Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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segunda-feira, dezembro 11, 2006

Viagens na minha terra


Um dos muitos inconvenientes que o progresso e o desenvolvimento têm acarretado é o da desertificação das aldeias. Nas últimas décadas, por causa do trabalho, dos estudos, da procura por uma vida melhor e mais confortável numa sociedade consumista, as populações têm deixado as suas terras de origem para rumar até às cidades ou suas periferias. A distribuição da população portuguesa é bastante desproporcional relativamente ao território que o país tem, concentrando-se deste modo nas principais cidades e no litoral. Um pedacinho de Portugal morre cada vez que um jovem deixa o interior em busca de uma vida melhor. As aldeias de Portugal são uma característica intrínseca da alma lusa que, aos poucos, perde a sua genuinidade e se assemelha aos outros países industrializados.

Com o tempo, viver na cidade tornou-se caro; a especulação imobiliária é tão alta e desajustada aos rendimentos auferidos que as pessoas optam por viver nos subúrbios. Um estudo interessante do Instituto Nacional de Estatísticas mostra que Lisboa assistiu à fuga de cerca de 45 mil habitantes nos últimos 10 anos. O mesmo aconteceu na cidade do Porto que perdeu cerca de 40 mil habitantes. E poderia acrescentar que nesta mesma situação se encontram as cidades do Funchal, de Ponta Delgada ou de Beja, entre várias. Todas estas pessoas mudaram as suas residências para cidades, concelhos ou freguesias limítrofes. Quer isto dizer que já não é bom viver nas principias cidades. E aqui a questão é principalmente económica, porque estas pessoas continuam todos os dias a ir para Lisboa ou para o Porto trabalhar. O custo é que aumentou substancialmente inviabilizando uma residência permanente nas referidas cidades. A alternativa encontrada não é propriamente feliz, mas é economicamente viável. As cidades-dormitórios têm custos menores para os moradores e situam-se relativamente perto do local de trabalho ou das escolas. Porém, a qualidade de vida deixa muito a desejar. As construções não passam de urbanizações em que todo o espaço é concentrado em função da inclusão de um maior número possível de pessoas por metro quadrado. Espaços verdes? Espaços comerciais? Espaços de lazer? Não é esse o objectivo. Assim, esta ideologia urbanística é lamentável.

Quando vejo o amontoado de prédios com uma multiplicidade de carros em baixo, penso nos Estados Unidos e no seu antigo presidente, Einsenhower. Este Presidente dos Estados Unidos marca a história do seu país não só pelo facto de ter participado heroicamente na Segunda Grande Guerra mas sobretudo por ter alinhavado o ideal de vida americano aliando “betão” e bem-estar. Por um lado, todas as estradas interestaduais foram projectadas sob a sua presidência, o que não deixa de ser um obra faraónica, tendo em conta as dimensões daquele país. Por outro, e o mais relevante para esta questão, é que ele achava que as pessoas que trabalhavam nas cidades deviam, no fim do dia e durante o fim-de-semana, encontrar paz e sossego nos seus lares ao pé da família. Ter uma casa não era suficiente. O ambiente à volta no bairro devia favorecer esse espírito. Daí vermos aquelas famosas ruas com as casas simples e jardim à volta sem vedação ilustradas pelos inúmeros filmes que passam na televisão. Estas casas não são exclusivas dos ricos. São os subúrbios dos Estados Unidos.

Claro que em Portugal não é possível realizar o mesmo. Não se pode comparar o tamanho nem a riqueza de um país com o outro. Mas, aqui, a reflexão incide sobre a perspectiva que os governos e autarcas têm sobre o território e os seus cidadãos. As licenças para construção à volta da cidade vão de vento em popa. Não existe orientações metodológicas, arquitectónicas visionárias na implementação de novas habitações colectivas. Existe um conjunto de leis mínimas que os empreiteiros devem respeitar. O resto pouco interessa. Em tempos de crise, as receitas fiscais servem para anular qualquer boa ideia ou preocupação urbanística e ecológica. Vender o mais pequeno espaço ao mais alto preço tornou-se a máxima em vigor.

Não é de admirar que muitas cidades tentem recuperar os seus centros ou as suas baixas, candidatando-se até para patrimónios mundiais. O que se faz actualmente é feio e é vergonhoso. É melhor esconder o novo conceito urbanístico para longe do centro, nas aldeias urbanas de Portugal.

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