Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, dezembro 03, 2006

Jovens licenciados: que futuro?


Actualmente, a inserção no mercado de trabalho é, para os jovens licenciados, um objectivo difícil de atingir. O verdadeiro propósito que uma pessoa tem que é o de trabalhar, de preferência naquilo que gosta e sabe fazer, de vencer socialmente na vida para concretizar todos os outros sonhos, desde a fundação de uma família, à compra de uma casa, de uma viagem pelo mundo, até à oferta de um jantar aos pais; tudo o que dá um sentido à vida fica parado no tempo, adiado para um futuro incógnito. Tudo porque sem trabalho, não há dinheiro; sem trabalho, não há independência; sem trabalho, não há felicidade na vida.

Este Domingo, foi apresentado um relatório encomendado pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto que analisou a população juvenil dos 15 aos 29 anos de idade. A maior parte dos dados fornecidos pelo estudo não espanta ninguém, mas oficializa o que qualquer cidadão atento ou pais cujos filhos se encontram nessas idades reparam. Para aceder ao trabalho, os jovens de agora têm mais dificuldades do que no passado. A taxa de escolaridade é bem superior àquela de há 20, 30 anos atrás, o número de jovens licenciados, isto é de suposta mão-de-obra qualificada, é muito alto comparado com o passado. No entanto, o acesso ao emprego estável e seguro – ou emprego tout-court – dá-se por volta dos 30 anos de idade ou então resta a precariedade laboral que pode acompanhar a pessoa por décadas. Estes indicadores apresentam outros que, socialmente, têm efeito bola de neve. Se um jovem não trabalha ou começa tarde, constitui família mais tarde. Se o jovem prolonga os seus estudos com vista a qualificações superiores necessita dos seus pais para a sua sobrevivência (casa, comida, etc.) por mais tempo. Para as famílias, não é fácil manter um ou mais jovens adultos, pois as despesas crescem comparativamente com as da criança (propinas, renda, despesas de automóveis, etc.). Eis a “bola de neve” que produz nas famílias portuguesas e europeias em geral, contribuindo para uma efectiva diminuição da taxa de natalidade e para a progressão do envelhecimento da população.
Com esta realidade aqui descrita não é de estranhar que a actual juventude anseie por lugares no Estado, pois assim a estabilidade profissional anula de vez as incertezas da vida. Contudo, não é isso que o Governo quer, não é disso que o país precisa para vencer a crise. Então, como criar uma geração de empreendedores, numa sociedade globalizada?

Esta geração tem dificuldade em aceitar que, por vezes, para chegar onde realmente quer, tem de fazer um percurso mais atribulado passando por trabalhos nem sempre remunerados consoante as suas habilitações. Da mesma forma, os empregadores não podem negar o lugar a alguém por ter “habilitações a mais”. A pessoa deve ser paga mediante o que faz e mediante a importância do ofício, não por causa de um suposto estatuto que uma universidade lhe confere. Todavia, criar uma sociedade de empregados de mesa licenciados parece-me um conceito perturbador.

A aposta na educação continua na ordem do dia. Porém, são precisas novas orientações, novas estratégias. Como disse em tempos o Presidente da República referindo-se ao número de universidades e escolas superiores que abriram durante os seus mandatos enquanto primeiro-ministro, a aposta na quantidade não foi a mais acertada. A luta contra o abandono escolar deve continuar não com novas leis que obriguem os jovens a estudar até aos 18 anos – seria mais uma medida para camuflar a taxa de desemprego nos jovens –, mas sim com programas-estágios de qualificação mediana e alta que aliciem os estudantes a quererem ficar nas escolas. A medida que o governo francês quis implementar o ano passado e não conseguiu por causa da contestação estudantil e sindical pode ser um exemplo a seguir, adaptando-a para os moldes portugueses.

Se o Estado se sente bem com o contributo dos impostos que os imigrantes pagam para reverter nos subsídios de desemprego aos cidadãos nacionais é uma visão política bem triste. Pior do que não trabalhar é sentir-se inútil.

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