Paraíso Perdido XX
Aviões e Donuts
Há poucas semanas, Hillary Clinton fez escala na Base das Lajes quando ia a caminho do Cairo. Esta semana soube-se que as negociações bilaterais entre Portugal e os Estados Unidos sobre o apoio ao treino dos F-22 nos Açores tinham sido bem sucedidas. A Base das Lajes volta outra vez à ribalta mas com as preocupações de sempre: o que ganham os açorianos, e em particular os terceirenses, com isso?
Este tipo de relação diplomática é altamente delicado e é sempre mais fácil e tentador reclamar contrapartidas comuns como mais e melhor emprego para a população local. Nos Açores, a questão tem sido debatida neste prisma, o que limita gravemente o potencial da presença americana na região. Os Estados Unidos têm muito para dar mas é preciso engenho e criatividade em obter tal proveito. E outro aspecto: se o governo regional tem presença permanente na comissão bilateral, não quer isso dizer que as autoridades políticas e económicas da Terceira fiquem de braços cruzados à espera do resultado dessas reuniões.
Provavelmente, não voltará a haver emprego para os terceirenses como houve no passado. Isso não significa que os benefícios da presença americana fiquem diminuídos. Pelo contrário, é preciso tirar proveito dos milhares de americanos (militares, famílias e civis), atraindo-os para o território português, com todo o tipo de iniciativas culturais, económicas e até no âmbito do ensino. Não seria interessante criar protocolos de estudo e de intercâmbio entre a Universidade dos Açores e o Comando Americano da Base das Lajes? Não seria interessante a Câmara de Angra organizar visitas guiadas à sua cidade, passeios pedestres e mostras gastronómicas? Não seria interessante criar um protocolo com a Câmara de Comércio por forma a incentivar a frequência dos americanos nas nossas lojas? Há muitas maneiras para aproveitar a presença americana na Terceira e não é preciso o aval do governo regional, nem das comissões bilaterais: se houver vontade e mestria dos políticos locais, tudo é possível. Esperar pelos outros é que já não dá.
Aliás, nessa famosa visita do governo regional às Américas, que muitos defendem ter sido um investimento, não o vi reunido com responsáveis americanos ou emigrantes a discutir o tema da Base. A visita a uma fábrica de Donuts será recordada como um dos grandes momentos dessa viagem.
Aliás, nessa famosa visita do governo regional às Américas, que muitos defendem ter sido um investimento, não o vi reunido com responsáveis americanos ou emigrantes a discutir o tema da Base. A visita a uma fábrica de Donuts será recordada como um dos grandes momentos dessa viagem.
A culpa é do Vital
Nos discursos de derrota na noite das eleições europeias, os socialistas da região foram bem mais cruéis e hipócritas: Vital Moreira é o culpado do desaire eleitoral por ser inimigo das autonomias (quando dias antes não era bem assim). Continentais e açorianos teriam votado com o intuito de penalizar fatal escolha para cabeça de lista do PS.
De facto, ao ler e ouvir comentários políticos do género sobre o resultado das eleições e sobre a abstenção, Portugal teria grandes assimetrias. Por um lado, quem vota denota uma clarividência e uma inteligência excepcionais; quem se abstém é parasita da democracia e culturalmente ignorante.
O PS tem de perceber qual o sinal que foi dado pelos portugueses. A população pede com urgência uma mudança de políticas e de discurso político. Faltam três meses para operar essa mudança para quem governa o país. Sou, porém, daqueles que acredita que mesmo assim será impossível contornar o que se espera.
Há um caminho na Democracia que é o da alternância. Os portugueses, que são muitos cépticos e cínicos relativamente aos políticos, já interiorizaram que a permanência prolongada no poder só traz malefícios.
Sem dúvidas que as próximas eleições, pela sua natureza, motivarão mais discussão entre as pessoas e terão, em consequência, maior participação.
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