Sangue Lusitano

Viajando pelas comunidades portuguesas espalhadas pelos cinco continentes, observamos que, na maioria dos casos, a constituição de famílias ainda se realiza entre homens e mulheres portugueses. Apesar de estar bem integrados nos países onde residem, os emigrantes mantêm-se fiéis às suas origens, cultura e à sua história. Voltando a Portugal, há uma sensação crescente de perda de identidade. Onde está o verdadeiro português? Em Portugal ou no estrangeiro?
O emigrante português é bem diferente de qualquer outro emigrante de qualquer outra nacionalidade. Para além das razões, como as económicas e sociais, que o levam a sair do seu país natal, há outro factor que determina a sua partida. Falo do factor aventura; do gosto pela partida para o desconhecido. Falo deste mesmo factor que tornou o período dos descobrimentos possível e um fenómeno puramente português. Não há dúvidas de que o povo português é o que melhor soube adaptar-se e integrar-se nos países de acolhimento. Por todo o lado, onde quer que vá, tem sucesso e consegue cumprir o seu sonho. E, o mais importante, ao contrário do que se poderia pensar, não se sentiu na obrigação de abdicar do seu passado, nem das suas origens. Cultivou e continua a cultivar a sua cultura, na verdade, muito ligada à religião católica. A saudade nasce dessa perpetuação de tradições e de memórias. A saudade nasce desse apego à terra que, curiosamente, se mantém vivo mesmo nos emigrantes de terceira geração – ou mais –, e que nunca viajaram até Portugal. Este ser do português é único na terra. O judeu andou séculos à procura da sua terra. O português anda, há séculos, a fugir da sua terra porque só se sente bem quando está longe dela. Não é explicável, porque a saudade não se explica: sente-se.

Esta dor que leva portugueses a chorar e sentir o coração sufocando nas despedidas dos antigos cais marítimos ou, agora, nos aeroportos é saudável e até vital. O português só vive nesta mistura de alegria efémera e dor constante. Tornou-se genético. O fado retrata formidavelmente este sentimento, esta pathos. É o destino; é o nosso fado. De Paris, Berlim, Fall River até Tulare, de Sydney até Pretória, a nostalgia que se vislumbra num sorriso português, quando se lhe fala do seu país, é inimitável e intransmissível.
No dia em que os portugueses deixarem de emigrar, Portugal não será mais.

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