Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, abril 27, 2008

Sangue Lusitano



Os portugueses estão em vias de extinção. Pelo menos, é o que dizem as estatísticas sobre a demografia em Portugal. Pelo facto de haver poucos nascimentos que possam compensar o envelhecimento dos portugueses, o país poderá enfrentar no futuro uma crise populacional sem precedentes. Há quem defenda que, com as recentes vagas de imigrantes vindos de África, do Brasil ou da Europa de Leste, não há razões para se preocupar. Porém, é preciso encarar esta situação com alguma frontalidade: não se trata de uma mera questão de reposição demográfica; trata-se sobretudo do património genético português que está em vias de extinção. O que será do gene português daqui cem anos?

Viajando pelas comunidades portuguesas espalhadas pelos cinco continentes, observamos que, na maioria dos casos, a constituição de famílias ainda se realiza entre homens e mulheres portugueses. Apesar de estar bem integrados nos países onde residem, os emigrantes mantêm-se fiéis às suas origens, cultura e à sua história. Voltando a Portugal, há uma sensação crescente de perda de identidade. Onde está o verdadeiro português? Em Portugal ou no estrangeiro?


O emigrante português é bem diferente de qualquer outro emigrante de qualquer outra nacionalidade. Para além das razões, como as económicas e sociais, que o levam a sair do seu país natal, há outro factor que determina a sua partida. Falo do factor aventura; do gosto pela partida para o desconhecido. Falo deste mesmo factor que tornou o período dos descobrimentos possível e um fenómeno puramente português. Não há dúvidas de que o povo português é o que melhor soube adaptar-se e integrar-se nos países de acolhimento. Por todo o lado, onde quer que vá, tem sucesso e consegue cumprir o seu sonho. E, o mais importante, ao contrário do que se poderia pensar, não se sentiu na obrigação de abdicar do seu passado, nem das suas origens. Cultivou e continua a cultivar a sua cultura, na verdade, muito ligada à religião católica. A saudade nasce dessa perpetuação de tradições e de memórias. A saudade nasce desse apego à terra que, curiosamente, se mantém vivo mesmo nos emigrantes de terceira geração – ou mais –, e que nunca viajaram até Portugal. Este ser do português é único na terra. O judeu andou séculos à procura da sua terra. O português anda, há séculos, a fugir da sua terra porque só se sente bem quando está longe dela. Não é explicável, porque a saudade não se explica: sente-se.


Esta dor que leva portugueses a chorar e sentir o coração sufocando nas despedidas dos antigos cais marítimos ou, agora, nos aeroportos é saudável e até vital. O português só vive nesta mistura de alegria efémera e dor constante. Tornou-se genético. O fado retrata formidavelmente este sentimento, esta pathos. É o destino; é o nosso fado. De Paris, Berlim, Fall River até Tulare, de Sydney até Pretória, a nostalgia que se vislumbra num sorriso português, quando se lhe fala do seu país, é inimitável e intransmissível.

No dia em que os portugueses deixarem de emigrar, Portugal não será mais.

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