Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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segunda-feira, outubro 09, 2006

Angra em stress


Há muito que o país se encontra em crise. Há muito que os governos tomam medidas duras para controlar a dívida e a despesa públicas, obrigando os seus cidadãos a contar todos os tostões que saem do bolso. Aumenta-se os impostos, corta-se com os aumentos salariais, introduz-se reformas a conta-gotas e indiscriminadamente – sem sentido estratégico –, e anula-se certos direitos adquiridos alegando a efemeridade destes, porque quem os deu não terá passado de um charlatão (a saber o Estado). Ao mesmo tempo, ajuda-se os mais pobres para não sofrerem ainda mais com as consequências da crise e tenta-se captar o investimento privado internacional. Portugal é um barco perdido no meio do oceano da globalização e em que os seus marinheiros tentam, em desespero, vazar a água que o afunda lentamente.

O novo Orçamento de Estado encontra-se na sua fase final de preparação e já desencadeou um debate muito acalorado em todos os sectores da vida política, empresarial e sindical. A nova Lei das Finanças Regionais e Locais originou um braço-de-ferro entre a Madeira, a maior parte dos municípios e o Governo. Ninguém gosta de receber menos dinheiro do que aquilo que espera, ainda para mais quando tem dívidas para saldar. As cidades prometem parar com o investimento e algumas até dizem que terão falhas no que diz respeito ao apoio à saúde e à educação. A chantagem começou e nada melhor do que usar o povo para servir de moeda de troca. Neste jogo do vale-tudo, sobretudo do jogo baixo, dou por mim a passear pela cidade de Angra do Heroísmo e meditar: “chegou a vez de todos apertarem o cinto!” Mas será mesmo assim?
Qualquer edil de uma câmara pretende o melhor para os seus munícipes. Desde o saneamento básico às infra-estruturas desportivas e culturais, todas as iniciativas são boas para trazer o bem-estar à população. No entanto, em tempos de vacas magras, famintas até, é preciso criatividade para continuar a trabalhar em prol das pessoas. E, por vezes, ter dinheiro dificulta as coisas.

Actualmente, a cidade de Angra está ao nível da cidade de Lisboa, mas para o pior: o imobiliário é caríssimo e o trânsito caótico. O mal das grandes metrópoles chegou, não se sabe bem como, a uma pequena cidade insular. Quem lê os jornais locais ou visita os stands imobiliários depara-se com algo de surreal. Seja na compra ou no arrendamento, os preços de apartamentos ou moradias na cidade e à volta da cidade não são caros; são inaceitáveis. Nada justifica tamanha especulação de preço, nem pela dimensão das habitações, nem pela qualidade das construções. “Há sempre quem compre”, alegarão alguns profissionais do ramo. Mas também é verdade que existem muitas habitações que se encontram por vender ou por arrendar há vários meses. No que diz respeito ao trânsito, as manhãs e fins de tarde representam momentos de autêntico stress para centenas de terceirenses que se deslocam para o emprego. Mesmo durante as horas de expediente, nas principais ruas da cidade, os níveis de ruído e poluição são demasiado alto para os transeuntes e moradores.

É verdade que, no primeiro caso, a câmara municipal pouco pode fazer para moderar e controlar os preços estipulados por empresas privadas ou particulares. No entanto, aí entra o factor criatividade. Criar incentivos fiscais e apoio financeiro quer na aquisição, quer no arrendamento de habitações pode contribuir para a manutenção das casas centenárias, como também para o rejuvenescimento da população. No segundo caso, todo o mapa de circulação é delineado pela edilidade. Urge rever o plano com ousadia e imaginação. Algumas ruas merecem ser cortadas ao trânsito, permitindo aos peões uma circulação livre e relaxada pela cidade, estimulando ainda mais o comércio local. O tráfego de camiões de mercadorias, bem como de autocarros precisa de ser condicionado para determinados locais e em horário específico. A descarga de bens comerciais não deve ser efectuada a qualquer hora do dia. Com a existência dos minibus, a ideia de criar uma central de autocarros fora do centro urbano é perfeitamente exequível, libertando Angra das multidões que enchem os passeios à espera das “urbanas”.

Se as autarquias sempre se queixaram por terem pouco dinheiro, no próximo orçamento, o aperto será ainda pior. Por isso, torna-se pertinente e interessante olhar para a cidade e trabalhar com aquilo que ela tem. A qualidade de vida dentro de uma cidade não se resume só a mais urbanização. Nesta difícil missão de trazer o bem-estar a uma cidade, o contributo de cada munícipe será sempre bem-vindo.

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