Os campeões da sensibilidade social
Tenho acompanhado, com bastante humor, a nova moda inaugurada pelo PS que consiste em acusar o Governo de insensibilidade social. Não deixa de ser interessante observar como o partido que pôs o país na bancarrota se ponha a clamar tanto pela justiça social. Agora que cabe ao atual governo resolver o problema criado pelo seu antecessor, o PS limpa as mãos, assobiando para o ar, como se nada tivesse a ver com o assunto. Até a mim já me custa ter de usar o mesmo argumento para contradizer o PS, mas não há forma de os socialistas perceberem que não falar do passado não significa fazer como se nada tivesse acontecido. O compromisso com entidades externas foi assinado e não há como fugir dele.
A atual direção do PS, liderada por António José Seguro, é de transição, mas os únicos a não perceberem isso são os próprios. É notória a sensação de que muitos outros socialistas notáveis já não podem com aquela direção nem com a forma como Seguro conduz o partido.
No entretanto, o despique relativo à insensibilidade social já atravessou o Atlântico e chegou aos Açores em plena pré-campanha eleitoral. O PS regional, muito criativo quando se trata de demagogia, mas nada original no que se refere ao combate político, apropriou-se da mesma ideia e acusa o seu principal adversário de ser também um insensível social. Aos poucos, vê-se um partido, outrora magnânimo, unido e forte, transformado num partido de queixinhas, tal “Calimero”, que culpa tudo e todos pelos males que ocorrem na Região: é culpa da conjuntura externa, do Governo da República neoliberal, do Tribunal de Contas, dos jornais açorianos por não escreverem notícias positivas, nomeadamente aquelas que favorecem o PS, da líder do PSD Açores que é velha de mais para chefiar o Governo Regional, e da mesma senhora, enquanto Presidente de Câmara, que está sempre fora de Ponta Delgada (aliás, nestes dois últimos casos, a narrativa tem por premissa “ao contrário também dá certo”, isto é, se Berta Cabral fosse nova, seria mau para os Açores porque não tinha a experiência exigida nestes tempos tão conturbados; e se estivesse sempre metida em Ponta Delgada era porque desprezava as outras ilhas).
Em suma, todos são maus, menos o PS que é bom. Só o PS é que sabe defender os interesses dos Açores e dos açorianos. Este discurso acabará por lhe ser prejudicial porque revela falta de humildade e desonestidade intelectual. Aos poucos, os socialistas vão-se descredibilizando, restando a quem aprecia a luta política a possibilidade de encarar a campanha eleitoral como um momento de humor bem à portuguesa.
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