O pequeno-almoço na escola
Sei
que, num momento de profunda crise, é por vezes necessário que o Estado seja
mais assistencialista por forma a apoiar no imediato situações de carência
social graves. Mas a iniciativa que levou a que todos os partidos recomendassem
ao Governo da República para que fosse fornecido pequenos-almoços nas escolas
deixa-me muitas reservas.
Com base em relatos preocupantes de
crianças que vão para a escola de manhã em jejum, supostamente em consequência
das medidas de austeridade, partidos como o Bloco de Esquerda defenderam que
era preciso dar esse tipo de apoio aos alunos em causa. Os partidos da Direita
ficaram sensibilizados com a ideia. Contudo, distanciaram-se quanto à forma de
pôr em prática o fornecimento de pequenos-almoços nas escolas. Pudera. Como
determinar quem realmente precisa desse tipo de ajuda?
Mas, a meu ver, a questão é mais
profunda e o fator ideológico deve ser considerado: será que cabe ao Estado dar
este tipo de ajuda? Daí a minha perplexidade relativamente aos partidos da
Direita sobre este assunto.
Antes da crise, já havia crianças a
irem de manhã para a escola sem comer. E as causas para que tal acontecesse
diziam mais respeito à falta de organização na família – há quem diga
negligência - do que propriamente à falta de comida em casa. E isto sem falar
daquelas milhares de crianças que acordam de manhã sem vontade de comer por
causa do fastio matinal.
Mas, no caso em apreço, mesmo por
causa das dificuldades económicas, os apoios sociais existentes deveriam suprir
este tipo de carências. Então, para que servem os subsídios sociais; os Bancos
Alimentares e outras instituições de solidariedade social; os apoios das
Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia; e outro tipo de auxílios cuja
existência não tenho conhecimento?
No
ano de 2012, não podemos aceitar que crianças portuguesas possam passar fome ou
sejam gravemente negligenciadas. A acontecer, devemos concentrar todos os
recursos disponíveis para que isso acabe. Mas, mais uma vez, não é dando
pequenos-almoços nas escolas. Já agora fica outra dúvida: enquanto as crianças
comem nas escolas, o que comem os pais em casa?
Sejamos
coerentes: se, por dificuldade sociais, as famílias não são capazes de dar de
comer aos seus filhos, então o Estado tem a obrigação de lhes facultar pelo
menos três refeições diárias. No mínimo. E se os pais não são capazes de criar
as suas crianças, então o Estado deve tomar conta delas.
As famílias não podem preteridas das
suas responsabilidades no que diz respeito à educação, mas sobretudo quando se
trata de facultar aos filhos todas as condições para um crescimento, no mínimo,
equilibrado. Defendo que o Estado não se pode imiscuir na vida dos cidadãos e,
neste caso, das famílias de forma tão intrusiva. Isto não é normal quando ao
mesmo tempo se defende a liberdade das pessoas, a diminuição dos impostos e a
redução do peso do Estado nas empresas e na vida das pessoas. Mais Estado
significa menos liberdade. Mas mais liberdade significa mais responsabilidade
individual.
Não nego que possa haver situações
de desespero e de miséria, mas são, claramente, exceções e certamente casos
assinalados junto das autoridades competentes. Generalizar isto para o meio
escolar é decretar o fim da responsabilidade parental e o convite à negligência
dos encarregados de educação. Não, a escola não serve para isso.
Quanto mais se quer defender o
Estado Social, mais se cria condições para acabar com ele.
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