2008: vida nova?
A alternância no poder é algo de fundamental em democracia. A eternização no desempenho de cargos governativos é sempre perigosa para um Estado de Direito, pois o vício e a tendência para o compadrio instalam-se, cegando os governantes no verdadeiro exercício das suas funções. Nas reformas que o governo socialista tem empreendido, aquela que realmente irá contribuir para dar maior saúde democrática ao país é a da limitação de mandatos nos diversos poderes políticos. Mas é preciso uma alternativa de confiança para oferecer aos cidadãos…
Nas eleições internas do PSD/Açores, os candidatos à liderança disputaram com elevação e sempre com respeito um para com o outro. Não se espera outra coisa de pessoas com formação intelectual e cultural superior, contudo, tendo em conta o que se passou no partido a nível nacional, houve quem desconfiasse que o mesmo pudesse acontecer aqui.
No final de todo este processo eleitoral, há verdades que devem ser ditas para serem ponderadas pela liderança eleita.
1. O acto eleitoral, pelo número de militantes inscritos na região, teve pouca participação. Consoante as conveniências, esta situação pode ser interpretada de duas formas: os candidatos não entusiasmam, por isso as pessoas não sentem o apelo para participar de forma activa na vida do partido; ou então, tal como em eleições nacionais ou em referendos, os militantes pressentiram qual seria o resultado final, daí se terem abstido.
2. A vitória de Natalino Viveiros em São Miguel acaba por ser um problema para Costa Neves. Essa vitória representa algo de mais profundo e sintomático nas relações inter-ilhas. O bairrismo continua forte e perigoso para a coesão regional. Muitos advogam que o poder está centrado em São Miguel pelas suas inerentes condições geográficas e demográficas. Segundo esta perspectiva, a liderança só poderá pertencer a alguém originário e residente lá. Pouca importa que em nove ilhas, o candidato vencedor tenha ganho em oito! Mas mais grave ainda, esta ideia deixa transparecer que os militantes micaelenses não deram importância ao teor do discurso dos candidatos, porque só por um deles ser um conterrâneo teve o voto assegurado.
3. Independentemente de se ter discutido a próxima liderança, um partido político existe para representar os cidadãos e resolver os seus problemas numa região ou num país. A um ano de eleições legislativas regionais, a discussão ficou, a meu ver, demasiada centrada para dentro, pondo de fora a maioria dos açorianos. Comparando com a última disputa interna, que teve os mesmos candidatos, actualmente, o PSD/Açores não tem assim tantos problemas para resolver. Deve-se concentrar no seu verdadeiro adversário, a saber o Partido Socialista.
4. A falta de renovação dos altos quadros é o calcanhar de Aquiles de qualquer partido político, sobretudo se este se encontra na oposição. Fica a dúvida: será que a região é assim tão desinteressante para ninguém com valores e ideias querer ajudá-la no seu desenvolvimento? Será que o PSD/Açores não tem pessoas credíveis, competentes e carismáticas que possam dar a cara? Será que os mesmos eternos candidatos já adivinharam qual vai ser o resultado e em função disso achem que não valha a pena? Será que a juventude social-democrata tem receio ou não consegue convencer e vencer dentro do partido para se lançar? Afinal, não deixam de simbolizar a verdadeira renovação. Na verdade, o partido tem na sua liderança o melhor candidato para desafiar Carlos César.
5. Carlos Costa Neves. Vencedor indiscutível desta eleição e de há dois anos atrás. Apresentando um currículo político impressionante que o torna um dos maiores políticos açorianos vivos. Conhece o partido e a região de fio a pavio. Foi eleito democraticamente nas duas eleições. E, detalhe importante, nunca discutiu eleições contra Carlos César. Ao fim deste tempo todo destacado como figura central da oposição, tem obrigação de se apresentar como candidato à presidência do Governo Regional em 2008 e os militantes têm o dever de lhe dar essa oportunidade. Agora sim, é um líder a prazo. Se em 2008 perder as eleições só lhe restará apresentar a sua demissão como presidente do partido.
A isso se chama democracia. Quando não se atinge os objectivos propostos deve-se tirar as devidas consequências. Transpondo para os Açores, os cidadãos terão a última palavra sobre quem deve continuar com o progresso da região.
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