Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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terça-feira, setembro 16, 2008

O relativismo da miséria humana


Com base na sociedade moderna, o relativismo moral pode ser encarado de duas formas. A primeira pode ser retratada a partir daquela máxima “faz o que digo, não o que faço”. Pessoas, com responsabilidades cívicas ou políticas numa sociedade, que defendem e apregoam determinados princípios, mas que não os seguem na condução da sua vida pessoal. A segunda incide sobre a desresponsabilização social dos actos cometidos por certas pessoas com base no seu estatuto social. Tendo em conta o impacto emergente que o relativismo moral tem actualmente sobre a sociedade portuguesa, debrucemo-nos sobre o segundo aspecto.


Verifica-se que, com a democratização da sociedade, conjugada com a liberdade da imprensa e uma certa inveja social por parte das classes mais baixas, a classe alta perdeu privilégios que outrora detinha devido ao seu estatuto. Quem ganhou privilégios com o relativismo moral foi a classe mais baixa, isto é, a classe pobre. No entanto, esta alteração não se tem revelado profícua para a sociedade. Aliás, muitos dos problemas que a sociedade enfrenta, tais como o aumento da pobreza, da criminalidade e de outras injustiças sociais, têm na sua origem este relativismo social, a desculpabilização dos actos dessas pessoas que, em vez de as aproximar da sociedade, as condena ao ostracismo, deturpando a ideia de cidadania.


Os cidadãos em geral têm-se apercebido do quanto esta ideia, que tem por base o socialismo, é tão nefasta para as suas vidas pessoais como para o país. Todos os cidadãos têm direitos mas também deveres para cumprir. Se esta frase é óbvia e tem sido repetida até à exaustão, a realidade é muito diferente. Para tentar compreender os novos fenómenos de pobreza e exclusão social, o Estado socorreu-se de psicólogos, sociólogos e assistentes sociais. Contudo, esta iniciativa tem sido contraproducente. As teorias sociais têm tornado todos os comportamentos desviantes relativos. Tudo é desculpável; toda a explicação reside no meio social onde os pobres estão inseridos. Chegou-se ao ponto de declarar que em certas comunidades, a pobreza, o não incumprimento de deveres cívicos ou a falta de higiene são fenómenos culturais. Mas no século XXI, num país como o nosso, como se pôde deformar assim a realidade? Como se pôde chegar a este ponto de miséria humana?



Logicamente, estas palavras ofenderão quem trabalha duramente no terreno. Não obstante ter consciência desse facto e respeitar o trabalho de todos estes agentes sociais, revejo-me nas palavras de Kinglake que explica em grande parte aquilo que os intervenientes nas políticas sociais deixaram de ver: “um escrutínio tão minucioso que acaba por mostrar-nos um objecto sob um ponto de vista falso é uma orientação ainda mais pobre, quando uma pessoa pretende formar uma opinião, do que um olhar de relance que vê as coisas nas suas proporções reais.”



É preciso rebater certas teorias sociais em nome do igualitarismo que tanto preza o acesso aos direitos, como o cumprimento dos deveres. Qual é a diferença entre alguém que assalta uma loja por ter fome e outra que assalta uma tabacaria pelo facto de o Estado português ter proibido a venda avulsa de charutos? Nenhuma. Os dois indivíduos regem-se por uma teoria social que poderia ser chamada de proporcionalidade da expectativa social. Nas duas situações, o primeiro que precisa de dinheiro para comer e o segundo que não tem possibilidade financeira para comprar uma caixa de charutos, o Estado falhou na atribuição de direitos que ambos consideram fundamentais. Deste modo, todo o comportamento tem explicação; tudo se tornou relativo. A realidade mostra-nos, porém, que a resolução dos problemas é diferente de uma situação para a outra. A primeira tem desculpa; a segunda já não. Mas ambas as situações se assemelham num aspecto: o roubo. Para muitos, roubar é pecado mas para todos, roubar é sobretudo ilegal. Aqui reside o verdadeiro problema da criminalidade e da respectiva impunidade em Portugal. Nestes casos, não pode haver meio-termo. Tem de haver um oito e um oitenta; roubar é um acto de malvadez indesculpável.



