John MacCain e Mike Huckabee colhem a insatisfação dos cidadãos em geral, o que fará com sejam também castigados nas urnas. Penso que é disso que se trata. Se, em 2004, os americanos ainda se reviam no discurso de firmeza e afirmação de George Bush, apesar dos graves erros cometidos, desta vez há uma grande desilusão à qual se soma uma crise económica que afecta o dia-a-dia das pessoas. Outro factor não somenos importante é que, ao contrário das eleições de 2004, os candidatos Democratas trazem algo de novo e esperançoso ao povo.



Por isso, é de prever que os Republicanos percam nas urnas. Daí a luta entre Hillary Clinton e Barack Obama ter esse mediatismo como se de uma final entre duas equipas rivais se tratasse. Aliás, para os Democratas e os americanos em geral, a escolha para a presidência dos Estados Unidos seria menos conflituosa se Barack Obama fosse branco ou se Hillary Clinton fosse homem. Ao contrário do que o nosso primeiro-ministro gosta de usar de forma exacerbada, este é um verdadeiro momento histórico para a Humanidade. Momento que prova a igualdade entre géneros e raças, onde já não há distinção de cores ou de sexos. Eis o conceito de igualdade de oportunidade aplicado sem hipocrisias ou falsidades, porque os candidatos têm realmente valor e experiência. Melhor do que fazer guerra para promover a democracia, este é um sinal que a América dá ao mundo; um sinal de respeito pela diferença, pela liberdade individual e pela emancipação das pessoas independentemente das suas origens.



Perante o impacto mediático destas primárias, a Esquerda europeia está ao rubro e a tendência é para apoiar Barack Obama. Sem grande substância, mas com muita convicção e uma oratória impressionante, Obama é o candidato que transmite uma imagem de esperança e de um mundo melhor. Só não se sabe bem é como vai tornar o mundo melhor. Esta ilusão dos europeus irá desmoronar-se quando os primeiros mísseis forem lançados, sob ordem do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Os americanos são muito pragmáticos e o futuro reserva-nos – sobretudo aos americanos – conflitos que irão pôr em causa a paz mundial, porque não se pense que a ascensão da China seja sempre pacífica, que o afastamento da Rússia seja inconsequente ou que o aumento do petróleo não tenha influência nas futuras operações militares.



No momento após o resultado das eleições americanas, os republicanos voltarão para a oposição e terão de fazer a tal caminhada pelo deserto. Depois de 8 anos na Casa Branca, considero que a Direita americana tem de voltar à oposição, discutir internamente os seus desígnios e a sua essência, em suma, reposicionar-se no mundo actual. E que essa discussão faça com que as questões teológicas e os preconceitos ideológicos deixem de ter uma influência tão forte e, muitas vezes, nociva nos debates políticos.



Contrariamente à Europa, acredito que só nos Estados Unidos o debate sobre a Direita possa ser feito de modo elevado, inovador e com qualidade. Então, a Direita, que é também minha, encontrará o seu Barack Obama.

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