Europa, o laboratório do mundo
O Ocidente, centrado na Europa, foi
o motor do desenvolvimento social, cultural, científico e económico do mundo. Alargando-se,
no século XIX, para América do Norte, o Ocidente, pelos ideais de liberdade e
respeito que foi construindo ao longo do tempo, tornou o nosso planeta mais
próspero e justo. Mas, se olharmos para a História, quantas vítimas a Europa
fez para alcançar esta prosperidade?
Após
o período dramático da Peste Negra, que dizimou um terço da população europeia
(quase metade em Portugal), o continente entrou num período obscuro, dominado
pelo fervor religioso que se traduziu na instauração da Inquisição e nas
conquistas territoriais para a formação das futuras Nações europeias.
Durante
esse período, a Europa estagnou. Parou no tempo. Todo o progresso alcançado
pelos Gregos e Romanos foi completamente abandonado. Esta foi, sem dúvidas, a
primeira experiência da Europa: uma crença em Deus que devia ocupar todo o
tempo do Homem e a cuja submissão fosse total. Qualquer emancipação seria
considerada blasfémia, da qual resultaria o enforcamento ou a fogueira.
O
século XV inaugura um novo período do Homem europeu. Afastado o fundamentalismo
católico, o Homem recentrava-se no universo e descobria que, afinal, o planeta
Terra ainda tinha “mares nunca dantes navegados”. Portugal desempenhava um
papel fulcral neste período. Mais uma vez, o progresso da Humanidade partiu do
Ocidente; mas, mais uma vez, atrocidades foram cometidas pelos ocidentais. Da
exploração de povos e terras, sempre sob o pretexto da procura de riquezas, e
com a anuência da Igreja, o Ocidente perpetrava genocídios e globalizava a
escravatura.
Desde
então, não havia espaço no mundo que não pertencesse à Europa. Esta seria a
segunda experiência global do Ocidente: a sua prosperidade baseava-se na
exploração de populações e territórios ultramarinos.
À
medida que a Europa se modernizava, utopias nasciam. O Homem tinha tempo e
condições para pensar sobre o mundo e as pessoas que o rodeava. O século XX foi
o mais ideológico de todos, porque pôs-se em prática aquilo que um punhado de
homens teorizou. Socialismo, comunismo, fascismo. Tudo partiu de teorias
sociais na tentativa de construir uma sociedade perfeita. Esta seria a terceira
experiência da Europa. O problema com as ciências sociais é que se baseiam no
comportamento do Homem: este último, imprevisível e inconstante. O que resultaria
num país, poderia ser um fracasso noutro.
A
Europa fechava-se outra vez durante duas longas guerras internas por questões
de território e de cobiça de riquezas. A novidade prendia-se com a vontade
férrea de implementar à força um paradigma social.
O
Holocausto foi o maior crime perpetrado contra a Humanidade. E aconteceu na
Europa em pleno século XX, não na Idade Média. Após 1945, a Europa decidia
unir-se para evitar que o horror voltasse, um dia, a acontecer.
Chegamos
à União Europeia, a quarta experiência. Muitos defendem o seu alargamento
contínuo, indo para lá do território meramente geográfico. Outros defendem a
exclusividade territorial da UE por causa da comunhão de valores e tradições
que aproximam os países europeus. Mas a União Europeia é uma construção, também
ela ideológica, que ainda está nos seus primórdios. Apressar o ritmo é pôr em
risco o que já se conseguiu.
A
atual crise tem demonstrado as fragilidades estruturais da União Europeia. Mais
uma vez, académicos propuseram uma teoria (a da austeridade) para reajustar as
contas dos países sobreendividados. Mais uma vez, as ideias utópicas não
tiveram em conta a imprevisibilidade do fator humano. Um dia, ainda há de se
fazer contas de quantas vítimas esta crise causou.
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