Os recentes casos de insegurança que se tem verificado pelo país, incluindo os Açores, e a forma como o governo tem reagido mostram como o Estado de Direito se encontra em perigo. Quando as sondagens apontavam para um crescimento da Esquerda mais radical, estes fenómenos preocupantes estão a ajudar a Direita a crescer, porque a segurança é uma questão crucial para esta área política. É interessante verificar que houve dois momentos em que a população se mostrou preocupada com questões de segurança: nos tempos de Guterres e agora com Sócrates, ambos do Partido Socialista.



Paulo Portas fez uma “rentrée” certeira ao falar sobre este tema e as propostas que introduziu vão no sentido correcto. Como pode o Estado continuar a apoiar com subsídios sociais cidadãos que desrespeitem a lei? Como pode o Estado continuar a dar asilo a emigrantes que são autênticos foras-da-lei e inimigos públicos? Ao menosprezar as forças de segurança e ao minimizar o poder dos juízes, o PS ajudou a trazer à baila um assunto que nunca deveria fazer parte da actual agenda política. A crise que o país atravessa não é desculpa para os novos fenómenos de criminalidade. Se este governo se vangloria tanto por ter aumentado os apoios aos mais necessitados, como explica então o aumento da insegurança?

1 Comentários:

Blogger PedromcdPereira disse...

Classe alta? Classe baixa? Inveja? Tornaste-te Marxista?

Discordo quase na totalidade deste post. É demasiado primário, pecando pelos exageros de que a direita portuguesa com algum custo se livrou nos últimos tempos. A perspectiva social implícita é próxima da do PNR, e não é de todo parecido com aquilo que conversávamos nas tertúlias primordiais. Talvez inconscientemente tenhas dado demasiado ouvidos ao Le Pen. Não exagero Paulo, basta fazeres umas pesquisas nos sites certos, leres os manifestos que por aí pululam de partidos de extrema direita e perceberás que a perspectiva que aqui apresentas é, de facto, parecida.

A inveja de que falas é sem dúvida um problema social grave, mas não exclusivo da classe pobre. Ela existe nos mais pequenos pormenores do quotidiano mas que desvalorizamos talvez por sermos nós próprios os principais actores.

Como conservador que pensava que eras devias conceber que na verdade, roubar para comer é muito diferente de roubar para fumar. O 8ou 80 de que falas não é próprio de quem tem uma concepção equilibrada da sociedade, mas de extremistas como os islâmicos que cortam as mãos aos que roubam.

A falta de higiene e a tua incredulidade face ao "relativismo da limpeza" mais uma vez leva-me aos regimes totalitários incluindo os comunistas que tanto prezas. Queres um estado estalinista em que todos trabalham e os que não querem trabalhar vão para o Gulag não é? Quanto deveres cívicos não falhas tu todos os dias? Ter-te-ás por acaso, como um ariano numa terra de porcos sujos?

Quanto à segurança, volta para os livros, lê a história da democracia portuguesa e atenta nos títulos em que a segurança é o tema principal. Não é só nos governos Sócrates ou Guterres.

O debate devia ser o das ideias. Enquanto a direita continuar com o discurso que preconizas, a batalha ideológica estará sempre perdida para a esquerda. Isto porque no facilitismo de pensar cai melhor o humanismo do que o fascismo.

Quanto aos psicólogos e demais intervenientes sociais aconselho-te também a saires do site do partido do Pinto Coelho e a ires estudar o que fez Giuliani em Nova Iorque. Ou achas que foi só força bruta?

Este teu post é, infelizmente, um manancial de informações erróneas que não tenho tempo nem paciência de pegar em tudo. Já me alonguei demais. Continuamos depois.
Abraço

9:24 da tarde  

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