Paraíso Perdido T2C09
A desfaçatez de César
O Presidente do Governo Regional tem sempre razão. Afinal, ganhou as eleições com maioria absoluta. Por isso, o Presidente César é que decide quais as obras de que os Açores precisam e onde estas devem ser feitas. O Presidente César é que decide se as suas decisões causam polémica ou não; o Presidente César é que define como o poder local deve trabalhar com o poder regional, do qual é responsável máximo; o Presidente César é que decide sobre a legalidade das suas resoluções.
Dito assim, parece que a Democracia deixou de existir nos Açores. Mas não. A Democracia está viva e recomenda-se. O facto de algumas vozes respeitáveis da Terceira questionarem publicamente o futuro cais de cruzeiro em Angra comprova o dinamismo da sociedade civil. Se um governo eleito deve cumprir o seu programa eleitoral, é também legítimo por parte dos eleitores não subscreverem a totalidade das propostas que constam desse programa. Há um ano atrás, as eleições regionais serviram para eleger os deputados à Assembleia Regional e não para referendar a proposta do PS sobre um possível cais de cruzeiros em Angra.
Sobre essa obra, tantas questões podem ser colocadas de ponto de vista económico, ambiental, arqueológico, político, etc. Todas elas incomodam o governo porque acabam por ter um fundo de razão. Isso deve-se ao facto de não existirem estudos prévios que sustentam a existência de tal cais de cruzeiro.
Vá lá, Senhor Presidente: pare um pouco; esta não é uma prioridade para a Terceira. Mesmo que volte atrás na sua decisão, ninguém levará a mal, pois os terceirenses não precisam de estudos prévios para saber de antemão que essa obra só serve para encher o olho.
O mais constrangedor nisto tudo é perceber que, apesar de não faltar dinheiro para os Açores – grande parte vindo da União Europeia -, o que falta, na realidade, são boas ideias para dinamizar a ilha e tirar proveito do estatuto de Angra enquanto Património da Humanidade.
Uma aventura no ministério
A nomeação de Isabel Alçada como Ministra da Educação não foi surpresa visto que o seu nome já era veiculado pela imprensa ainda durante a campanha eleitoral. Como professora do Ensino Básico e Secundário, dirigente sindical e autora dos famosos livros “Aventura”, Sócrates escolheu-a com o objectivo de se reconciliar com os professores.
Não diminuindo o simbolismo dessa escolha, é, no entanto, importante referir que há dois temas que os sindicatos e professores não deixarão cair, independentemente de quem esteja no lugar de ministro: o Estatuto de Carreira Docente e a Avaliação aos Professores. Como já se percebeu, a oposição também quer revogar as duas leis que tanta contestação criou. A mim, surge-me outra dúvida: e se as futuras leis forem mais brandas do que aquelas que existem nos Açores? Isto é, e se ser-se professor nos Açores se torne mais difícil do que no continente?
Até agora, para a Secretaria da Educação tem sido um passeio. Amenizaram a antiga avaliação que era totalmente impraticável, mas mantiveram a premissa errada do sistema de avaliação: o professor tem de provar que não é mau. O facto de o professor ter de comprovar tudo o que faz com as famosas “evidências” mostra o carácter punitivo e judicial desta avaliação.
Veremos o que acontecerá no continente e a respectiva reacção dos sindicatos açorianos. No meio destas incógnitas, uma certeza: as dores de cabeça vão começar para Maria Lina Mendes.
Capricho de vencedor?
Diz-se que há derrotas que custam engolir. Acrescentaria que há vitórias que não param de ser celebradas. Já vamos na terceira semana após as eleições autárquicas e ainda encontramos cartazes de campanha colocados em rotundas e estradas. Não sei como funciona o processo de limpeza, mas acredito que as pessoas achem, tal como eu, que aquelas caras, mesmo que bonitas, já enjoam.
Entretanto, os vencedores pavoneiam-se pelos jornais em artigos de opinião, louvando o povo que soube tão bem votar e desferindo os últimos golpes a um adversário bastante silencioso que, provavelmente, ainda vive o seu período de reflexão. O mais engraçado é o constante pedido para que os dirigentes do PSD tirem ilações da derrota sofrida; ilações essas já determinadas pelos vencedores, ou seja, a demissão dos cargos que ocupam.
Pelos vistos, não basta ter ganho as eleições regionais, nacionais e autárquicas, também querem agora mandar na oposição, nomeadamente na sua vida interna. Na realidade, as coisas não funcionam assim. Para o bem e para o mal, num partido mandam os seus militantes. E fica feio a elementos de outro partido dizerem o que os outros devem ou não fazer. Já sabemos: ganharam. Parabéns. Agora, toca a trabalhar. Não se preocupem: os outros hão-de se amanhar.
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