Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, junho 22, 2008

Os traidores da Democracia


Quem subir o kilimanjaro e do alto do seu cume apreciar a vista para os lados do Norte, poderá ver ao longe esfumações verticais enegrecendo o céu da Europa. A reacção ao “não” irlandês por parte de altos responsáveis políticos europeus mostrou o quanto a democracia ocidental está doente e o quanto se afasta dos cidadãos.

Quando se faz um referendo e o resultado é contrário ao que se pretende, não se obriga a repetir a votação até alcançar o pretendido. Quase que incluiria esta afirmação nas verdades de La Palisse de tão óbvio que é. Mas para alguns políticos europeus, parece que já não é assim; na verdade, parece que, de vez em quando, a democracia não dá jeito nenhum. Nunca foi tão oportuno ler Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago como agora. Será preciso castigar a Irlanda por ter cometido tamanha provocação? Será preciso isolá-la ou “excomungá-la” da União Europeia por tal atrevimento? Algumas vozes mais conscientes e razoáveis pediram calma e, sobretudo, tempo para analisar os resultados e preparar um plano B. No entanto, o ressentimento mantém-se e eu, se fosse irlandês que tivesse votado sim ao Tratado de Lisboa e me obrigassem, por ingerência de outros países, a repetir a votação, a minha caneta só teria um direcção: o “não”.

O Ocidente sempre se vangloriou de ser um libertador, promotor das liberdades e da igualdade. O sistema democrático é a resposta pacífica contra as ditaduras, muitas delas, disfarçadas que pululam pelo mundo fora. A América do Norte, bem como a Europa são cobiçadas pelos povos oprimidos de África, da Ásia ou da América latina. Viver em liberdade e trabalhar ganhando dinheiro suficiente para viver condignamente, sustentando a família são os dois objectivos pelos quais os clandestinos têm lutado, mesmo pondo em causa a própria vida e segurança pessoal. Todos os dias entram milhares de emigrantes nos países ocidentais que são logo a seguir expulsos, mal tratados ou explorados numa nova forma de escravatura mas que mesmo assim não os impede de continuar e fugir dos seus países de origem.

A democracia não nasceu do nada e percorrendo a História dos países ocidentais verifica-se uma progressão violenta, sangrenta que mostra a morosidade do parto. E não: a democracia também não é um direito adquirido. Os dias recentes provam-no e nunca os princípios democráticos estiveram em causa como hoje. Os países fora desse contexto político e geográfico olham para nós com desconfiança e perplexidade. “Como se atrevem em querer promover a liberdade e a democracia nem que seja à força se dentro dos seus territórios as coisas parecem não funcionar correctamente? Como exigir maior abertura por parte da Venezuela, da Arábia Saudita ou de Angola se os próprios povos da Europa ou da América se sentem defraudados ou enganados pelos seus governantes? Que legitimidade têm eles para exigir o que quer que seja se, para proteger os seus agricultores, não se importam que os outros povos morram à fome?”

Estas interrogações reflectem o sentimento de raiva que cresce em muitos países do mundo. Não obstante o aproveitamento populista de certos chefes de estados hostis ao Ocidente que transformam esta raiva das populações em ódio, existe uma ponta de verdade. Desde 2003, com a invasão do Iraque e a promessa de libertação daquele país que os países democráticos têm perdido legitimidade moral. Negando, nalguns pontos, o direito à diferença civilizacional, entrou-se num caminho em que o nosso modo de vida é o melhor e ponto final. Omitimos, contudo, que as nossas mulheres só votam desde o princípio do século XX e nalguns países desde meados desse século. Omitimos que a igualdade entre raças é ainda para alguns uma miragem disfarçada por um politicamente correcto, que não passa de boas intenções. Reconheçamo-lo: temos os nossos defeitos. E prefiro os nossos defeitos do que os defeitos de qualquer outra nação não democrática. No entanto, convém olhar para os pequenos passos que têm sido dados por países outrora altamente repressivos e que, devagar, ao ritmo da cultura do seu povo, se vão abrindo para a Democracia.

Existe uma crise civilizacional. As guerras são frequentemente o resultado de uma reacção irracional, por medo a incompreensões do mundo e das pessoas. Só poderemos levar a paz aos outros quando estivermos em paz com nós próprios.

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