Onde fica a capital dos Açores?
Em breve, a Terceira estará em festa devido às Saojoaninas, com as suas marchas, touradas, concertos, danças e muita alegria. Durante essa semana, os problemas ficarão encostados a um canto escondido dos pensamentos. A produtividade laboral irá certamente diminuir e as pessoas estarão menos atentas à actividade política. Os governantes não se importam e até agradecem, pois, tal como os romanos que organizavam grandes jogos nos coliseus para entreter os cidadãos, esta forma de fugir das dificuldades continua hoje em dia muito em voga. Quando a festa acabar, os problemas continuarão ainda por resolver e o sentimento de descontentamento voltará a figurar o rosto dos terceirenses.
Há duas situações com maior e menor gravidade que constituem o problema da ilha Terceira. Uma está situada a oriente e a outra a ocidente. Apesar da grande distância entre as duas, elas acabam por estar intimamente ligadas. Do lado do oriente, o governo de São Miguel, que se apelida de Governo dos Açores, tem estado tão afastado da Terceira que o seu Conselho de Ilha se reuniu de propósito para debater qual o rumo estratégico para a ilha e como (re)afirmar o seu peso na região. Ainda bem que existe um órgão oficial para anunciar aquilo que qualquer terceirense já percebeu. O Conselho de Ilha, constituído por nobilíssimas pessoas da terra, assumiu o óbvio, o que acaba por ser triste porque daquela reunião não se resolveu absolutamente nada, apesar da imprensa local ter destacado aquele momento de forma efusiva ou quase vitoriosa. Sendo um órgão meramente consultivo, nada pode fazer a não ser recomendações. Para perceber melhor como funciona basta dar o exemplo do polícia que está na estrada, obrigando assim todos os condutores a abrandarem o carro para a seguir, na próxima curva, voltar a acelerar. Prova disso é que ainda não houve uma única reacção do governo regional. E, se tal acontecesse, quem deveria dar a cara seria Sérgio Ávila. Dizer, elogiosamente, que as pessoas presentes se "esqueceram" da sua filiação partidária, tudo em prol da terra, não passa de uma mera ilusão. Naquela reunião, duas pessoas podiam fazer a diferença, mas não o fizeram por uma questão de subserviência partidária. Falo dos presidentes das câmaras de Angra e da Praia. São dois cargos políticos com funções executivas, o que significa que as decisões que esses senhores tomam produzem efeitos. E o que falta na Terceira é exactamente isso: pessoas decididas a fazerem a diferença. Afirmar que é preciso apostar num turismo diferente, numa imagem de marca para a Terceira representa um insulto para quem gosta de andar minimamente informado. Cabe, sim, aos empresários ligados ao turismo em conjunto com as câmaras municipais tomar este tipo de estratégia promocional e valorativa da ilha. Os políticos presentes no Conselho têm de usar os locais próprios para emitir as suas preocupações e expectativas, a saber a Assembleia Regional e as câmaras municipais. Como querer desenvolver o turismo se a política de transporte aérea e marítima é um empecilho? Como proporcionar um turismo diferente se a cidade de Angra se encontra desvalorizada? Como convencer os empresários a investirem aqui se os equipamentos e serviços de cargas são deficientes? Como aproximar as duas cidades se a via rápida nunca mais é arranjada?
É preciso fazer um lóbi forte, quase agressivo junto do governo regional para que as coisas melhorem. O Conselho de Ilha acabou por constituir um retrocesso porque os seus intervenientes revelaram pouca criatividade e engenho políticos para combater o isolamento a que a Terceira está votada. Teria sido mais proveitoso organizar conferências abordando os temas considerados fulcrais para o desenvolvimento da Terra do Bravo, com a participação de pessoas e de representantes de instituições especializadas em cada área temática abordada.
Do lado ocidental também paira uma ameaça, se bem que menor. Os Estados Unidos tentaram discriminar os portugueses na obtenção de empregos na base militar das Lajes. Constituindo uma infracção grave ao acordo que vigora entre Portugal e os Estados Unidos, parece que, após a divulgação do escândalo pelos médias nacionais e regionais, a situação se resolveu com a correcção da "gralha discriminatória" que constava do documento com a oferta de emprego. A situação acaba por aqui? Claro que não. Há muito que se ouve dizer que o tratamento dado aos trabalhadores portugueses na base americana é injusto, ilegal e até repressivo. Ninguém sabe ao certo quanto ganha e o que ganha Portugal com o acordo das Lajes. Também parece que o Governo da República desvaloriza a questão porque diplomaticamente é fraco. Quem poderia fazer a diferença é o Governo Regional zelando assim pelo seu povo e pelo seu território. Reclamar mais autonomia com a revisão do Estatuto Político-administrativo do arquipélago é muito bonito mas, na verdade, de que serve mais autonomia se numa questão como o acordo das Lajes o governo regional não tem voz na matéria? Este assunto, por se situar no âmbito das relações transatlânticas, também interessa à União Europeia. Dito isto, onde estão os nossos eurodeputados, nomeadamente aqueles que representam os Açores? Será que a questão do Irão é a única importante?
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