Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, novembro 16, 2008

A avaliação aos professores


O português tem algo de muito particular que o caracteriza e o distingue de outros povos: costuma deixar para amanhã o que pode fazer hoje. Como tenho orgulho naquilo que sou, junto-me à tribo e à fatalidade lusitana; como o meu dia de amanhã já está cheio de afazeres, adio para o dia seguinte e assim sucessivamente. Vem isto a propósito da grande polémica dos últimos dias acerca da contestação dos professores relativamente ao modelo de avaliação imposto pelo Ministério da Educação e também por causa do modelo muito silencioso da Secretaria Regional da Educação.

O primeiro enche os telejornais do continente, do segundo ninguém fala mas o incómodo aumenta a cada dia que passa, pois este ano é para valer. Os professores portugueses adiaram um mal até não conseguir mais e chegamos a este ano lectivo, o tal ano sine die. Algumas escolas açorianas reúnem agora os seus professores para discutir o modelo de avaliação e a sua operacionalidade. Alguns professores irão provavelmente olhar para os formulários pela primeira vez, tentando interpretar aquilo como se de uma poesia se tratasse. Tudo em cima da hora, aumentando assim o stress e criando as verdadeiras dúvidas sobre o tipo de avaliação que se pretende para os professores das escolas açorianas.



Todo o modelo de avaliação foi bastante discutido entre a Secretaria e os sindicatos no ano passado, mas muitos professores alhearam-se da discussão, apesar de serem os primeiros interessados nela. E, perante o resultado final das negociações e toda a expectativa criada à volta, parece que o conceito de avaliação de professor está profundamente errado.


Presentemente, para grande parte dos professores, a avaliação corresponde a um processo judicial em que cada professor tem de reunir provas que justifiquem o seu trabalho. Nada de mais errado, nada de mais injusto. Uma avaliação com este conceito, ou pelo menos que instrumentalmente indicie esta ideia, é insustentável. A avaliação dos professores, tal como as outras para outros funcionários, não deve causar tanto incómodo, nem tanto receio aos avaliados. Ela serve não só para promover quem o merece como também para corrigir quem não procede da melhor forma. A avaliação é de facto formativa. Se a teoria pretende esta política construtiva, a prática e a interpretação do modelo por parte de algumas escolas levam a crer o oposto. Algumas escolas consideram que é preciso voltar aos tempos dos estágios integrados em que tudo deva ser documentado, relatado, analisado, transformando a vida dos professores num inferno burocrático. A principal missão dos professores que é a de ensinar fica inviabilizada: doravante, os professores trabalharão só para si; os alunos ficarão para depois. Melhorar a forma como se ensina? O que interessa é fazer os relatórios mais pomposos e pesados em número de folhas. Culpar somente o Ministério ou a Secretaria da tutela não será, porém, correcto: os conselhos executivos e os professores têm a sua cota de responsabilidade. O medo leva-os a afogarem-se em papelada. A autonomia das escolas permite que algumas escolas torturem os seus professores, levando-os até à exaustão.


Nunca a educação foi tão importante como nos nossos tempos, mas nunca o professor foi tão enlameado como o é agora. No entanto, exigir a suspensão da avaliação? Nem pensar!


É preciso continuar e ver no que dá. No final deste ano, a nova Secretaria da Educação e as escolas deverão proceder a um balanço da avaliação realizada, corrigindo o que correu mal e eliminando o supérfluo. No caso de se verificar demasiadas anomalias, altera-se completamente o modelo. Os professores merecem e querem ser avaliados, não como réus, mas sim enquanto professores.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Incrivel como a classe profissional que passa a vida a avaliar os outros demonstre um tão grande terror em ser avaliada.

6:51 da tarde  

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