Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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segunda-feira, novembro 27, 2006

Encarar Ancara


Na semana em que Bento XVI se desloca à Turquia para uma viagem apostólica e em que os serviços secretos turcos e outros não têm mãos a medir face às ameaças que pairam sobre o sumo pontífice, torna-se interessante observar e comentar como decorre o processo de adesão da Turquia à União Europeia.

A actual apreensão por parte das autoridades vaticanas relativamente à viagem do Papa é comparável à sensação que a Comissão Europeia e muitos chefes de estado de países europeus possuem face à Turquia. O país encontra-se numa fase económica pujante. As reformas do estado estão bem encaminhadas e os objectivos traçados pela Europa ajudam mais o governo turco a delinear um rumo certo para o progresso daquele país. Porém, as grandes questões que provocam discussão e controvérsia nos corredores de Bruxelas são a do respeito pelos Direitos do Homem e a do reconhecimento da existência de Chipre. Nestes dois aspectos, a Turquia peca, por um lado, por ainda viver nos tempos idos da Idade Média e, por outro, de ameaçar a paz e a amizade entre os países da Europa. No primeiro caso, a sua entrada na União Europeia até podia fazer com, sob pressão constante e directa dos estados membros, o governo turco aprovasse uma série de medidas que acabassem com certas leis repressivas que ainda vigoram naquela nação. No segundo caso, já não se pode dizer o mesmo. Baste imaginar como seriam as negociações se os dois países em questão se sentassem na mesma mesa. Aqui, Bruxelas tem toda a razão em ser renitente. O grande objectivo na construção da União Europeia é o de impedir qualquer tipo de conflito como acontecera no passado, criando todo o conjunto de instituições que fomentem o diálogo, a cooperação e a harmonia pacífica entre os países europeus. O facto de a França ter aprovado uma lei que condena qualquer indivíduo que negue o genocídio arménio demonstra até que ponto a questão da adesão da Turquia se tornou um problema diplomático.

Mas os problemas não acabam por aqui. Existe outra questão que, no actual momento internacional, é ainda mais controversa porque politicamente inconveniente. A Turquia, apesar de laica, é um estado eminentemente muçulmano. Desde o 11 de Setembro que a religião, nomeadamente muçulmana, se tornou em certos casos um problema e fomentadora de conflitos entre países até agora tolerantes e pacíficos. Por incrível que pareça, este problema não é levantado por qualquer instituição religiosa, mas sim pelos povos da Europa. Perante o radicalismo islâmico que aumenta um pouco por todo o lado, as populações têm medo de outros povos e o medo leva ao ódio.

Se a Turquia levanta tantos problemas e dúvidas, por que razão se insiste tanto em querê-la ver na União Europeia? A luta contra o terrorismo islâmico é uma luta em que alguns pretendem que tenha contornos civilizacionais. Se a Turquia pertencesse à União Europeia, seria um aviso sério para esses países e pessoas que querem este choque de civilizações. Contudo, a Turquia não pode entrar a qualquer preço e muito menos por causa da pressão de outrem. Se não está disposta às reformas que Bruxelas exige, não entra. Mais: para quê adiar se um dia, o governo turco, perante o descontentamento do seu povo se vira contra a U.E. servindo-se dela como bode expiatório? O ressentimento contra a Europa cresce entre os turcos, sobretudo nos mais desprotegidos. À parte a questão religiosa, Bento XVI será o primeiro a sentir na pele esse rancor.

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