PTGATE
Muitos se lembram do escândalo de Watergate que acabou com a demissão de Nixon. Os dois jornalistas que investigaram o caso ainda estão vivos e ninguém, a não ser os visados da altura, pôs ou põe em causa o tipo de jornalismo que fizeram.
Em Portugal, está a acontecer algo de parecido (em termos de investigação jornalística), mas compreendo que perante a gravidade do caso que envolve o Primeiro-ministro, administradores da PT e empresários de renome, parte da população fique perplexa, indignada ou revoltada.
Do PS esperava-se união em torno do seu líder contra aquilo que muitas pessoas, incluindo socialistas, dizem ser uma tentativa de assassinato político e de carácter na pessoa de José Sócrates. Contudo, o PS, tal como parte da população interessada no caso, não sabe o que fazer. Por mais que Sócrates negue, as suspeições e as evidências apresentadas nos jornais tornaram-se insustentáveis.
Como chefiar um governo e representar o país quando as manchetes dos jornais o chamam de mentiroso? Deixou de haver legitimidade política, moral, ética para continuar a exercer o cargo. Mas Sócrates pode continuar, aguentando as investidas semanais que a imprensa lhe fará. Até que o tempo de o Presidente da República dispõe para o demitir chegue.
Isto é a forma, mas o conteúdo? O conteúdo mostra que o poder político tentou ir para além das suas competências ao querer condicionar a imprensa portuguesa de uma forma rebuscada, mas na verdade pouco inteligente.
Para aqueles que falam em censura e alegam que ela obviamente não existe, porque é impossível exercê-la num país como o nosso, encaram o conceito na sua forma tradicional, colada aos regimes totalitários. No entanto, para este caso, deve-se falar em tentativa de condicionamento da liberdade de expressão e informação nos meios de comunicação social. De forma engenhosa e maquiavélica, a tentativa de usar uma empresa a bem dizer estatal (a PT é detida em golden-share pelo Estado) para poder controlar meios de comunicação social, ainda para mais aqueles que eram tidos como avessos ao governo, só pode fomentar suspeitas legítimas e desencadear toda esta investigação jornalística.
Este problema revelou, no entanto, algo de mais aterrador para os partidos de Esquerda, sobretudo o Partido Socialista: um Estado demasiado grande, presente e intromisso na sociedade condiciona a liberdade dos cidadãos, porque impede a verdadeira liberdade de informação e opinião, limita o empreendedorismo e a iniciativa privada, e favorece a corrupção estatal e o compadrio político e económico.
É impossível haver Liberdade com tamanho peso do Estado na sociedade
Muitos empresários têm medo do Estado ou esperam do Estado um permanente apoio, seja ele para ganhar concursos públicos, seja por receio de represálias. O Estado, que é representado por políticos afectos a partidos, obtém em troca a colocação de quadros partidários nas administrações públicas ou privadas. A tentação em querer controlar tudo e todos nasce natural e inconscientemente. O poder cega, o poder embriaga.
Para estes, mais Estado significa maior controlo sobre as empresas e em consequência mais apoio às pessoas. Este pensamento é errado e a sua concretização fatal; o que hoje está acontecer é prova disso. Mas a crise em que Portugal está atolado potencia esta situação, porque quem chefia o governo quer ajudar toda a gente, não só por questões eleitorais, mas porque simplesmente acha que só o Estado é que tem capacidade para resolver todos os problemas do país. Então, o Estado transforma-se numa bola de neve, que aumenta à medida que vai apoiando empresas e pessoas. Como o dinheiro é dos contribuintes, estes exigem que seja bem aplicado, o governo dá, mas quer algo em troca, mesmo quando a contrapartida impede o mercado de funcionar.
Esta situação aparece num período de grande crise económica e social e por isso é absolutamente inédita. Ninguém esperava isso.
Temos de nos preparar para o pior. A crise política começou. A intriga política entre os PSD e o Governo que existiu neste princípio de mandato não passa de uma brincadeira ao pé do que se avizinha.
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