Novo ano lectivo, novo ano político
Neste novo ano lectivo que esta semana principia um pouco por todo o país, avizinham-se grandes mudanças no que concerne a vida dos professores. A imprensa dá conta dos 45 mil docentes que ficam fora do sistema escolar sem, no entanto, mencionar os que, felizmente (fortuitamente?), ficam dentro. Para estes, as regras do jogo mudaram substancialmente. Se nos Açores o novo Estatuto de Carreira Docente não contempla as duas abominações do continente que são as cotas na ascensão da carreira e o cargo de professor titular, a Secretaria da Educação e Ciências também quer que os professores sejam avaliados pelo seu desempenho e premiados pelo mérito. Esta avaliação, se bem que subjectiva e sujeita a influências de terceiros, pode melhorar o ensino e até seleccionar os melhores docentes, excluindo aqueles que decididamente não servem os interesses dos alunos.
Mas, e tem de haver um mas, a lei regional só foi publicada a 30 de Agosto deste ano (por que razão as leis complicadas saem em datas tão inoportunas?) e todos os intervenientes neste processo andam bastante perturbados, pois a aplicação é imediata e as dúvidas e os receios amontoam-se a cada dia que passa. Se algumas escolas açorianas já se precaveram e decidiram instituir progressivamente as novas medidas, outras acumulam ainda mais dificuldades. Em Angra, com o atraso nas obras de construção, a nova escola de São Carlos não abriu. Se em Maio havia 90% de hipóteses de abrir na data prevista para este Setembro, e não aconteceu, agora a abertura foi relegada para Janeiro de 2008. Entretanto, à boa maneira portuguesa, improvisa-se e, inspirada pela fórmula do champô dois em um, a Secretaria decidiu colocar todos os alunos e todo o pessoal docente e não docente da nova escola nas instalações da Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade, de Angra. Como diz a sobejamente conhecida expressão: “tudo ao molhe e fé em Deus”. Claro que a escola nova – que era para abrir agora – é uma obra recheada de novidades infraestruturais e pedagógicas de última geração. Todavia, a pressa nunca foi boa conselheira e seria bom que, em Janeiro, os alunos não tivessem de entrar na escola com o capacete de segurança. À boa maneira Carlos César, quando fala do aeroporto das Lajes, esta será a melhor escola da região. Para quem viva na ilha Terceira e utilize este “novo” aeroporto bem pode ter razões para ficar duplamente preocupado.
A secundária de Angra é grande mas se já no passado recente tinha dificuldades ao nível da gestão do espaço, suprindo esse handicap com o recurso aos anexos, famosos pela presença de ratos e pulgas, as coisas para este ano parecem complicar-se. Não está em causa a boa-vontade e o voluntarismo dos Conselhos Executivos das duas escolas que só fazem o que lhes mandam. Porém, quem acaba por pagar a factura são os alunos. No terceiro ciclo, cada turma vai ter entre 25 a 30 alunos Qualquer pessoa de bom senso sabe que a constituição de turmas com um número excessivo de alunos não é a melhor forma para detectar e resolver as dificuldades e os problemas de cada um deles. Mais uma vez, ao contrário desta nova mentalidade socialista que só pensa em números, deve-se realçar que um aluno corresponde a um ser humano e todos os alunos juntos ao futuro do país. A frase lapidar pronunciada pelo ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, faz hoje todo o sentido nesta era Sócrates: “Há mais vida para além do défice”.
A região autónoma tem altos níveis de insucesso e abandono escolares. Todavia, já não se debate seriamente esse assunto nem como o resolver; quer-se resultados positivos alcançados rapidamente banindo, se for necessário, a real aquisição dos conhecimentos básicos ou essenciais para os alunos. Fala-se de forma pomposa em criar oportunidades quando se devia falar em fazer batota.
A região autónoma tem altos níveis de insucesso e abandono escolares. Todavia, já não se debate seriamente esse assunto nem como o resolver; quer-se resultados positivos alcançados rapidamente banindo, se for necessário, a real aquisição dos conhecimentos básicos ou essenciais para os alunos. Fala-se de forma pomposa em criar oportunidades quando se devia falar em fazer batota.
Ao receber os alunos, neste novo início de ano, os professores sentir-se-ão nervosos. Mas não se tratará daquele nervoso miudinho saudável de responsabilidade, será mais o nervoso associado ao medo do desconhecido e da dúvida.
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