Premiar o demérito
1. A decisão do Ministério da Educação em anular a atribuição dos prémios aos melhores alunos do secundário a uma semana da entrega faz parte daqueles mistérios indecifráveis que abundam no mundo da ciência.
Por mais explicações que a tutela da educação tente dar, o mistério continua. Mais do que não concordar com essa decisão, a questão prende-se com o timing escolhido para a tomada da decisão: a uma semana da entrega do prémio, quando tudo estava pronto, jovens escolhidos para receberem o prémio referente ao seu desempenho escolar no ano passado. Isso não se faz. Podiam muito bem ter anunciado o fim dessa gratificação a partir do próximo ano, mas não. O Estado faltou à palavra, ao que se tinha comprometido com aqueles jovens e famílias. Esta é a primeira desilusão do Ministro Nuno Crato.
No entanto, nem tudo é mau e houve uma consequência desta acção que foi inesperada. E aposto que o Ministério não esperava isso. De repente, membros da comunidade, empresários, autarquias e particulares juntaram-se para atribuir os prémios substituindo-se, assim, ao Estado. Para quem desconfia como eu do Estado e ache a sua presença demasiado sufocante na vida das pessoas, dei por mim a emocionar-me com esta iniciativa espontânea. Por mim, é assim que a sociedade se deve reger.
Este governo tem, ideologicamente, as mesmas pretensões do que eu: menos Estado, melhor estado, mais sociedade civil, mais liberdade e responsabilidade individuais. Há quem defenda que isto é típico da Direita. Por mim, faz parte do bom senso. Mas não me importo de ser de Direita.
Contudo, por causa da crise e da necessidade em reduzir rapidamente o défice, este governo precisa de se imiscuir na vida das pessoas, aumentando-lhe impostos como nunca se viu, acabando por condicionar a liberdade das pessoas. Apoio este governo, compreendo que não tem, por enquanto, outra alternativa, mas é normal que sinta frustração pelo facto de esta estratégia contrariar a ideia de diminuir o peso do Estado na sociedade.
No caso dos prémios escolares, acho meritório que a comunidade se tenha unido, porém seria importante que esta iniciativa tivesse continuidade no futuro, cabendo-lhe, juntamente com as escolas, definir os critérios e o tipo de prémios a atribuir no futuro. Este bem pode ter sido o primeiro passo para acções de outro tipo, comprovando deste modo que o país sabe dar a volta aos problemas sem estar refém ou dependente do poder central. Isto é que é a verdadeira autonomia.
2. Por falar em mais autonomia. Há autonomias que não passaram do papel e da conversa fiada em conferências “científicas” e conversas de políticos.
Nos Açores, a autonomia das escolas não corresponde a conquista nenhuma, tratando-se apenas do simples acto de um governante definir o que é a autonomia das escolas, sobretudo aquela que lhe dá mais jeito.
Como se sabe, a autonomia atribuída às escolas açorianas vai-lhes permitir multar encarregados de educação “negligentes”, mas impede-lhes de definir as datas de reuniões de avaliações. Aqui, quem decide é a Secretaria da Educação. O argumento tem o registo literário que se atribui à ironia. Diz a tutela: “com todo o respeito pelos docentes, o sistema educativo também tem alunos e estes não podem ser prejudicados”. Supostamente, até agora os professores sempre trabalharam para si. Ainda bem que existe alguém com autoridade para repor a moral nas escolas.
Não sei em que maus exemplos se baseia a DRE para fazer tais julgamentos, mas convinha relembrar que quase todas as Comissões Pedagógicas das escolas determinaram que os alunos não podem realizar mais de uma avaliação por dia e mais de três por semana. Por isso, em termos de sobrecarga de avaliações aos alunos, estamos conversados. Como se pode depreender, não foi preciso o poder político intervir para que as escolas tomassem iniciativas de maneira a não prejudicar a aprendizagem dos alunos.
É verdade: em breve, os professores serão chamados outra vez à atenção porque não fazem nada e só têm férias. Maldita profissão. Que sorte a minha.
Correcção: Sim, o aeroporto é das Lajes. Obrigado. (tenho de me esforçar mais nas revisões de texto)
1 Comentários:
Caro amigo, o Aeroporto João Paulo II fica em São Miguel e não na Terceira. O da Terceira chama-se Aeroporto das Lajes.
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