Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, maio 14, 2006

Que sorte ter nascido num país livre


A miséria rodeia-nos. Quer esteja a milhares de quilómetros, quer esteja a centenas de metros de nós, a miséria não tem nacionalidade, nem se submete a qualquer regime político. Esteja ela numa ditadura ou numa democracia, a miséria é sempre a mesma. No entanto, uma dúvida: qual é a melhor? A miséria num país totalitário ou a miséria num país livre?

O melhor seria não haver miséria. Resposta politicamente correcta, mas totalmente irreal. Porém, pior que viver miseravelmente, é viver num país em guerra, onde ser pobre acaba por ser um pormenor. Ninguém escolhe onde nasce, ninguém escolhe os seus pais. Neste mundo, muitas crianças parecem ter sido amaldiçoadas logo à nascença.

Darfur, região do Sudão. Segundo a ONU, há, neste conflito de origem étnica, 180 mil mortos a registar, mas há quem contabilize 300 mil. Eis o novo genocídio do século XXI. Por mais que se diga e se escreva “nunca mais”, enceta um novo conflito e só depois da tragédia ter ocorrido é que se contabilizam os mortos e se enviam forças especiais pacificadoras. Pode-se pensar que por ser um país pobre, com poucos recursos, não fomenta interesse por parte da comunidade internacional. Mas não, o Sudão até tem recursos petrolíferos, como também minas de ouro. A opinião pública só reage depois das reportagens e opiniões publicadas fazerem o alarido suficiente para que ela reaja. Este artigo de opinião é o resultado desta relação entre a imprensa e o cidadão comum. A obrigação dos estados soberanos e democráticos é o de usarem os seus serviços diplomáticos e até de espionagem para impedir que massacres em massa não se concretizem. Todavia, é, muitas vezes, por pressão da opinião pública que os governos tomam medidas. Como se explicou, este tipo de reacção vem sempre tarde.

No mundo globalizado em que vivemos, é impossível não dar importância àquilo que acontece num país desconhecido, do outro lado do mundo. Os aumentos e a escassez de recursos energéticos, devido a conflitos que nos são totalmente alheios, condicionam a nossa vida; as guerras civis e a extrema pobreza de certas nações aumentam o fluxo de imigração ilegal para os países mais ricos. Nesses países ricos, os cidadãos ficam impacientes, pois a situação social não é a melhor tendo em conta o patamar de vida que têm. Em consequência, reclamam um maior rigor na entrada de estrangeiros. Na verdade, o racismo continua cada vez mais forte. A democracia permite a expressão livre dos pensamentos individuais; garante direitos de todo o género, mas os deveres são muitas vezes esquecidos ou relativizados. A liberdade implica responsabilidade. E é neste ponto que se sente que viver em liberdade tem um preço. O preço da liberdade implica mais liberdade para uns e menos para outros. Por exemplo, aquilo que muitos consideram ser invasão de privacidade quando se colocam câmaras nas ruas de uma cidade é, para outros, a salvaguarda do direito a circular livremente sem se ser assaltado. Mas a quem interessa a liberdade se não se tem a certeza de chegar a casa são e salvo no fim do dia. A quem interessa a liberdade quando se deve andar de colete e num carro blindado no meio da rua? A quem interessa a liberdade se não há segurança?

As desigualdades entre as pessoas sempre existiram e sempre existirão. Podem ser atenuadas, mas nunca apagadas. Em democracia, defender tratamento igual para quem é diferente constitui uma blasfémia contra quem menos pode. Cria-se uma expectativa impossível de realizar. Mas o que um país livre deve fomentar é a igualdade de oportunidades. Qualquer cidadão deve ter o direito a aceder aos melhores cuidados médicos, às melhores escolas, a melhor protecção judicial e social. Se a riqueza é por si um estatuto de vida que se perpetua pelas gerações, a miséria não o deveria ser.

Na actual crise em que o país se encontra, os únicos actos de benevolência residem em parcas esmolas e ajudas ao Banco Alimentar contra a Fome. O pouco dinheiro que resta serve para pagar empréstimos bancários ou de outro tipo. E as viagens ao Brasil? Perguntar-me-ão. Um condenado, antes de morrer, tem direito a gozar a sua última refeição. A luta a favor dos direitos adquiridos é tão legítima como a luta para a sobrevivência de qualquer povo oprimido. Esta liberdade e este bem-estar de que desfrutamos têm, nas suas origens, séculos de luta. Por vezes, ganha-se a paz com a guerra.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

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3:05 da tarde  

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