As Primárias do PS Açores
No PS, o incómodo aumenta à medida
que o PSD vai explorando ao facto de o candidato Vasco Cordeiro ter sido
nomeado à porta fechada por um conjunto de ilustres do partido, ao invés de ter
sido dado voz aos militantes. Entre o tabu de Carlos César, prolongado por
demasiado tempo, e a solução encontrada para empossar o candidato às próximas
eleições, o PS Açores tem revelado falta de visão estratégica, o que irá certamente
penalizá-lo em Outubro.
Tudo podia ter sido diferente. E
para melhor. Mas Carlos César optou por alimentar o tabu sobre a sua provável
recandidatura ao ponto de ter fragilizado qualquer candidato à sua sucessão. Depois,
a reunião que nomeou Vasco Cordeiro. As bases do PS não foram ouvidas. O
Presidente – do PS e do Governo – imiscuiu-se no futuro do seu partido, impôs a
sua vontade, impedindo o que já muitos partidos socialistas fizeram e fazem na
Europa: Eleições Primárias.
Erro básico de perceção política.
Erro fatal.
Basta imaginar a força que teria a
atual candidatura se tivesse sido sufragada por todos os militantes
socialistas. Basta imaginar a possibilidade de notáveis como Sérgio Ávila, José
Contente e, claro, Vasco Cordeiro terem concorrido democraticamente para a
liderança do partido, cada um apresentando as suas ideias para o
desenvolvimento da Região, abrindo o debate para a sociedade açoriana. Como os
partidos da oposição - nomeadamente o PSD - ficariam ofuscados pela transparência
do PS. Partido que sempre se vangloriou de ser democrático e pluralista.
Mas
não. A soberba do poder imperou e os erros vão-se sucedendo. De repente, em
véspera do Congresso do PSD, Vasco Cordeiro, num súbito laivo de ética política,
demite-se do seu cargo de Secretário Regional da Economia supostamente para se
dedicar a tempo inteiro à sua candidatura, mas afinal retoma o lugar enquanto
deputado na Assembleia Regional, provocando a fúria de muitos deputados por se
sentirem enxovalhados e o descontentamento dos cidadãos, porque a sua atitude
condiz com a lengalenga “os políticos são todos iguais”. Logo após a sua saída,
a Secretaria da Economia informa de que anda há seis meses a negociar com a
companhia aérea Low Cost Easyjet a
possibilidade de ligar São Miguel e Terceira ao continente. Tudo o que muitos
açorianos desejam, mas que parecia, ainda há pouco tempo, impossível de
alcançar. Isto tudo a seis meses de eleições. Para quem vê de fora, até parece
que alguém dentro do PS anda a prejudicar propositadamente a campanha de Vasco
Cordeiro.
Ao
contrário das outras vezes, esta campanha está sujeita à conjuntura de crise
que o país atravessa. Mais do que em qualquer outra altura, o partido que está
no poder tem de prestar contas aos eleitores. Porém, o Governo ainda vive em
estado de negação. Diz que a culpa é dos outros. Aqui, estava tudo bem, até os
outros fecharem a torneira dos milhões. Pensando bem, se não fosse esse
pormenor, a Grécia, a Irlanda e Portugal continuariam a viver bem, tal como
antigamente.
A
oposição aproveita esta desvantagem para reforçar o apoio junto dos eleitores,
mas todos sabem que as promessas não podem ser vãs, muito menos demagógicas. E
de facto, todos os partidos têm pautado por uma certa contenção no discurso
programático, adequando-o à realidade. E a realidade é que ninguém sabe ao
certo o que irá suceder no final deste ano, muito menos em 2013. Não há
campanhas perfeitas. Por isso, é escusado os comentadores lamentarem de cada
vez que um candidato tem um deslize ou faz acusações desajustadas. Na verdade,
tudo se jogou quando de Carlos César quebrou o silêncio. “Ó tempo, volta para
trás” devem cantar alguns. Como contribuinte, resta-me exigir que haja bom
senso nos gastos com a campanha. Desta vez, Tony Carreira deverá ficar de fora.
Costuma-se
dizer que em eleições não há propriamente um vencedor; o candidato ou o partido
que está no poder é que as perde. O PS, impotente perante a crise, sem
estratégia para a campanha eleitoral, desistiu da luta. Cumpre calendário para
daqui a uns meses tirar a mesma conclusão. Um partido não pode ter dois
líderes: um que ainda lá está, mas que se tornou um empecilho e outro que foi
nomeado pelo seu superior, mas que não tem margem de manobra.
1 Comentários:
Eu digo que a mentira tem perna curta, um dia vem-se a descobrir...é o que demonstra o PS, que perdeu toda a credibilidade.
Precisamos de alguém credível, e esse irá ser o resultado em Outubro.
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