Um governo aos recuos
Professores, professores, professores. Eis a palavra de ordem das últimas semanas. O país tem muitos mais problemas para além desse, num momento tão dramático como aquele em que vivemos à volta da crise financeira mundial. No entanto, verdade seja dita, a vida dos professores acaba por influenciar a vida de qualquer cidadão português. Mas mais do que isso: a união impressionante dos professores contra o governo é o sinal visível da tempestade que o governo semeou no início do seu mandato em 2005. Mais cedo ou mais tarde, os socialistas irão pagar caro a atitude prepotente e desprezível com que assumiram a governação de Portugal.
A guerra entre sindicatos, professores e a Ministra da Educação veio provar aos mais cépticos que os movimentos sindicais estão bem vivos e não antiquados nas suas formas de luta como muitos defendem. O que interessa é a mobilização e não há dúvidas de que, mesmo que ainda subsista a dúvida nalguns políticos com compromissos partidários, quando mais de 100 mil profissionais protestam veementemente contra uma medida política, não resta alternativa senão revê-la. Acusar os professores de não quererem ser avaliados torna-se demasiado simplista e até desonesto. Para alguns, algo está mal na governação, mas não era difícil perceber o que se avizinhava quando, para fazer as suas reformas, o governo optou pela estratégia do fomento da inveja social e do vilipêndio por certas classes profissionais. Essa estratégia voltou-se contra si. A Ministra recuou em todos os aspectos, fragilizando-se a um ponto que somente José Sócrates sabe explicar por que razão ainda a mantém no cargo. Nesta e noutras questões, a divisão do Partido Socialista só não é mais visível porque está no poder e os seus quadros-militantes, por comodismo e apego a lugares políticos, aceitam sujeitar-se a um silêncio incomodado.
Ao fim destes anos todos, as ditas “reformas” - palavra usada até à exaustão pelo Primeiro-ministro - são elas também muito discutíveis. Mas, devo reconhecê-lo, não se pode acusar somente o governo português pela má prestação económica do país. A crise veio mostrar que há um modelo europeu que se tornou insustentável por não ter trazido qualquer benefício para os seus cidadãos. Como é que a ideia de que a contenção salarial, o aumento de horas de trabalho e da idade da reforma com a perda de direitos adquiridos, somados a uma inflação alta, taxas de juros brutais, salários e prémios de produtividade indecentes a gestores e bancários de instituições públicas e privadas permitisse o progresso equilibrado, pacífico e sustentado de um país? Aliás, a pergunta deveria ser: como é que esta ideia tornada realidade aguentou tanto tempo? Quem defende a tese de que governar contra o povo no interesse da Nação é, por vezes, necessário revela insensibilidade e estupidez. Afinal, não foi difícil para o Banco Central Europeu baixar drasticamente as taxas de juros permitindo uma folga aos cidadãos endividados. Só que essa medida já veio tarde e se a crise se acentuar em 2009, os políticos terão esgotado quase todas as possibilidades de a enfrentar. Em tempos de prosperidade é que se perceberia que os impostos aumentassem e reformas mais austeras fossem tomadas. Mas não, tal como qualquer pessoa perante adversidades, os governantes quiseram apertar o cinto em tempo de crise. Só não anteviram que a mesma pudesse tomar estas proporções. Tantos estudos, tantos especialistas, mesmo assim não conseguiram…
A História mostra-nos que a Guerra ajuda a repor a normalidade - após ter decorrido, claro. Será essa a solução ideal?
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