Cansado da SATA
Para que os Açores tenham uma boa afluência turística, quer por parte de estrangeiros, quer por parte dos portugueses continentais, é preciso uma promoção forte, adequada aos nichos de mercado pretendidos e com base no potencial de casa ilha ou grupo de ilha.
Dito isto – o que acaba por ser uma redundância, visto ser tão óbvio –, foi com alguma perplexidade que vi no noticiário da RTP-Açores uma reportagem na qual se alega que a SATA disponibiliza uma promoção especial para os americanos da base militar da Terceira. Esta promoção consiste na venda de passagens aéreas a um de preço de oitenta euros mais taxas, da Terceira para qualquer ilha do arquipélago. Qualquer solução proposta pela SATA para captar turistas e desenvolver o turismo nos Açores é bem-vinda. Contudo, neste caso, tendo em conta a forma como a reportagem foi efectuada, aquilo mais parecia um caso de polícia, pois esta promoção está nos segredos dos deuses o que levou o jornalista fazer-se passar por americano junto dos operadores da companhia aérea para confirmar a veracidade deste facto. A primeira dúvida incide sobre o porquê de tanto secretismo. Haverá algum receio em publicitar esta promoção? Se há, por que razão? Mesmo que a SATA alegue que esta operação é experimental daí a sua não divulgação, por que razão as agências de viagens não tinham conhecimento e nem participam quando se sabe que estas também propõem campanhas especiais, mas com preços menos competitivos, no mesmo objectivo de atrair turistas americanos. Não estaremos nós a assistir a uma espécie de concorrência desleal quando, na verdade, a companhia aérea açoriana é de interesse e obrigações públicas?
A principal razão da existência da SATA é para servir os açorianos. Mas o que se vê não é bem assim. As ilhas mais pequenas têm-se queixado da insuficiência de ligações aéreas. Um dos motivos é por haver falta de aviões. Porém, a SATA opera entre o Funchal e Porto Santo recebendo indemnizações bem chorudas por parte do Governo da República. Agora, percebe-se a razão de haver poucos voos. O líder do PSD Açores, Costa Neves, propôs a instituição de uma tarifa especial nas viagens para os emigrantes que vivem nos Estados Unidos e no Canadá. Para além de aproximar famílias açorianas separadas pelo American Dream, estes emigrantes são muito rentáveis a nível económico. Quando Carlos César esteve junto das comunidades açorianas em Junho, acompanhando o Presidente da República, teve o descaramento de fazer a mesma proposta como se fosse o primeiro a descobrir a pólvora. Os jornalistas foram todos atrás, esquecendo-se que esta proposta já tinha direitos de autor. De regresso aos Açores, afinal o presidente da SATA, António Cansado, disse que não era possível. O Presidente do governo, apesar de chefiar o maior accionista do grupo, anuiu e o assunto morreu aí mesmo. Para isto, duas considerações. Primeiro, é injusto falar de uma oposição frouxa e de um líder de oposição que não cativa quando temos jornalistas que não sabem fazer devidamente o seu trabalho. Segundo, este é um exemplo de demagogia pura. Junto dos emigrantes, diz-se coisas bonitas e as pessoas batem palmas porque ainda acreditam nas palavras dos governantes; de volta à terra, afinal não é bem assim.
Os governantes têm de ter consciência de que as pessoas andam informadas e não são tão ignaras quanto imaginam. Estas situações descritas fazem pairar no ar uma sensação de engano e de injustiça. Existe pouca clareza nas políticas de transporte, sejam elas aéreas ou marítimas. Alias, não é só o governo regional que demonstra pouca transparência neste assunto, os próprios deputados do PS, nomeadamente os da Terceira, são sempre relutantes quando aparecem iniciativas com o intuito de trazer mais aviões para a ilha. Vá-se lá saber porquê. Eles, melhor do que ninguém, saberão explicar aos seus conterrâneos por que razão, neste e noutros assuntos, a ilha que representam e pela qual foram eleitos não está no cimo das suas prioridades.
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