Paraíso Perdido XVI
A meia dúzia de preguiçosos
Aquando da campanha eleitoral para as Legislativas Regionais, Carlos César exaltara-se num comício por causa das constantes pressões que a oposição lhe fazia em relação ao Rendimento Social de Inserção (RSI). O então candidato declarou que pelo facto de haver “meia dúzia de preguiçosos” não se podia pôr em causa as virtudes de tal apoio social. Volvida meia dúzia de meses, desde a tomada de posse, ainda não se viu, por parte do agora Presidente do Governo Regional, nenhuma iniciativa que acabasse com os preguiçosos do RSI. E, já agora, haverá mesmo só meia dúzia de preguiçosos?
Os Açores são a região do país com mais beneficiários do RSI. Ao fim de dez anos, desde a sua criação, este apoio não resolveu absolutamente nada e até, pelo contrário, criou uma nova cultura de desleixo e irresponsabilidade perante a sociedade. Até agora, os sucessivos governos não conseguiram acabar com essa situação perniciosa que o RSI criou, tornando-se um autêntico empecilho para o país.
Acredito que não é a questão eleitoralista que tem condicionado a inacção dos governos na resolução deste problema. Acredito mais na impotência, na falta de criatividade e na falta de pulso dos governos, sejam eles nacionais ou regionais. Entretanto, em nome da justiça social, acumulam-se injustiças, pois já nem toda a sociedade olha agora para a pobreza em Portugal com comiseração, mas encara-a como uma forma de aproveitamento para viver do ócio, às custas do contribuinte.
Em nome da justiça social, constrói-se mais bairros sociais que concentram os supostos preguiçosos, que se até queixam por não ter garagem, com os verdadeiros pobres e todos acabam por ficar com a mesma e triste alcunha. Entretanto, a classe média que não consegue dar conta do empréstimo da sua casa que paga com o dinheiro ganho com o seu suor indigna-se perante um governo que oferece de mão beijada casas a quem não merece. Aparecem então os casos de polícia em bairros como os da Bela Vista e vem à baila, pela enésima vez, a conversa do social e da delinquência. Que ninguém se surpreenda quando acontecer o mesmo nos Açores porque o que se fez até agora foi preparar o terreno para que o mesmo aconteça. Porém, a RTP Açores não precisará de chamar os psicólogos, sociólogos e políticos de pacotilha para debaterem o que falhou nas políticas sociais. Bastará ir aos arquivos da cadeia de televisão nacional.
Neste caso, a culpa não é só da Esquerda. A Direita, que tanto critica o RSI, teve a sua oportunidade para corrigir os abusos cometidos mas não o fez. Se eu fosse o Bagão Félix, na altura, teria simplesmente acabado com o RSI e entregue todo o dinheiro a instituições particulares de solidariedade. Ao fim deste tempo todo, já se percebeu que o Estado não pesca nada de políticas sociais. E nunca precisámos de canas de pesca como agora.
Pau mandado
As votações sobre a proposta para a legalização da Sorte de Varas foram caricatas para não dizer vergonhosas. Quem saiu de lá ferido com toda a situação foi a Assembleia Legislativa, a casa da Democracia açoriana. Mesmo que a proposta tenha sido chumbada, abriu-se a caixa de Pandora ou, em português, abriu-se um precedente.
Não havia pior maneira, para estrear o novo Estatuto Político-Administrativo dos Açores, do que tentar fazer passar uma lei que dividisse os açorianos e que comprovasse as dúvidas daqueles que olham para as autonomias com desconfiança. Mas esta votação comprovou também outra teoria veiculada há meses atrás pelo antigo líder do PSD Açores, Costa Neves.
Desde a suposta retirada de José Pedro Cardoso à presidência da Câmara de Angra, da não continuação de Fernando Meneses na presidência da Assembleia Regional à recente “ausência” do deputado do PS, Guilherme Nunes, nas votações sobre a Sorte de Varas, o PS tem dado provas de asfixiar o sistema político regional sempre que algo não lhe convém. Há, contudo, uma pequena nuance a esta teoria, pois, desta vez, são os próprios elementos do PS a sofrer desta falta de oxigénio.
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