Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, outubro 03, 2010

As mega-escolas dos Açores



Ainda estou para perceber o que está por detrás da decisão de criar grandes agrupamentos escolares em Portugal. Integrar numa mesma escola vários ciclos do ensino básico (desde a pré até ao 3º ciclo) revela uma iniciativa arrojada porque vai de encontro a tudo o que se faz no estrangeiro. E, por estrangeiro, refiro-me a países com altas taxas de sucesso escolar, tal como a Finlândia ou a Suécia. É importante saber que na Finlândia, por exemplo, só 3% das escolas é que têm mais de 600 alunos. Até nos Estados Unidos, onde o ensino básico anda pelas ruas da amargura, as maiores escolas estão a fechar, transferindo os estudantes para estabelecimentos mais pequenos.


Portugal anda na contra-corrente, não se ficando por meias medidas. Aqui, ou é oito ou oitenta: fecham-se milhares de escolas com poucos alunos e abrem-se escolas com dimensões dignas de centros comerciais. Os empreiteiros agradecem. Ao invés de optar por uma atitude contrária, aproveitando os poderes que a autonomia lhe confere, o Governo Regional dos Açores segue os passos do continente. Na Região, multiplicam-se as escolas com uma lotação de mais de mil alunos, compreendendo as mais diversas faixas etárias, contando com centenas de professores e funcionários. Não será difícil perceber a dificuldade com que os Conselhos Executivos e os funcionários se deparam durante o ano lectivo para corresponder às expectativas dos alunos, dos pais e até da sociedade. Em terra do desenrascanço, os milagres acontecem todos os dias da semana, mas o principal objectivo da escola - que é o de formar crianças e jovens – vai ficando para trás.


Não estão em causa os melhoramentos arquitectónicos e tecnológicos que foram introduzidos nas escolas. O que está em causa é esta nova forma de gerir o parque escolar, que não corresponde às melhores práticas a nível mundial. Mas até não precisava de ver o que se passa lá fora para confirmar como esta iniciativa política é errada. As escolas de maiores dimensões pecam justamente porque deixam de ter e de dar a uma escala humana. Deixam de dar o enfoque na personalização para reflectir uma perspectiva generalista dos problemas do insucesso e abandono escolares. Nunca será de mais dizer que cada caso é um caso e que, de facto, estamos a falar de alunos, cada um com as suas vivências, cada um com os seus problemas. Outro ponto é que o alargamento da autonomia nestas escolas encontra-se comprometido porque o corpo directivo acaba por dar primazia a uma boa gestão dos recursos e do pessoal existente, em detrimento da implementação de estratégias conducentes ao sucesso da aprendizagem. Limitadas por leis orgânicas que não foram feitas para escolas dessas dimensões, as direcções apelam ao voluntarismo das pessoas, o que acaba sempre por dar asneira.


Por isso, é comum o descontentamento dos pais e funcionários pelo facto de haver poucos recursos humanos para tanta gente. No continente, fecham-se as escolas a cadeado. Por cá, ou os açorianos são subservientes para com os governantes ou então resignaram-se. E digo isto porque sei de casos no arquipélago que mereciam o encerramento compulsivo das escolas e toda a atenção da comunicação social.


Aqui, na Região, há mães que usam da sua hora de almoço para irem até à escola dar de comer aos seus filhos porque estes ainda são demasiado pequenos para comerem sozinhos, e não há auxiliares suficientes para essa tarefa. Como nem todas o podem fazer durante a semana, revezam-se entre elas e entre os pais; isto com o conhecimento dos respectivos Conselhos Executivos que infelizmente nada podem fazer senão autorizar. Dir-me-ão que até bom para essas mães, pois é mais um momento do dia passado com os filhos. Respondo: só podem estar a gozar com a minha cara.


Este é o tipo de socialismo que me repugna. Por um lado, em nome do Estado social, permite-se este tipo de enormidade digno do terceiro mundo; por outro, temos uma governante que usa dos seus poderes para atribuir ao filho uma bolsa de estudo generosa, pagando-lhe, graças ao erário público, um dos cursos mais caros do país.


Ainda há quem se espante com a actual crise.

1 Comentários:

Blogger Paulo Pereira disse...

Paulo, dou-te os parabéns pelo artigo e espero que o publiques na imprensa regional, que mais não seja, para que os responsáveis destas medidas nos possam esclarecer da virtude do modelo adoptado.
Por vezes, interrogo-me se a verdadeira intenção não será a de promover o ensino privado, sendo estes pretensos defensores da escola pública os seus verdadeiros carrascos.

11:04 da tarde  

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