Lições de democracia
Enquanto o PSD Açores discute internamente a sua liderança e os respectivos programas alternativos ao PS, o governo regional liderado por Carlos César desdobra-se em promessas para os próximos anos. Da diminuição da lista de espera para cirurgias, da construção de novas estradas, do alargamento das pistas dos aeroportos, da definição de novos modelos para os transportes aéreos e marítimos, o presidente do governo regional satisfaz assim todas as pretensões dos açorianos, abarcando todas as ilhas sem omitir ninguém. Assim, não há dúvidas de que os Açores estão no bom caminho.
Dito assim, tudo parece bonito. Mas não. Na verdade, todo este discurso acaba por ser repugnante. O governo socialista encontra-se no poder há doze anos. O governo socialista tem ouvido instituições, personalidades, sindicatos e associações que ao longo dessa década têm alertado, reclamado, manifestado o seu descontentamento apresentando sugestões para melhorar a qualidade dos serviços prestados. O governo tem realizado estudos em vários sectores de actividade com o intuito de tornar a região mais competitiva e mais convergente relativamente à União Europeia. O governo socialista tem recebido milhões de euros de Bruxelas para desenvolver o arquipélago.
Doze anos volvidos e à distância de um ano das próximas eleições legislativas regionais, o governo socialista, se quer fazer jus ao seu amor pela democracia, não tem o direito de fazer promessas futuras. Tem o dever de pedir aos açorianos que façam o balanço dos seus doze anos de governação. Quando Carlos César se desloca pelas ilhas não pode misturar actos de campanha eleitoral com representação e trabalho governamental. Mesmo que a discussão política do dia seja o novo estatuto político-administrativo, nada lá diz que os Açores são uma monarquia. Nenhum cargo é eterno. Em democracia digna desse nome, nunca se engana eternamente as pessoas. Um governo que teve doze anos para fazer progredir o arquipélago, mas que, no fim destes anos, se revelou incapaz de colmatar deficiências antigas como os custos da insularidade, o acesso a cuidados de saúde, a melhoria das condições de vida, as discrepâncias arquipelágicas e até a pobreza, deveria ficar insatisfeito por ter sido incapaz. Nesta altura de final de mandato, mais promessas só podem constituir um insulto à inteligência das pessoas. O que é para fazer já devia ter sido feito.
Tenho a perfeita consciência de que a região conseguiu um progresso significativo ao longo destes anos de governação socialista. Alias, não podia ser de outra forma tendo em conta a situação extraordinária em que a região se encontra em termos de apoio económico externo. Contudo, não considero suficiente se compararmos com outros padrões de desenvolvimento no país ou noutros arquipélagos da Europa. Já se tornou lugar-comum perguntar para onde vão os milhões de Bruxelas, pois os bolsos dos açorianos continuam vazios.
Os socialistas têm uma obsessão pelo betão, pelas obras de grande envergadura, pelas chamadas obras de regime. Num país do terceiro mundo compreende-se perfeitamente visto que lá falta tudo. Tal como no continente, os socialistas ainda não perceberam que as reformas políticas devem ser feitas para os cidadãos e não contra eles. Não se pode exigir às pessoas que poupem o seu dinheiro quando se manda construir obras desproporcionadas face às necessidades locais, com custos faraónicos somente para proveito de alguns. Este socialismo ainda não percebeu que o país está cada vez mais desigual e injusto.
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