Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, setembro 28, 2008

Um mundo ao contrário


A lógica tem destas coisas: por vezes, passa-nos completamente ao lado. Em Portugal e também noutros países desenvolvidos, o sistema educativo tem desafiado as leis da lógica de uma forma tão brutal que as transformações operadas têm passado despercebidas entre nós. Ninguém dá conta ou, se dá, é logo ridicularizado por ser socialmente preconceituoso. Ora, vejamos.



A escola tornou-se aberta a todos. Ninguém foi deixado para trás. Todas as crianças têm as mesmas oportunidades de construírem um futuro melhor para elas, de acordo com os seus sonhos e vontades. A escola foi aperfeiçoando os seus programas, adaptando-se aos progressos tecnológicos e alargando a sua oferta curricular com base nas necessidades da sociedade. A escola democratizou-se, dando a possibilidade aos pais que escolhessem o estabelecimento de ensino mais adequado para os seus filhos. Deste modo, permitiu-se a criação de escolas com gestão e direcção privadas. Todas estas benesses foram concedidas sob o signo da gratuitidade e universalidade. Esta revolução cultural só poderia dar em sucesso. Mas não: estamos à beira de um precipício e caminhando cegamente ao encontro dele. Porquê? Pela simples razão que nada é grátis.


O ensino público em quase nada tem de diferente em relação ao ensino privado. Os currículos obedecem às mesmas regras estabelecidas pelo Ministério da Educação, os professores vêm de universidades a maior parte delas estatais, e os alunos são iguais aos da pública. O termo “iguais” será exagerado visto que os alunos das privadas provêm, geralmente, de famílias abastadas, onde as oportunidades de vencerem nos estudos e na vida aumentam consideravelmente. Daí eu defender que todos os alunos, independentemente da sua proveniência social, mediante os seus resultados escolares e empenho, deveriam ter acesso patrocinado pelo Estado a escolas privadas. Na verdade, a grande diferença entre as escolas privadas e públicas reside no grau de exigência que as primeiras incutem na formação do aluno. Nada disto é novo, mas neste ponto é que entra a tal lógica deturpada referida no início: as pessoas pagam a uma escola para que esta seja mais exigente e até, em certa medida, dura para com os filhos. Como é que um Estado que proporciona gratuitamente o acesso à educação aos seus cidadãos não exija uma contrapartida? Dar a troco de nada? Mais o tempo passa, menos a escola pública satisfaz as expectativas dos pais. Cada vez mais apetrechadas com novas tecnologias, as escolas deixaram de ensinar conteúdos importantes para a formação intelectual e cultural de um indivíduo para se tornarem centros ocupacionais. Alunos passam de ano para ano sem dominar as competências previstas em cada ano escolar porque o lado social e pessoal impera. Essas mesmas competências são cada vez mais esparsas e subjectivas, nas quais se inclui a modalidade absolutamente ridícula do “aprender a aprender”. Modificam-se os currículos não em função das exigências que um mundo global e competitivo acarreta, mas em função do tipo de alunos que se supõe ter. Obviamente, a exigência diminui e o efeito é bola de neve: quando damos por isso, apesar de terem frequentado a escola desde o primeiro ano, alguns jovens com 14 anos de idade mal sabem ler e escrever.



Há escolas públicas que, contrariando todas as novas teorias pedagógicas, mantiveram um sistema mais rígido e conseguem obter resultados muito satisfatórios com uma paz e um bom ambiente escolar digno de registo. Fez-se uma interpretação errada do lado social. Em escolas problemáticas, ou em zonas problemáticas, a escola tem objectivos mínimos quando deveria ser mais rigorosa nas avaliações do desempenho escolar e no comportamento dos alunos. Quanto mais se tenta encontrar desculpas sociológicas para entender a “raiva” sentida pelos adolescentes problemáticos pior são os resultados. Uma das grandes lições que estes jovens e respectivos pais deveriam aprender é que não há almoços grátis.

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