Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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terça-feira, maio 22, 2007

Se eu fosse Primeiro-ministro

Há dias em que uma pessoa não devia sair de casa. Há dias em que tudo corre mal. Dias esses em que apetece perder as estribeiras. Felizmente, esses dias de azar aparecem muito raramente, mas quando acontece pode fazer muitos estragos. Há os azares de vida que ninguém adivinha por maiores ou menores as consequências. E há aqueles provocados voluntariamente ou não por terceiros. Há dias em que, quando se sai de casa, um pneu do carro está furado e atrasa a nossa vida; e há dias em que, quando se chega ao trabalho, a empresa encerra e se vai para o desemprego.


Pela televisão assiste-se semanalmente a estes dois tipos de azares. De um, temos um casal que aproveita as suas férias para jantar fora e quando chega a casa, a filha desapareceu. Do outro, temos famílias que ficam numa situação desesperada porque a fábrica onde trabalhavam encerrou e os deixa sem trabalho. É difícil culpar alguém pelos sucedidos. No entanto, nem todos os azares da vida têm origens inexplicáveis. Às tantas, o carro de há bocado tem o pneu furado porque a estrada está em muito más condições. Às tantas, a fábrica fechou porque o patrão acha que Portugal obriga a muitas despesas e burocracias, sendo preferível deslocalizá-la para outro país da União Europeia onde se consegue a mesma produtividade com menos gastos.


O desemprego em Portugal atingiu o número recorde que deve preocupar os governantes. Por mais que os índices económicos sejam positivos, há um número cada vez maior de portugueses que sofre directamente o problema do desemprego, da instabilidade, das dívidas que não se consegue pagar; enfim, o desespero apodera-se das pessoas mesmo daquelas que trabalham, pois agora nada é garantido, nem mesmo os empregos do Estado. Hoje, como nunca, a palavra solidariedade tem a sua importância. É preciso ajudar quem mais precisa. O Estado tem criado fundos e instituições de solidariedade. O mais lógico é ajudar os mais pobres. Felizmente, isso já é feito. Contudo, a pobreza não desapareceu. Pelo contrário, aumenta e toma contornos novos que obriga os especialistas da área a estudar as novas formas de pobreza. Existe a chamada pobreza envergonhada. Pessoas que sempre trabalharam, que contraíram empréstimos bancários para uma casa, para um carro e que de um momento para o outro, ficam no desemprego, deixando de ter meios monetários para pagarem as suas dívidas. Apodera-se, nessas pessoas, um sentimento de vergonha, que faz com que escondam os seus problemas dos outros. Alguns até passam fome. Todo este sofrimento escondido faz com que ninguém os ajude, porque ninguém sabe.


Entretanto, nos bairros sociais, que alguns chamam de guetos, vêem-se jipes e carros de alta cilindrada estacionados à porta. Sabe-se que alguns dos seus donos não trabalham, auferem o famoso rendimento mínimo que muda de nome quando muda de governo. O governo socialista instaurou este apoio social por forma a dirimir a extrema pobreza. De facto, foi indubitavelmente uma grande ajuda para muitas pessoas. Mas criou vícios. E, pior do que isso, transformou a pobreza numa espécie de fenómeno cultural geograficamente localizado. Ao fim destes anos todos, seria importante fazer um balanço deste apoio social com vista à verificação da sua eficácia. Em conversas com cidadãos anónimos, da classe média, média-alta, a conclusão já está tirada: o rendimento social de inserção é dado a quem não merece e se aproveita “dos nossos impostos!”


O Estado criou ressentimento entre as classes sociais, sobretudo entre a média e a baixa. A classe média tem sofrido de forma atroz os malefícios da globalização, acabando por culpar o Estado de cometer erros e injustiças. Actualmente, é mais fácil passar da classe média para a baixa do que o contrário. Na verdade, ninguém gosta passar de cavalo para burro.


Dizia atrás que o Estado deve ajudar quem mais precisa. Provavelmente, chegou a altura de redefinir quem de facto merece o seu apoio. A classe média é o motor do país. É aquela que se esforça, que trabalha e que contribui para o desenvolvimento de Portugal. Mais cedo ou mais tarde, o governo, este ou outro, terá de lhe dar maior atenção porque, com as desigualdades sociais que se estão a criar em nome da suposta solidariedade, aumentam-se os riscos de provocar uma nova revolução igual à francesa de 1789.

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