Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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segunda-feira, setembro 03, 2007

Música no coração


Para além do sol e das praias, a música é um elemento essencial ao Verão. Um pouco por todo o país, decorrem festivais de música, sobretudo direccionados para a juventude. Não é, porém, uma especificidade portuguesa; o mesmo acontece por toda a Europa e para os mais variados gostos musicais. Do Festival de Música de Viena, para o Festival Wacken na Alemanha ou o saudoso “Rock Machina”, em Espanha, a experiência de acampar num festival de música tornou-se quase obrigatória para o crescimento “normal” dos adolescentes em pleno século XXI. À margem do divertimento estival, grandes somas são gastas na organização desse tipo de eventos: Marketing, logística, segurança e claro cachets e mordomias para os artistas contratados, somas essas depressa recuperadas com a venda de bilhetes e o apoio dos patrocinadores. Público e músicos, todos ficam a ganhar; mas há um grupo de pessoas que actualmente deixou de bater o pé ao som da música para roer as unhas de cada vez que há um “download” ilícito na Internet. Falo das editoras de música.



Com a democratização e profusão da Net em todos os lares, com o aparecimento de programas informáticos e sites que permitem a partilha de ficheiros entre os internautas de todo o mundo, o Direito de Autor sofreu um duro golpe. Nas vertentes artísticas, nomeadamente musical e cinematográfica, o golpe tornou-se ainda mais mortífero. É muito comum ver-se a autoridade especializada neste tipo de actividades ilegais – a ASAE – ir às feiras e apreender centenas de DVD’s piratas de filmes em exibição no cinema ou ouvir falar de editoras internacionais a processarem sites de partilha por supostamente fornecer gratuitamente músicas e álbuns completos de artistas seus, sendo o Napster o caso mais mediático. Fazendo jus à fama de pessoas irreverentes, coisa típica da música moderna, alguns artistas, pelo contrário, lutam contra a supremacia das editoras e tentam encontrar uma forma alternativa para fazer chegar a sua música a quem interessa, a saber os fãs. Artistas como Manu Chao, Prince e até The Gift (no início de carreira) definiram estratégias diferentes para divulgar o seu trabalho usando as novas tecnologias em seu favor. Desde a criação da sua própria editora à distribuição gratuita dos CD’s em revistas ou na Net, estas são as novas formas de lutar contra a supremacia das editoras e também contra a chamada pirataria informática que veio para ficar. Para perceber este fenómeno, é preciso referir que os artistas ou as bandas têm uma margem de lucro muito reduzida na venda de CD’s (os royalties situam-se entre os 8 e os 13% por cada CD vendido). Em países com a demografia dos Estados Unidos ou do Brasil, um single de sucesso pode enriquecer o artista para toda a vida (o mesmo sucede com a edição de livros). Contudo, em Portugal, isso nunca poderá acontecer. Os concertos e a venda de merchandising acabam por constituir a verdadeira fonte de rendimento.



Devido à complexidade do negócio musical, a maior parte das bandas e artistas opta por pertencer a uma editora que tratará dessa parte financeira e empresarial, mesmo que isso obrigue a uma certa subserviência em termos de composição e de estilo. Um dos grandes problemas actuais da música moderna é o de se ter tornado de consumo rápido e tendencial, daí a dificuldade em fazer carreira profissional para o resto da vida. As editoras de música têm consciência disso, mas não se querem juntar à mesma mesa e debater a questão. A repressão, com a ajuda de dispendiosos escritórios de advogados, é o meio utilizado para adiar um mal que, como disse, veio para ficar. Proibir totalmente a existência de sites de partilha de ficheiros? Legalmente é possível mas na prática será como o jogo do gato e do rato. Então, como conciliar as tradicionais discotecas e a música online? Esta questão torna-se interessante porque ela representa uma das barreiras da globalização que alguns apelidam de selvagem. A globalização tornou o mundo mais pequeno; abriu portas culturais, científicas e tecnológicas outrora impossíveis de alcançar. Para mim, a questão é basicamente esta: se a globalização contribui para aproximar os povos em todos os sentidos, por que razão não poderei assistir, da minha ilha no Atlântico, à estreia de um filme na mesma altura que um cidadão de Nova Iorque, por exemplo? Por viver longe das cidades cosmopolitas, por que razão não poderei ter acesso ao cinema alternativo do Magrebe, por exemplo? Depois destas problemáticas resolvidas é que se poderá discutir a forma de como fazer chegar a cultura a todo o mundo e todas as pessoas. A partir deste ponto, a Internet desempenha um papel fundamental. Pagamos impostos por tudo e mais alguma coisa. Seria bem mais útil pagar um imposto aquando da subscrição de um serviço de Internet que servisse para pagar os direitos de autor, tal como se paga a taxa de audiovisuais que afinal só serve a RTP.



As editoras não se mostram interessadas porque, agarradas à velha forma de fazer dinheiro, não tentam ajustar-se aos novos tempos. Entretanto, o circuito musical alternativo ganha cada vez mais adeptos (Veja-se o Festival de Paredes de Coura deste ano). O administrador da Universal em Portugal, ToZé Brito, deu, há pouco tempo, uma entrevista em que alega que os atentados de Madrid foram financiados por capitais vindos da pirataria musical. Estas palavras, vindas de um agente da Polícia Judiciária ou de luta antiterrorista até têm a sua razão de ser, mas vindas de um responsável por uma editora musical são suspeitas e provam o desespero e o fraco empenho destas em resolver a questão. Será que os todos jovens que fazem download ilegal na Internet são potenciais terroristas? No período de juventude deste administrador, era muito comum gravar discos vinis para as cassetes áudios. Alguém foi preso por tal infracção, como ele recomenda agora para os jovens deste século?



No final de Julho, a ASAE encerrou três sites portugueses de partilha de ficheiros, dos quais o famoso btuga.pt. A PJ, por intermédio de uma inspectora muito entusiasmada na televisão, deixou em aberto a hipótese de investigar os quinhentos mil utilizadores desses sites. Tal pena não o ter feito. Provavelmente, teria descoberto que muitos desses utilizadores são filhos de pessoas influentes na vida pública portuguesa ou até, quiçá, da própria PJ.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

www.ptnext.com

Vão lá fechar este :)

11:48 da manhã  

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