A futura Academia de Juventude
Em tom de piada, mas nada depreciativo, se diz que os Açores têm oito ilhas e um parque de diversão. Devido às suas inúmeras festas, aos seus eventos culturais de entretenimento – dos quais se destacam os bailinhos de Carnaval, as touradas à corda e as marchas de São João –, devido à boa-disposição "endémica" e à hospitalidade da sua gente, a Terceira simboliza o tal parque de diversão. Com o passar do tempo, as outras ilhas apetrecharam-se de equipamentos e de infra-estruturas que lhes permite realizar grandes eventos culturais desenvolvendo assim uma espécie de concorrência saudável em que os habitantes só têm a ganhar. Com a apresentação pública do projecto para a Academia de Juventude, a construir na Praia da Vitória, a Terceira, se bem que inconscientemente para alguns, deu o primeiro passo no processo de (re)afirmação da ilha no panorama regional.
Com o desejo de aproximar o arquipélago do mundo global, usando para esse fim os apoios financeiros da União Europeia, o governo regional e as autarquias apostaram fortemente na aquisição de meios para receber manifestações culturais de todo o tipo. Associações de jovens – e não só –, com ou sem fins lucrativos, organizaram espectáculos e eventos culturais com o intuito de trazer nomes reconhecidos, nacional ou internacionalmente, dando a oportunidade aos açorianos de se sentir perto dos seus ídolos e até de dar um ar cosmopolita às principais cidades dos Açores. Porém, as autoridades esqueceram-se que o talento não tem fronteiras, nem nacionalidade. Muitos jovens açorianos com um talento artístico especial ou não se conseguiram emancipar, ou partiram das ilhas para alcançar o seu sonho. Para eles, os Açores ainda não reúnem as condições necessárias para dar uma formação artística adequada ou para possibilitar a empregabilidade no âmbito cultural. Isto é, persiste a ideia de que viver do seu talento não passa de uma ilusão que só é conseguida lá fora.
Falar da cultura açoriana constitui um exercício interessante que fomenta discussões apaixonantes. Alguns dirão que só existe cultura popular; outros verão o "cunho" açoriano em manifestações culturais que estão para lá das limitações das ilhas e do mar que as rodeia. No entanto, há um consenso que se alarga cada vez mais: não é só por se falar de mar, de baleias, gaivotas e xailes negros que se tem obrigatoriamente música, literatura ou pintura açorianas. As novas tecnologias, aliadas ao poderio económico de certos países, permitiram que certos movimentos culturais penetrassem em zonas mais isoladas geograficamente e, por conseguinte, culturalmente, dando-se assim o fenómeno de contaminação. Não quer isto dizer que se sobrepuseram ou extinguiram aspectos culturais até há pouco predominantes. Verifica-se, pelo contrário, que houve um reforço no sentido de pertença a um local e da identidade para com uma estrutura etnográfica. Podemos então considerar as novas gerações bi-culturais. Absorvem, simultaneamente, duas culturas: a global e a local. A aproximação das duas culturas para os Açores permitiu uma perspectiva comparativa e abriu o horizonte a milhares de jovens que se conseguiram identificar nesses dois pólos.
A Academia de Juventude pretende potencializar o valor artístico dos açorianos. Se é academia de juventude de nome que não o seja também no conceito, pois o talento não tem idade, nem condição social. Para lá da formação, do descobrimento de talentos, da realização de exposições e espectáculos, é preciso "agarrar" a matéria-prima. É de todo conveniente não deixar que estes artistas se instalem fora da região usando o argumento de que "santos da casa não fazem milagres". Quando se discute sobre quais as possibilidades, as valências que a Terceira possui para se tornar economicamente mais atractiva, eis a resposta: a cultura! Este espaço constitui uma oportunidade para a valorização das pessoas, para o contributo demográfico e para o desenvolvimento não só da ilha como de todo o arquipélago. Agora, é preciso alertar que, se os objectivos propostos forem levados à risca, este processo poderá levar uma geração inteira para se sentir os efeitos no seu todo.
O Presidente da Câmara da Praia da Vitória, Roberto Monteiro, percebeu a importância de ter este trunfo para a dinamização económica do seu concelho. Resta estimular as empresas privadas de forma a que estas também aceitem patrocinar artistas e eventos culturais locais. A cultura, associada à vertente turística, pode rentabilizar muito dinheiro se for bem aproveitada e convenientemente divulgada.
Há ainda dois ramos que, devidamente explorados, podem contribuir para um maior progresso da ilha. O desenvolvimento de áreas para a investigação científica e para a prática desportiva são apostas certeiras que trarão a ilha Terceira de novo ao centro do mundo. Deste modo, de parque de diversão a Terceira passará a chamar-se centro de descobertas.
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