As juventudes partidárias
Durante o seu périplo europeu, o polémico líder da Líbia, Khadafi, tentou dar uma lição às democracias europeias sobre os direitos do Homem. Farto de o questionarem permanentemente sobre as suas políticas ditatoriais, contra-atacou a imprensa ao interrogar-se sobre as razões que levarão jovens franceses oriundos da imigração a vandalizarem e a incendiarem carros. Nas periferias francesas, os jovens das “banlieues”aclamaram o discurso, fazendo de Khadafi um novo herói.
Esta reacção mostra o quanto estes jovens andam alheados da história moderna e o quanto são influenciáveis perante o primeiro demagogo que apareça a defendê-los. Deviam pensar que se vivessem na Líbia os seus actos de delinquência seriam provavelmente condenados com penas muito mais graves ou que, aliás, nem teriam lugar pois, naquele país, a liberdade é como a água: há falta dela.
Pensando na juventude europeia, nomeadamente a portuguesa, também não se pode dizer que, apesar de dispor de todos os meios tecnológicos possíveis, ande muito informada nem que seja mais culta do que a juventude libiana. E quando se fala em política ou intervenção cívica o distanciamento ainda é maior. Contudo, alguns jovens são politica e civicamente muito activos pertencendo ou a partidos políticos, ou integrando-se em associações culturais e humanitárias. Mas quando vejo jovens com bandeiras em punho, ao lado de um político de renome, a gritar pelo partido tenho um sentimento de desconfiança que me leva a interrogar-me sobre as juventudes partidárias e sua razão de existir.
A primeira dúvida reside na ideologia política. Ela existe e define todo o pensamento de um indivíduo. Desde os ideais comunistas aos dos democratas-cristãos, a visão do mundo e do cidadão é bem diferente. Como se pode ter esta visão do mundo já definida quando os jovens ainda se encontram numa fase aprendizagem, de formação de personalidade? Alguns deles revelam uma paixão clubística por um partido como se se tratasse de um clube de futebol. Com o tempo, acabam por mudar de partido por simplesmente ter encontrado o seu verdadeiro “eu” político. José Sócrates é testemunha directa dessa vivência e mudança de posição.
As juventudes partidárias têm tido um papel bem definido dentro de um partido, mas muito limitativo em termos de força de expressão e liberdade de intervenção. Às juventudes, supostamente, cabe-lhes a irreverência e os temas adequados a um discurso dito fracturante. Por isso, tornou-se comum vê-los falar sobre a legalização do aborto, das drogas, dos casamentos homossexuais, etc. São questões relevantes mas não são as essenciais, reduzindo assim a pertinência da sua acção cívica. A educação, o emprego, a habitação, a globalização são temas que passam ao lado do discurso juvenil e, quando abordados, têm pouco impacto junto das pessoas. Exemplo disso foi quando a Juventude Socialista defendeu o referendo popular relativamente ao Tratado de Lisboa. José Sócrates não gostou de tal impertinência e tratou de dar um puxão de orelhas. Como se vê, há mais disciplina num partido político do que numa escola; sinais dos tempos.
Deste modo, as juventudes partidárias acabam por ser instrumentalizadas; boas para distribuir panfletos e fazer barulho pelas ruas aquando das campanhas eleitorais. A verdadeira discussão política, programática dos jovens, quando ela existe, é completamente abafada e quando se torna inoportuna ou ameaçadora para o partido é anulada por promessas de lugares em cargos públicos. Não é propriamente num partido político onde se aprende o que é a Liberdade. O que se aprende é o lado mais negro da democracia: influência dos votos, luta pelos lugares, jogos de bastidores e, por vezes, sacanice que alguns pretendem apelidar de determinação ou ambição política.
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