Um novo ciclo para a Educação
Após a reunião com o Presidente do
Conselho Nacional da Educação, Vasco Cordeiro declarou que as políticas para a
Educação precisam de evoluir uma vez que a fase das grandes obras escolares
chegou ao fim. Comparativamente com outras regiões do país, os alunos e as
escolas dos Açores ainda continuam com resultados insatisfatórios. Este será um
dos grandes desafios para este novo ciclo político.
Para entrar num novo ciclo educativo
é preciso avaliar o que foi feito até agora. É preciso manter os aspetos
positivos alcançados - do estatuto do professor às questões ligadas aos
currículos escolares - e reformular os aspetos que se revelaram negativos sem
qualquer constrangimento ideológico.
No entanto, há um pressuposto que se
deve ter em conta. Num momento crítico para Portugal onde finalmente se pretende
debater as funções do Estado, os Açores não podem ficar fora dessa discussão e
mais: têm, neste novo ciclo, a oportunidade de redefinir aspetos estruturais do
“Estado” da Região. E aqui entra a pasta da Educação.
Parte do insucesso dos nossos alunos
se deve a questões culturais e sociais. Numa região eminentemente pobre, onde a
escolaridade das famílias é, no geral, baixa, o insucesso e o abandono
escolares tendem a ser igualmente proporcionais. As políticas educativas
deverão então passar por garantir um ensino que crie oportunidades com base na
expetativa dos alunos, nas necessidades económicas da Região com base na sua
capacidade financeira.
Um ensino que se quer gratuito e
obrigatório deve sê-lo na sua plenitude e não para constar da Constituição. Por
isso, é inconcebível que se alargue a escolaridade obrigatória até aos dezoito
anos, cabendo aos pais o dever de financiar os respetivos custos. Não se trata
aqui de uma questão social, onde basta disponibilizar dinheiro aos mais
carenciados para resolver o problema. Trata-se do princípio da universalidade.
Numa ideia nada original, já praticada
na Alemanha ou na França, defendo que o ensino obrigatório deve ser gratuito
para todas as crianças e jovens independentemente da sua proveniência social.
Sejam ricos ou pobres, o Estado deve custear todas as despesas. Como exemplo,
os manuais escolares devem ser gratuitos e fornecidos pelas escolas, sob a
forma de empréstimo, a todos os alunos e em todas as escolas. Os escalões devem
manter-se para a aquisição do material escolar, no transporte e nas cantinas.
Mas, atenção, todas as famílias devem usufruir desse apoio social.
Em termos curriculares, a aposta no
ensino profissional é crucial para aumentar as probabilidades de os alunos
terem sucesso no futuro, mas ela deve ter um enquadramento mais lato, não se
cingindo apenas às escolas profissionais. As básicas devem ter condições
físicas e humanas para fornecer um ensino pré-profissionalizante. Ensino este
que deve ser facultado aos alunos a partir dos seus catorze anos, ou por opção
própria, ou resultante dum insucesso escolar recorrente ou dum absentismo
preocupante. Antes dessa idade, omisso o Ensino Especial, qualquer currículo
alternativo é gerador de discriminação negativa.
Até lá, a escola terá por missão
identificar rapidamente quais os alunos com dificuldades de aprendizagem e
criar estratégias de acompanhamento e de reforço da aprendizagem que passam por
uma maior individualização do ensino. O ensino deve ser orientado não em função
de utopias, mas sim em função da “matéria-prima” que se tem. Isto é, não se
pode querer só doutores e engenheiros. Precisamos de uma mão-de-obra
qualificada, diversificada e altamente especializada. O ensino
técnico-profissional será a resposta adequada para a maior parte dos jovens
açorianos.
Não
podemos continuar a “fabricar” licenciados para o desemprego; não podemos
continuar a ter alunos que preferem ajudar os pais na lavoura ou, pior, ficar
em casa porque a escola é uma seca. É preciso responder com a ferramenta certa que
passa por adequar a escola às expectativas dos alunos.
Mas
isto implica muitos gastos. Por isso, continuo a achar que o alargamento da
escolaridade obrigatória foi como atirar a bola para frente, não tratando do
essencial. Para que serve ter alunos desmotivados, faltosos e indisciplinados
até aos dezoito anos? Talvez se devesse reponderar esta questão.
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