Paraíso Perdido XVII
A megalomania
Dizem que vale tudo na política. Para alcançar ou manter-se no poder, recorre-se a todo o tipo de artimanhas, algumas delas no limite da legalidade, muitas outras para lá da imoralidade, roçando a sacanice. Há promessas e promessas. Há aquelas simpáticas e bem-intencionadas; e há outras demagógicas, inexequíveis ou financeiramente desastrosas que não respondem verdadeiramente às necessidades das pessoas.
A técnica da ilusão implica pouca conversa e muito fogo-de-vista. Por outras palavras, nada melhor do que convidar a imprensa e ilustres para a apresentação de um projecto megalómano de encher o olho. Quanto custa? Quem ganha com isso? Em que é que isso contribui para a resolução dos problemas das pessoas? Estas são perguntas impertinentes que ficam para depois. O que importa é que as imagens do projecto em 3-D façam honras de primeira página no dia seguinte.
Mas, afinal, por que é que alguns políticos se dão ao trabalho de fazer isso se sabem que poucos dias depois alguém os irá confrontar com a verdade inconveniente?
Nos tempos que correm, conceitos como reabilitação, aproveitamento dos recursos existentes, sejam eles humanos ou materiais, transformação e actualização devem constituir as bandeiras dos políticos que se apresentam nas diferentes eleições. Tudo o que implique milhões de euros com retornos duvidosos tem de ser ponderado seriamente.
O desespero ou a falta de visão estratégica levam os políticos a cometerem o erro de se armar em ricaços irresponsáveis, porque na verdade o dinheiro que está em jogo é o dos contribuintes, mesmo daqueles que ainda não nasceram. Se eu pudesse ganhar o euromilhões, o que eu não faria…
Camisas nas escolas
Nas últimas semanas, a escola voltou aos grandes destaques da imprensa pelas más razões. Não falo daquela professora de Espinho. Apesar de alguma coincidência na temática, falo da polémica sobre a venda de preservativos nas escolas na sequência da implementação da educação sexual nos currículos escolares.
Continuo a achar que mais uma vez se foge à raiz do problema, ao cerne da questão. Não me vou perder em teorias e vou tentar ser pragmático: por um lado, em vez de ter alargado a escolaridade obrigatória até aos 18 anos, teria tornado os manuais gratuitos a todos os alunos, fazendo assim jus aos princípios em que se baseia a escolaridade básica em Portugal; por outro lado, em vez de permitir a distribuição de preservativos nas escolas, teria apostado num programa de educação sexual nas escolas que promovesse a abstinência sexual na adolescência. Sabendo do consenso que existe na minha primeira ideia, a segunda deverá, pelo contrário, enfurecer muitas almas por a considerar irrealista e disparatada. Tenho consciência de todas as suas implicações, mas não deixo de defender essa opinião, pelo menos até prova em contrário.
Da liberdade que conquistámos, depressa nos esquecemos da responsabilidade que ela também acarreta para viver numa espécie de libertinagem politicamente aceite. O verdadeiro problema na sociedade de hoje reside na desorientação em promover valores que inculquem nos indivíduos o sentido do respeito, do esforço, do mérito e da solidariedade.
Pensar que a venda de preservativos nas escolas possa contribuir para a redução do número de casos de SIDA ou de gravidezes na adolescência enquadra-se na mesma filosofia daqueles que defendem a legalização da cannabis como forma de diminuir o consumo de drogas.
Em tempos, conheci um toxicodependente que me disse que a droga era boa de mais para sequer ser provada. Para aqueles que estão enterrados nesta porcaria até ao pescoço, eles sabem do que eu falo.
1 Comentários:
Pela maneira como você fala, dá a entender que o sexo também é demasiado bom para ser experimentado.
A responsabilização é necessária e desejável para a formação social e emocional de um jovem. Mas não será com políticas restritivas e conservadoras que lá chegaremos.
A SIDA é uma realidade demasiado séria para que a apologia do uso do preservativo seja negligenciada.
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