A salvação do PSD está nos Açores
De um momento para o outro, o Governo de Portugal está em vias de ruir. As novas mediadas de austeridade romperam com a aceitação generalizada dos sacrifícios que o país tinha de fazer. Cidadãos, empresários, patrões, sindicatos, notáveis dos partidos que suportam a maioria. Todos frontalmente contra. Algo não vai bem. O Governo pode ter meses de vida.
O limite para os sacrifícios não tem uma medição certa, mas é possível inferi-lo com base nas reações da opinião pública, ou através das declarações de instituições ou associações representativas de classes profissionais, ou simplesmente através do que se publica e se diz pela comunicação social. Mas é sobretudo verificável através do aumento da pobreza e da decadência social dos portugueses. O descontentamento crescente – e perigoso - que se faz sentir tem justamente a ver a sensação de que os sacrifícios não estão a produzir os resultados esperados. O défice continua altíssimo, o Estado continua gordo, as reformas estruturais são ineficientes e nalguns casos inexistentes, e a isto acrescentam-se as polémicas com governantes que só minam ainda mais a credibilidade do governo.
Perante esta realidade, é difícil afirmar com toda a certeza que o governo cumprirá toda a legislatura. Mais ainda, é possível antever a sua queda ainda este ano aquando da votação do Orçamento para 2013. Depois de um ano e meio em funções, vê-se um governo titubeante que vacila perante a crítica e, como tal, por mais que recue nas suas propostas iniciais, acaba por levantar a suspeita de que já não sabe como conduzir o processo de reajustamento orçamental e financeiro do país. Até eu começo a duvidar do sucesso deste governo, mesmo que este proceda a uma grande remodelação ministerial.
Perspetiva-se então alguns cenários. No caso de haver eleições antecipadas, ou em razão do chumbo do Orçamento e consequente demissão do governo, ou por decisão do Presidente da República, o PS de António José Seguro ganhará as eleições. Mas sem maioria. No entanto, será de prever a necessidade de uma coligação na qual o CDS será certamente convidado. E aqui entra a questão mais polémica: como pode o CDS sobreviver ao atual governo? De facto, quem está decididamente desacreditado e em perigo em termos eleitorais é o PSD. O PSD pode ser relegado para um papel quase insignificante se este cenário se concretizar. E isto contando que Pedro Passos Coelho nem sequer se candidate por óbvias razões.
Mas a questão torna-se ainda mais bicuda. Estaria o PS disposto a coligar-se com o CDS de Paulo Portas? Obviamente, nem sequer me refiro aos outros partidos de esquerda porque refutaram desde o início a intervenção da Troika, o que tornou a sua colaboração impossível. De um momento para o outro, perante estas possibilidades, mesmo que remotas mas não impossíveis, surge na memória o impasse político por que passou a Grécia. Assim, há fortes possibilidades de Portugal se tornar uma nova Grécia. Sabemos o quanto é suicida.
Qualquer militante ou simpatizante do PSD está profundamente abalado com o que se passa no Governo de Passos Coelho. É fácil atirar a toalha ao chão. Mas não devemos desistir. Por mais ressentimento que se tenha em relação a Passos Coelho, a queda do Governo pode ter repercussões ainda mais graves. Por isso, é preciso acreditar que nas próximas semanas haverá espaço para corrigir os erros cometidos.
Nos Açores, percebeu-se que o PSD regional não se revê nas medidas da República e pretende, ao invés, encetar por um outro caminho com vista ao controlo das contas regionais. Passar parte da austeridade da Região para as instituições políticas açorianas é moralmente correto. Apostar na revitalização do mercado interno com o intuito de depender menos do exterior é uma aposta financeira certeira e apostar no turismo pela via da redução dos transportes aéreos é economicamente sensato.
É lógico que a aposta na exportação é uma necessidade vital para Região, mas não cabe ao Governo dos Açores decidir que estratégias adotar. Quem exporta são as empresas. Por isso, o próximo governo deverá facilitar - em termos fiscais e no apoio ao investimento e até na promoção - o processo de exportação, mas nunca intrometer-se. Aliás, o triste exemplo da exploração turística por parte do governo socialista é prova disso.
Ao vencer as eleições, Berta Cabral poderá mostrar como a social-democracia funciona quando tem pés, tronco e membros; quando se tem um rumo, uma estratégia de longo prazo com base na matriz ideológica do PSD.
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